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4 hipóteses que podem explicar os casos misteriosos de hepatite infantil

Por| Editado por Luciana Zaramela | 11 de Maio de 2022 às 14h26

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Varyapigu/Envato Elements
Varyapigu/Envato Elements

Nas últimas semanas, cerca de 20 países relataram casos misteriosos de hepatite em crianças. A questão intriga cientistas, já que ainda não foi possível concluir qual é a verdadeira causa da inflamação aguda no fígado — uma condição que é bastante rara em crianças. A hipótese mais aceita é de que o quadro seja provocado por um adenovírus (41F), responsável por causar o resfriado comum.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 348 casos suspeitos da misteriosa hepatite estão em investigação, sendo que parte significativa deles foi descoberta no Reino Unido. No cenário brasileiro, o Ministério da Saúde monitora 16 casos suspeitos.

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No momento, pesquisadores de todo o mundo e agências de saúde discutem a possibilidade da hepatite aguda grave de origem desconhecida ser causada por um dos seguintes fatores:

  • O adenovírus 41F;
  • Sequelas da covid longa;
  • Queda na imunidade devido ao isolamento social e à quarentena;
  • Toxinas em alimentos contaminados.

A seguir, confira os detalhes das quatro principais hipóteses sobre a hepatite de origem misteriosa em crianças:

1. Adenovírus

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Como os primeiros e a maior parte dos casos misteriosos de hepatite foram registrados no Reino Unido, este é o país que mais disponibiliza informações preliminares sobre a situação, que em casos extremos demanda que as crianças passem pelo transplante de fígado.

Em um relatório, a Agência Nacional de Saúde do Reino Unido (Ukhsa) explica que parte significativa das crianças estavam infectadas pelo adenovírus 41F, quando testaram positivo para a hepatite. No total, em 40 dos 53 primeiros casos positivos foi possível observar este padrão.

O que surpreende as autoridades é que infecções por adenovírus não costumam causar graves complicações. “Os adenovírus são muito comuns e geralmente não são perigosos”, explica David Matthews, professor de virologia da Universidade de Bristol, para a revista científica The Lancet.

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"Algo mudou. Ou o vírus mudou, ou algo aconteceu com os pacientes, o que significa que sua resposta ao vírus de repente se concentrou no fígado”, pondera Will Irving, professor de virologia da Universidade de Nottingham, sobre a situação. Ainda estão em análises as possíveis mutações do vírus.

Anteriormente, a OMS confirma que casos de hepatite viral já foram registrados em crianças, mas eram sempre pacientes com o sistema imune comprometido. Agora, nos novos casos, as crianças não apresentam nenhum grau de imunossupressão.

2. Sequelas da covid longa

Diante do cenário de possibilidades, é possível considerar que os quadros misteriosos de hepatite foram causados por sequelas da covid longa. Isso porque algumas das crianças já haviam sido infectadas pelo coronavírus SARS-CoV-2. Além disso, segundo o levantamento britânico, 10 pacientes estavam com covid-19 quando foram internados por causa da inflamação do fígado.

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“Talvez, a infecção prévia pelo SARS-CoV-2 esteja fazendo algo com o sistema imunológico, de modo que, quando encontra o que seria uma infecção viral perfeitamente normal e trivial, está desencadeando uma resposta prejudicial ao fígado”, reflete Irving.

3. Queda na imunidade devido à quarentena

No campo das hipóteses, ainda é possível explorar o fato de que muitas crianças pequenas — a faixa que é mais atingida pela hepatite — não tiveram a exposição habitual a esses agentes infecciosos nos primeiros momentos de vida. Isso porque, durante dois anos, medidas de isolamento e de quarentena limitaram o contato com outras crianças e adultos. Por isso, apresentariam respostas imunes diferentes que as normalmente esperadas.

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“O confinamento foi uma mudança muito dramática e enorme no comportamento da sociedade. E sabemos por exames de laboratório que, neste inverno [no Hemisfério Norte], vimos aumentos em toda uma gama de vírus, incluindo adenovírus”, detalha Irving.

4. Toxinas em alimentos contaminados

Por fim, é também avaliada a ideia de que as inflamações no fígado sejam causadas por uma toxina desconhecida, presente em alimentos contaminados. Por causa disso, o serviço de saúde britânico realiza estudos epidemiológicos que envolvem a avaliação retrospectiva do ambiente, demografia e ingestão alimentar das crianças.

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Muito provavelmente, os cientistas terão respostas mais precisas sobre as verdadeiras causas da hepatite de origem misteriosa em crianças nas próximas semanas, conforme novos dados chegam. Com isso, as similaridades dos casos estarão mais evidentes e este novo entendimento deve ajudar no tratamento das crianças diagnosticadas.

Fonte: Instituto Butantan, Ukhsa e The Lancet