Árvore indígena é elemento-chave para vacina da Novavax contra COVID-19
Por Nathan Vieira | 13 de Novembro de 2020 às 09h20
Com a corrida das vacinas, inúmeros países têm investido numa candidata para representar uma aliada nessa luta contra a COVID-19. Uma dessas candidatas, em especial, está sendo desenvolvida pela farmacêutica sueco-americana Novavax, e se destaca por conter um ingrediente que está em uma árvore que os indígenas mapuches usam desde a antiguidade como planta medicinal.
- COVID-19 | Voluntários da vacina da Novavax produzem alto nível de anticorpos
- COVID-19 | Vacina da Novavax será testada em 10 mil pessoas (com 25% de idosos)
- Novavax começa a testar fase 2 de vacina contra COVID-19 na África do Sul
A vacina da Novavax já começou ser testada em humanos e acaba de obter a designação para via rápida, atualmente em fase final de ensaios clínicos no Reino Unido. Neste mês, realizará seus últimos testes nos Estados Unidos, México e Porto Rico.
A árvore, chamada Quilaia, é conhecida como a "árvore de casca de sabão" por suas saponinas vegetais, moléculas que espumam quando entram em contato com a água e que se tornaram um reforço cobiçado para a resposta imune de várias vacinas (incluindo, no caso, a da Novavax).
O que acontece é que as saponinas da quilaia podem ser transformadas em adjuvantes, ou seja, substâncias que amplificam o efeito da vacina. Em entrevista à BBC News, Gregory Glenn, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Novavax, explica que os adjuvantes levam muitos anos para serem desenvolvidos e apoiam a resposta imunológica da vacina, tornando-a maior e de melhor qualidade.
Glenn afirma que esses compostos fornecem ao nosso sistema imunológico um importante sinal de alarme para reagir à vacina, e acrescenta que a resposta do nosso organismo a infecções respiratórias virais, como gripe ou COVID, tem que ser muito alta e robusta porque, apesar de termos anticorpos, ficamos doentes. Segundo ele, isso acontece porque nossa imunidade é muito baixa, ou nula — no caso da COVID-19 — para bloquear a infecção.
"É importante adicionar um adjuvante à vacina para obter uma resposta maior e que nos proteja melhor. O que fazemos é produzir uma proteína específica a partir do genoma do vírus e a introduzimos em uma partícula. Também fazemos o adjuvante (a partir das saponinas da quilaia), que introduzimos em outra partícula. Esses adjuvantes são fundamentais para o nosso corpo reconhecer a proteína e, portanto, geram uma resposta poderosa", explica o cientista.
As saponinas são encontradas em muitas plantas, mas até agora apenas as da quilaia se mostraram eficazes para a indústria farmacêutica, que após anos de pesquisas encontrou uma fórmula para transformá-las em adjuvantes que não são tóxicos para humanos. Com isso em mente, a Desert King, empresa de biotecnologia que fornece as saponinas para a Novavax, desenvolveu um processo para extrair os agentes ativos da casca e da madeira da árvore em questão transformados em pó, vendendo o material para que a Novavax fabrique suas vacinas.
Vacina da Novavax
Em agosto, a Novavax anunciou os resultados de um estudo preliminar de sua vacina experimental: esse estudo recrutou 131 voluntários saudáveis na Austrália, deu a eles um placebo ou uma das quatro doses crescentes de sua vacina e descobriu que todos que receberam o imunizante produziram um alto nível de anticorpos contra a doença.
Anteriormente, a farmacêutica assinou um acordo para receber US$ 1,6 bilhão (o equivalente a R$ 8,4 bilhões) em financiamento como parte da "Operação Warp Speed", que reúne empresas farmacêuticas privadas, agências governamentais e militares para reduzir drasticamente o tempo necessário para desenvolver uma vacina, com o objetivo de fazer doses suficientes para a maioria dos americanos.
Quando se trata de efeitos colaterais, a empresa anunciou que cerca de 80% dos voluntários experimentaram dor e sensibilidade no local da injeção, enquanto mais de 60% tiveram outros efeitos como fadiga e dores de cabeça. A maioria das reações foi leve, mas oito pacientes tiveram efeitos colaterais graves. Apesar disso, a Novavax disse, à época, que ninguém foi hospitalizado e que todas as reações desapareceram após alguns dias.
Fonte: BBC