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Não era sarna! Surto misterioso de Pernambuco foi causado por mariposas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 08 de Dezembro de 2021 às 17h01

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DerWeg/Pixabay
DerWeg/Pixabay

Nas últimas semanas, supostos casos de sarna (escabiose) foram identificados em uma área de reserva de mata Atlântica do Parque Estadual de Dois Irmãos, em Recife, no estado de Pernambuco. Só que essa hipótese nunca chegou a ser confirmada. Agora, médicos da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) esclarecem que as dermatites foram causadas por fragmentos de mariposas da região.

De acordo com a Secretária Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), mais de 480 casos da dermatite, sem causa definida, foram notificados na região. Após os estudos dos dermatologistas Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Junior, foi possível concluir a causa real do surto.

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Em nota técnica da SBD, os médicos explicam que as irritações que provocam coceira e as lesões na pele foram causados por fragmentos da área abdominal de um tipo de mariposa, do gênero Hylesia.

Quando voa em torno de focos de luz, o inseto libera cerdas corporais minúsculas. Os fragmentos da mariposa conseguem penetrar, de forma profunda, na pele humana. Em contato com o organismo, podem causar uma intensa dermatite.

Não era sarna

Para justificar o misterioso surto de Pernambuco, inúmeras hipóteses foram levantadas. Além da escabiose (sarna), foram investigados possíveis casos de intoxicação por ivermectina e picadas de insetos, por exemplo. No entanto, nenhuma obteve comprovação técnica ou científica.

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“A hipótese de escabiose era absurda, pois o tipo de transmissão é outro, a distribuição e aspecto das lesões cutâneas eram distintos e nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame direto e exames histopatológicos”, detalham os dois especialistas, em nota.

A resposta ao surto misterioso

Durante os estudos, os dermatologistas rastrearam e identificaram as causas de mais de 200 casos de dermatites registrados no estado de Pernambuco. Por fim, foi confirmado que o problema tem relação com fragmentos liberados pelas asas de mariposa.

Só que este não foi um caminho fácil e nem a resposta era simples. Na nota técnica, os pesquisadores contam que o surto de dermatites pápulo-eritêmato-pruriginosas, com aspecto urticariforme, desafiou os serviços médicos locais.

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Como foi possível identificar as mariposas?

Para identificar as causas reais do surto, a dermatologista Cláudia Ferraz conduziu uma pesquisa sobre a história epidemiológica correta e procurou descrever, de forma mais adequada possível, as lesões encontradas nos pacientes. Do outro lado, Vidal Haddad Junior esclareceu a etiologia da erupção.

Nesta época do ano, as mariposas do gênero Hylesia se reproduzem e podem causar epidemias de dermatites em vários pontos do país. Isso porque, quando entram em ambientes domésticos e ao se debaterem contra focos de luz, liberam cerdas que causam irritação na pele humana.

“Com a comprovação das cerdas no exame direto, história clínica e epidemiológica extremamente compatível e relato de mariposas no local feito pelos moradores, concluímos que o mistério está resolvido e esperamos que os tratamentos corretos sejam ministrados à população”, destacam os médicos.

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Existe tratamento?

Além da inflamação inicial, existe a probabilidade de formação de granulomas — espécies de nódulos — em fases posteriores. A dermatite permanece por dias e até semanas, devido à permanência das cerdas (“flechettes”) na pele, lembrar os pesquisadores.

Inclusive, estas cerdas podem ser observadas na pele e exames realizados as mostraram com clareza. Os exames são parte importante da identificação e confirmação do caso.

Segundo os especialistas da SBD, o tratamento é feito com foco na inflamação com corticoides tópicos e anti-histamínicos e, por vezes, dependendo da extensão das lesões, o uso de corticoides sistêmicos pode ser necessário.

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Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia