Tecnologia traz um pouco de conforto na abstinência de contato na pandemia
Por Natalie Rosa | 30 de Junho de 2020 às 18h35
Você, que está respeitando a quarentena, se lembra da última vez em que beijou ou abraçou alguém que não mora na mesma casa? Desde março deste ano, quando a propagação do novo coronavírus foi declarada como uma pandemia, muitos aspectos sociais vêm sendo adaptados ao isolamento social, com muitos até chamando tudo isso de "o novo normal".
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Felizmente, hoje, temos a tecnologia necessária para isso, mas alguns detalhes envolvendo a intimidade acabam ficando para trás, uma vez que o contato humano não é a melhor opção para o momento. Um de nossos cinco sentidos, o tato, vem se tornando raridade nestes poucos meses, que já parecem uma eternidade. Depois de tanto tempo, conversas em vídeos ou em palavras já não têm mais a mesma intensidade, e este tipo de interação acaba se tornando algo comum, sem novidades ou novas emoções.
O toque passou a ser um tabu e a gerar medo, seja de encostar em um carrinho de compras ou em um corrimão. O sentimento de tocar nesses objetos, sem se preocupar com as bactérias que possam existir por lá, possivelmente não será mais o mesmo. Enquanto acontece essa adaptação do presencial para o tecnológico, muitas pessoas físicas e empresas acabam descobrindo que para muitos encontros não há a necessidade de ser cara a cara fisicamente. Alguns empregos conseguem ser conduzidos perfeitamente em home-office, assim como as reuniões de trabalho, trazendo uma sensação de conformismo.
Nunca se usou tanto aplicativos de conversas a distância, como o Zoom ou o próprio FaceTime, nem mesmo tantas reuniões online foram feitas ou ainda tantas aulas foram transferidas para a tela do computador ou do celular. A conexão, que não vem sendo mais sensorial, é possível graças à voz e vídeos, fazendo com que as pessoas se sintam próximas, mesmo que distantes.
Qualquer possibilidade de ver uma pessoa diferente, em nossa frente e em tempo real, se tornou um grande espetáculo. Aplicativos como o Zoom ainda contam com ferramentas que podem deixar essa nova interação mais divertida, como inserindo diferentes fundos e cenários, possibilitando o uso da criatividade como uma forma de aproximação.
Até mesmo o Facebook adicionou uma nova reação às publicações dos usuários, que agora podem optar por curtir, amar ou abraçar, na hora de demonstrar carinho ou empatia. O emoji é um clássico "smiley" abraçando um coração, sendo definitivamente uma opção mais calorosa do que apenas um "joinha" azul.
Mas a pandemia deu espaço de verdade a outra plataforma, que antes costumava atrair apenas os mais jovens, mas que hoje já recebe público e usuários de todas as idades, que criam conteúdos das mais diversas formas possíveis: o TikTok. Em abril, cerca de um mês após o início da quarentena, a rede social comemorou a conquista de dois bilhões de downloads no mundo inteiro. Já que não era possível sair para a rua ver rostos diferentes, hoje os internautas se divertem vendo pessoas desconhecidas fazendo desafios, dublagens ou, até mesmo, ensinando alguma coisa.
Infelizmente, o conforto da adoção da tecnologia no suprimento da necessidade pela intimidade humana é passageira e, assim que se tornar muito comum, o efeito não será o mesmo. Cabe às empresas de tecnologia se se reinventarem e trazer novas formas de intimidade que possam se assemelhar com as sensoriais, ou que estejamos prontos para nos adaptarmos ao novo comum, que não tem nada de normal.
Fonte: Wired