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Checadores de fatos do Facebook afirmam terem sido usados só para “marketing”

Por| 13 de Novembro de 2017 às 10h20

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Checadores de fatos do Facebook afirmam terem sido usados só para “marketing”
Checadores de fatos do Facebook afirmam terem sido usados só para “marketing”
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Jornalistas envolvidos na iniciativa de checagem de fatos e identificação de fake news no Facebook estão apontando o fracasso do projeto, apenas um ano depois de seu anúncio. De acordo com os especialistas, que falaram à imprensa internacional em condição de anonimato, o trabalho não possui os dados e ferramentas necessárias para ser eficaz, e enquanto as notícias falsas continuam a se disseminar pela rede social, os envolvidos começam a acreditar serem parte de uma proposta de marketing, não de mudança efetiva.

Lançado no final de 2016, quando começaram a surgir os indícios de que o governo russo teria influenciado a opinião pública durante as eleições presidenciais nos EUA, o projeto tinha diversas frentes, sendo que a principal delas seria o time especializado em checagem de fatos. Eles seriam o principal motor de uma tag chamada “Contestado”, em uma tradução livre para o português, do original “Disputed”.

O problema é que, apontam os jornalistas, nem mesmo esse recurso estaria funcionando como deveria, com poucas matérias e links indicados por eles como falsos efetivamente aparecendo com essa indicação para os usuários. Pior ainda, o Facebook não estaria informando a eles quais identificações de fake news são aceitas, com todos atuando, então, sem um índice de eficácia do trabalho.

Ao mesmo tempo, a noção geral é de que as informações falsas continuam sendo disseminadas na rede e se tornando virais rapidamente, de forma mais veloz do que os checadores são capazes de analisá-las. Além disso, muitos apontam o pouco contato com os times editoriais do Facebook, com quem a rede social alardeou publicamente que os jornalistas teriam amplas discussões.

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É o caso, por exemplo, de uma matéria que ligava o atirador Devin Patrick Kelley a grupos antifascistas. Ele matou mais de 20 pessoas e feriu outras duas dezenas em uma igreja no estado americano do Texas, mas a informação foi contestada por checadores de notícias independentes e chegou a receber a tag no Facebook. Isso não impediu que, em apenas uma das páginas que publicou a fake news, ela fosse compartilhada mais de 260 mil vezes.

Uma das fontes ouvidas chega a falar em conflito de interesses – com a rede social não desejando ver seus níveis de engajamento e permanência de usuários reduzindo, fatores que estariam intimamente ligados à militância política e proliferação (ou discussão) sobre notícias falsas. Ao mesmo tempo, outros afirmam que o time de checadores é como uma “equipe de limpeza”, contratada para realizar um trabalho que o próprio Facebook não deseja fazer.

Além disso, uma das principais questões relacionadas à manipulação russa nas eleições de 2016, a compra de anúncios para difundir, justamente, muitas das fake news divulgadas continuaria acontecendo de forma indiscriminada. Mais uma vez, entram aqui as alegações de conflito de interesses, já que barrar esse tipo de aquisição teria efeitos sobre o faturamento da companhia.

É, por outro lado, mais uma das iniciativas que o Facebook alardeou publicamente, afirmando que agentes envolvidos com manipulação ou fake news não seriam capazes de adquirir propagandas ou impulsionar o alcance de seus textos. Não é o que vem acontecendo, pelo menos, de acordo com os checadores de fatos.

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Um estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, apontou que a ideia também pode ter seus efeitos danosos caso o Facebook não seja capaz de aplicá-la direito. Na pesquisa, especialistas descobriram que o uso de uma tag para identificar fake news pode ter o efeito inverso caso a rede social não consiga agir rapidamente o suficiente com todas as informações falsas compartilhadas na rede.

O estudo mostrou que os usuários passaram a ser mais propensos em acreditarem em notícias que não contenham a tag de “Contestado” pelo fato de outras a trazerem. Entretanto, estas podem, simplesmente, ainda não terem sido avaliadas, uma vez que o processo leva muito mais tempo e exige bem mais trabalho do que apenas um clique.

A rede social, entretanto, conta outra história. Apesar de não ter negado efetivamente as alegações dos jornalistas, ela disse que o trabalho de identificação de fake news levou a uma queda de mais de 80% no alcance de informações falsas. Além disso, afirmou, em comunicado, que o trabalho realizado tem a ver com educar os usuários sobre a presença de notícias falsas e como lidar com elas, além da identificação em si.

Para provar isso, apontou outros recursos lançados como parte da iniciativa, como a indicação de notícias relacionadas ou com outros pontos de vista, sempre a partir de fontes consideradas confiáveis e apontadas pelos jornalistas contratados. Além disso, o Facebook diz que as informações passadas pelos checadores também estão enriquecendo os sistemas de detecção de fake news de seu algoritmo, de forma que ele possa identificar de forma mais rápida os artigos suspeitos para análise ou redução de alcance.

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Fonte: The Guardian