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COVID-19: é hora de voltar para a escola? Infectologista pediátrica responde

Por| 25 de Setembro de 2020 às 18h00

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Manuel Darío Fuentes Hernández/Pixabay
Manuel Darío Fuentes Hernández/Pixabay

Desde o final de março, crianças e jovens estão afastados, fisicamente, das escolas por causa das medidas distanciamento impostas pela COVID-19. De lá para cá são cerca de seis meses sem as aulas diárias, sentados nas carteiras, ao lado dos colegas de classe e professores. Por outro lado, as lições se tornaram todas virtuais e o ensino não parou para os alunos que podem acompanhar. Agora, muitas autoridades e pais se perguntam se é hora dos filhos voltarem à escola.

No Brasil, algumas cidades e estados já autorizaram a reabertura das escolas, após apresentarem níveis baixos de transmissão do novo coronavírus (SASR-CoV-2). No entanto, essa autorização não significa que todos os espaços estão em pleno funcionamento. Isso porque se trata de uma decisão complexa e que precisa envolver o amplo diálogo com todas as partes, como autoridades públicas, médicos, professores, pais de alunos, os próprios alunos (quando puderem) e outros profissionais relacionados. Entre as manifestações sobre o assunto circulam nas redes tanto abaixo-assinados para a retomada imediata das aulas quanto pedindo o contrário.

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Questões médicas sobre o retorno das aulas

Para entender parte dos desafios que envolvem o retorno as aulas presenciais, o Canaltech conversou com a médica Luciana Becker, infectologista pediátrica no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e médica do Hospital Israelita Albert Einstein. "No contexto ideal, fizemos a quarentena para conseguir achatar a curva, preparar a capacidade de leitos e, agora, estamos em um momento de queda na taxa de transmissão e de reabertura da economia [como bares e shoppings]. Então, é mais que o momento de pensarmos na volta das escolas", aponta Becker.

No entanto, a reabertura não deve ser generalizada e, sim, calculada de acordo com os dados do coronavírus na região. "Quando falamos em abertura, ela precisa ser muito particularizada para cada situação epidemiológica. É impossível falar de Brasil quando falamos de abertura. Talvez, em São Paulo, pelo seu tamanho, seja impossível falar de cidade, também. A situação epidemiológica é muito diversa dependendo da região", lembra a médica.

De acordo com a infectologista, "não temos trabalhos dizendo quais atividades têm maior risco ou menor risco de se contrair coronavírus, o que sabemos é sobre a prevenção da COVID-19". Com isso em vista, Becker entende que o retorno é possível, a partir de protocolos bem estabelecidos. Entre eles, "a escola deveria ser um ambiente livre de pessoas sintomáticas, é crucial o afastamento de todos que apresentem qualquer sintoma associado ao coronavírus. Na medida do possível, deve haver distanciamento, uso de máscaras, higienização das mãos e ventilação das salas".

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"Nesse cenário, conseguimos minimizar ao máximo o risco de contaminação dentro dos ambientes escolares", explica a pediatra. O desafio para as autoridades públicas e as escolas serão, então, conseguir adotar as formas adequadas de proteção. Na formulação das políticas públicas é preciso entender se todas as escolas terão amplo acesso à agua e sabão para higienização e espaço para o distanciamento, por exemplo.

Especificamente sobre as máscaras, Becker defende que não há uma resposta pronta para o seu uso. "O uso de máscaras é uma discussão muito importante, porque não tem evidências científicas para se tomar essa decisão [a partir de quantos anos uma criança deve usar máscaras]". Uma das soluções é "avaliar individualmente e treinar as crianças e, se elas estiverem usando de forma adequada, vale a pena manter o uso", afirma.

Mesmo com todas as medidas e protocolos estabelecidos, a realidade do coronavírus pode se mostrar diferente do que o esperado, ainda mais se tratando da volta do convívio entre crianças e jovens. "Vamos partir de um cenário onde as crianças estavam trancadas em casa e vão ser expostas. Agora, a grande questão é qual é a gravidade", explica a infectologista.

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Crianças e adultos nas escolas

Especificamente em relação às crianças, "é possível que tenham casos, mas a incidência de casos graves em crianças é infinitamente menor do que em adultos", pontua Becker. "As crianças têm uma taxa um pouco maior do que os adultos de casos assintomáticos. Há uma grande quantidade de manifestações leves e, mesmo nos casos internados, o óbito é um evento muito mais raro do que é nos casos de adultos. De forma universal, a taxa de mortalidade em crianças é de 0,1%, enquanto a taxa de mortalidade em geral é por volta de 3,5%", explica.

Por outro lado, ao se pensar em retomada das aulas, é preciso considerar todos os outros profissionais envolvidos nesse processo, como profissionais de limpeza, manutenção e os próprios professores. Há riscos de contágio ainda mais se pensando que muitos casos da COVID-19 em crianças são assintomáticos, ou seja, sem sintomas, dificilmente os pais descobrirão a infecção por coronavírus.

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No entanto, Becker lembra que "é muito mais fácil você treinar um adulto do que treinar uma criança. E, realmente, as medidas de proteção exigidas para os adultos devem ser diferentes. É essencial o afastamento dos grupos de risco". Importante ressaltar que, entre os grupos de risco para a COVID-19, segundo o Ministério da Saúde, há pessoas com mais de 60 anos e/ou quem têm doenças pré-existentes, como cardiopatia, diabetes e obesidade, por exemplo.

Como estão as aulas pelo Brasil?

No estado de São Paulo, a partir do dia 7 de outubro, ocorrerá a volta das aulas presenciais tanto nas redes públicas quanto privadas, desde que a região esteja com o número de novos casos da COVID-19 controlado e estável. A exceção será na rede estadual que só deverá operar para os alunos do ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). No entanto, a prefeitura da capital já anunciou que, em outubro, haverá apenas a aberturas das escolas para atividades extracurriculares.

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No planejamento de reabertura das escolas em São Paulo, deve ser respeitados os limites máximos de alunos e protocolos sanitários de cada cidade. Dentro das redes privadas e municipais, a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental podem ter até 35% dos alunos por dia em atividades presenciais. Para os anos finais dos ensinos fundamental e médio, o limite máximo será de 20%. Na rede estadual, só é permitido o atendimento de até 20% em todas as etapas.

Em Minas Gerais, as aulas poderão retomar a partir do dia 5 de outubro, seguindo as estratégias definidas pelas prefeituras e escolas privadas. No entanto, a prefeitura da capital Belo Horizonte já afirmou que irá suspender os alvarás de todas as escolas da cidade, impedindo o retorno das aulas presenciais, enquanto não houver o controle da COVID-19. Também com previsão da volta das aulas presenciais no dia 5 de outubro, o estado do Rio de Janeiro decidiu suspender a retomada, por causa da alta de casos no estado.

Outro estado, o Rio Grande do Norte, planeja volta às aulas presenciais, na rede privada, a partir do dia 5 de outubro também e, por enquanto, o prazo não foi adiado. Entretanto, a rede pública está suspensa até o final de 2020 e, como alternativa para quem dificuldade no acesso à internet, há um programa de aulas transmitidas por rádio e televisão para alunos do ensino fundamental e médio. Nesse cenário, a exceção das aulas presenciais é a capital do estado, já que o prefeito de Natal autorizou o retorno físico às escolas particulares no dia 10 de setembro e, desde então, a situação permanece a mesma.

O governo do Amazonas foi o primeiro a autorizar a retomada das aulas nas escolas estaduais, ainda no dia 10 de agosto, para os alunos do ensino médio. Neste primeiro mês, cerca de 5% dos servidores que atuavam nas unidades testaram positivo para o coronavírus e foram afastados, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do estado. O retorno completo ainda não tem data definida e, nesta semana, bares e praias voltaram a fechar na capital, a cidade de Manaus.

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Embora pareça haver uma "fadiga da pandemia" — quando pessoas e funcionários públicos desejam que as medidas acabem e, assim, diminuem as restrições — é preciso discutir seriamente os riscos envolvidos na retomada e as condições de proteção que alunos e funcionários terão. Se a preocupação for o aprendizado, talvez seja o caso de investir nos modelos de educação remota, como programas para ampliação do acesso à internet e o uso estratégico de meios de comunicação, além de testar novas formas de acompanhamento dos alunos. Para o "novo normal", respostas antigas podem estar, simplesmente, obsoletas.

Fonte: Com informações de: Crescer, G1 (1) e (2)Governo de SP, Governo do RNExtra, Folha de S. PauloMinistério da Saúde