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Fake news enviadas pelo WhatsApp já levaram a mais de 12 linchamentos na Índia

Por| 25 de Junho de 2018 às 10h31

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Tudo sobre WhatsApp

Pelo menos seis pessoas já morreram linchadas na Índia nas últimas semanas por causa de mensagens falsas transmitidas em massa pelo WhatsApp. Os textos são sempre alarmistas e falam sobre tráfico de mulheres, sequestro de crianças e até rituais de magia negra, sempre, claro, incitando o envio para toda a lista de contatos e, muitas vezes, motivando até mesmo atos de preconceito e ódio racial.

Um dos casos aconteceu no distrito de Balaghat, quando de 50 a 60 moradores de uma vila espancaram dois homens até a morte depois de suspeitarem que eles faziam parte de uma quadrilha de ladrões de órgãos. Pelo WhatsApp, veio o alerta de que 500 pessoas estariam se disfarçando como mendigos para localizar alvos e realizarem ataques. Os dois assassinados, entretanto, eram inocentes e a polícia afirma que não existem indícios de que um bando está trabalhando na região.

Três pessoas foram presas em relação a esse caso, sendo acusadas de ajudarem a disseminar informações falsas associadas à identidade dos assassinados. Entretanto, de acordo com o departamento de polícia do distrito onde o crime ocorreu, a disseminação das informações em alta velocidade e a criptografia do WhatsApp impedem a localização da origem do rumor, com poucas atitudes podendo ser tomadas antes que um crime aconteça. As detenções, por exemplo, só aconteceram quando policiais infiltrados em grupos conseguiram verificar alguns dos responsáveis pelos compartilhamentos.

Outra mensagem, ainda mais inflamatória, alerta para a chegada de 400 sequestradores de crianças a Bangalore, no sul da Índia. A notícia falsa levou à morte de um homem de 26 anos que havia acabado de se mudar para a cidade, uma das maiores do país, para trabalhar na construção civil. Ele foi atacado na rua por um grupo de pessoas, também sendo espancado até morrer. A polícia não sabe de onde vieram as suspeitas contra ele, mas puderam confirmar sua inocência.

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E esses são apenas os casos mais recentes. De acordo com informações da Reuters, mais de doze pessoas já foram espancadas no território indiano ao longo das últimas semanas, com todos os crimes sendo motivados por fake news enviadas pelo WhatsApp, que por um motivo ou outro acabam se tornando realidade na forma de suspeitas contra cidadãos inocentes.

Existe, também, um caráter de preconceito racial, religioso e social. De acordo com a polícia, há um aumento na disseminação de fake news entre a maioria hindu do país, disseminando ódio contra a minoria muçulmana. O mesmo também valeria para os atritos entre os sistemas de castas, com mensagens mentirosas, principalmente direcionadas a dalits, que estão na parte inferior da pirâmide social da Índia, mas tentam ascender na sociedade do país.

Mãos atadas

E enquanto os casos criminosos continuam a serem disseminados pelo país, as autoridades pedem ajuda ao Facebook, que parece conseguir fazer pouco. Afinal de contas, estamos falando do maior mercado atual do WhatsApp, com mais de 200 milhões de usuários e grande potencial para viralização de fake news. Um problema que a companhia disse estar tentando combater com “educação”.

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Em comunicado oficial, o Facebook disse que ficou sabendo dos casos pela mídia, mas não foi notificado oficialmente pelas autoridades, apesar de oficiais do governo da capital Nova Déli terem dito que estão em contato com o WhatsApp sobre o tema. De qualquer maneira, a empresa está criando campanhas de conscientização para alertar os utilizadores sobre a existência de fake news e, também, sobre formas de identificar uma informação falsa e separá-la de alertas reais.

Os dados, entretanto, mostram que esse combate de forma mais direta pode ser complicado. A criptografia do WhatsApp impede que até mesmo a própria empresa tenha acesso às mensagens, e, ao contrário do que acontece no Brasil, a maioria das fake news se espalha na Índia por meio de conversas individuais. Ou seja, nem bots colocados em grupos resolveriam a questão, já que mais de 90% do volume total de comunicação entre os usuários acontece de maneira privativa.

Medidas, entretanto, aparecerão na forma de alertas de que certas mensagens foram encaminhadas e informações sobre o potencial risco de que as informações passadas adiante sejam falsas. Apesar disso, não há qualquer intenção de mudar a forma de proteção das mensagens enviadas nem aplicar nenhum tipo de moderação automática sobre elas, pois isso significaria uma brecha na privacidade dos usuários.

O Facebook, porém, não se pronunciou sobre o assunto e, segundo a reportagem, as fake news continuam se disseminando. A campanha mais recente tem como principal alvo, por algum motivo, o consumo de lichias. A notícia falsa é de que o vírus Nipah, transmitido por morcegos e que pode levar à morte, estaria sendo transmitido para crianças por meio da fruta, recomendando a interrupção imediata do consumo.

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Não se sabe exatamente qual o intuito na disseminação desse tipo de informação mentirosa, nem com que propósito as notícias que levaram aos linchamentos também foram compartilhadas no mensageiro. As autoridades policiais afirmam estarem acompanhando o caso.

Fonte: Reuters