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Por que 98% das mulheres não menstruavam nos campos de concentração nazistas?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Setembro de 2022 às 10h08

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NomadSoul1/Envato
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Após chegarem aos campos de concentração do nazismo, a maioria da das mulheres judias parava de menstruar e não conseguia mais engravidar. Durante anos, o porquê desse comportamento foi discutido e se explicava a questão pelo trauma sofrido e pela desnutrição. No entanto, um estudo canadense traz uma nova perspectiva: as vítimas do regime nazista recebiam esteroides sintéticos (hormônios) em sua alimentação diária.

Publicado na revista científica Social Science & Medicine, o estudo sobre as mulheres que deixavam de menstruar — e, em alguns casos, nunca puderam engravidar — foi liderado pela pesquisadora Peggy J. Kleinplatz, da Faculdade de Medicina da Universidade de Ottawa, no Canadá. O artigo acrescenta mais uma camada aos desdobramentos do holocausto, que matou seis milhões de judeus.

Segundo o estudo, as explicações sobre o que levou 98% das mulheres a pararem de menstruar nunca foram devidamente investigadas. Para Kleinplatz, a interrupção repentina da menstruação era uniforme demais para ser efetuada apenas por trauma e desnutrição.

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Vale explicar que a interrupção e a ausência da menstruação, de forma científica, recebe o nome de amenorreia. No caso das vítimas do holocausto, seria uma amenorreia secundária, já que essas mulheres menstruavam antes deste ponto traumático.

Por que as mulheres paravam de menstruar no campo de concentração nazista?

Para levantar a nova hipótese, a pesquisa da Universidade de Ottawa combinou evidências históricas e testemunhos de sobreviventes do Holocausto. A partir desses relatos, é que se chegou a possibilidade de que esteroides sintéticos eram acrescentados diariamente nas porções de alimentos que as mulheres judias recebiam nos campos de contração nazista. Os remédios estavam diluídos nas refeições.

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No estudo, é importante destacar que "esse início súbito de amenorreia não ocorreu lentamente em combinação com fome e trauma durante um período de 12 a 18 meses”, afirma Kleinplatz, reforçando a hipótese da causa da infertilidade ter sido quimicamente induzida, em comunicado.

Vítimas do holocausto tiveram problemas de fertilidade

Para além da vivência no campo de contração, a infertilidade acompanhou a maioria das mulheres judias. “As taxas de infertilidade primária, infertilidade secundária, aborto espontâneo e natimorto eram perturbadoramente altas e não estavam de acordo com a população em geral e nem com a população geral de judeus, durante os anos do baby boom”, detalha Kleinplatz.

Na pesquisa, foi possível identificar apenas 197 gestações confirmadas de mulheres que passaram pelos campos de concentração. Do total, 48 (24,4%) terminaram em abortos espontâneos, 13 (6,6%) em natimortos e 136 (69,0%) em nascidos vivos. Só que a maioria não conseguiu engravidar, segundo o estudo.

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"As narrativas dos sobreviventes e as evidências históricas sugerem o papel dos hormônios exógenos, administrados sem o conhecimento das mulheres, para induzir amenorreia e subsequente infertilidade primária e secundária", completam os autores.

Fonte: Social Science and Medicine e uOttawa