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Autoanticorpos estão relacionados com um quinto das mortes por COVID; entenda

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Setembro de 2021 às 20h20

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swiftsciencewriting/Pixabay
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Ainda existem muitas dúvidas sobre o porquê de algumas pessoas desenvolverem casos graves da COVID-19, enquanto outras passam de forma assintomática pela doença. De acordo com um novo estudo que reuniu pesquisadores de várias partes do globo, a explicação pode estar, em partes, na presença dos chamados autoanticorpos.

Se a presença de anticorpos neutralizantes representa um benefício para o organismo de uma pessoa infectada pelo coronavírus SASR-CoV-2, não é possível dizer o mesmo de quem carrega os autoanticorpos no corpo. Segundo o novo levantamento, publicado na revista Science Immunology, essas proteínas nocivas estão presentes em quase um quinto dos pacientes que morreram em decorrência da infecção.

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Curiosamente, os pesquisadores descobriram que os autoanticorpos também estão presentes em uma pequena proporção de indivíduos saudáveis ​e ​não infectados pelo coronavírus. Além disso, a presença deles aumenta com a idade, o que pode ajudar a explicar o porquê de os idosos correrem mais riscos com a COVID-19.

Afinal, o que é um autoanticorpo?

Vale explicar que os autoanticorpos são iguais aos outros anticorpos quanto às estruturas. O que diferencia os dois tipos é a finalidade de ambos, já que um ataca agentes invasores, como o coronavírus SARS-CoV-2, e o outro afeta as células e tecidos do próprio organismo.

Por exemplo, os autoanticorpos são proteínas que podem atacar tecidos saudáveis ​​do cérebro, do fígado e do trato gastrointestinal, além das próprias plaquetas do sangue. Quando eles atacam diferentes partes do organismo, este tipo de anticorpo age de forma semelhante aos que causam doenças autoimunes, como lúpus ou artrite reumatoide.

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Entenda a relação entre os autoanticorpos e a COVID

Liderado pelo imunologista Jean Laurent Casanova, da Universidade Rockefeller em Nova York, o estudo observou que cerca de 10% das pessoas com COVID-19 grave tinham autoanticorpos no sangue. Nesses pacientes, essas proteínas atacam e bloqueiam os interferons tipo 1 — proteínas do sistema imune que induzem tanto a célula infectada quanto as células próximas a produzirem outras proteínas que impedem a replicação viral.

Uma observação é que, em crianças, os interferons tipo 1 são muito mais ativos e esta é uma das explicações que justificam o fato de elas contraírem menos a COVID-19 na sua forma mais grave. É o que apontou um estudo feito por cientistas do Instituto de Saúde de Berlim (BiH), na Alemanha.

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Voltando ao estudo da Universidade Rockefeller, a equipe de pesquisa se concentrou na detecção de autoanticorpos que pudessem neutralizar os interferons tipo 1. Para isso, foram analisadas amostras de sangue de 3.595 pacientes, espalhados por 38 países, infectados pelo coronavírus e que estavam internados em uma UTI.

De acordo com os autores, 13,6% desses pacientes possuíam autoanticorpos. No entanto, a probabilidade de ter esses anticorpos nocivos no corpo aumentava com a idade. Por exemplo, a probabilidade de alguém com mais de 80 anos tê-los era de 21%. Já nos pacientes que morreram em decorrência da COVID-19, 18% apresentavam os autoanticorpos.

Autoanticorpos são a causa e não a consequência

Até então, imaginava-se que os autoanticorpos eram produzidos pelo sistema imunológico dos pacientes com COVID-19. No entanto, os pesquisadores observaram que eles não são uma consequência, mas, sim, uma das causas do agravamento da doença.

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Para examinar essa possível relação, os pesquisadores buscaram por autoanticorpos em quase 35 mil amostras de sangue de pessoas saudáveis, coletadas antes do início da pandemia. Nessa amostra, apenas 0,18% das pessoas entre 18 e 69 anos tinham autoanticorpos existentes contra o interferon tipo 1, mas essa proporção aumentava com a idade. Isso porque os autoanticorpos estavam presentes em cerca de 1,1% das pessoas com 70 a 79 anos e em 3,4% daqueles com mais de 80 anos.

“Há um grande aumento na prevalência” com a idade, explicou Casanova. “Isso explica em grande parte o alto risco da COVID grave em pessoas na população idosa”, complementa.

Diante dessa descoberta, ele sugere que os hospitais devem verificar, nos pacientes, a presença dos autoanticorpos e, caso sejam detectados, que cuidados preventivos sejam tomados. Isso poderia ajudar a recuperação das pessoas com maior probabilidade de ficarem gravemente doentes.

Para conferir o estudo completo sobre a relação dos autoanticorpos com a COVID-19, clique aqui.

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Fonte: Nature