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Afinal, como é a rede social que queremos?

Por| 08 de Abril de 2021 às 10h00

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Pexels / Cristian Dina
Pexels / Cristian Dina

Acho que alguns de vocês já me conhecem por ter criado o orkut.com. O que talvez poucos saibam é que, antes disso, ainda no início dos anos 2000, eu já havia idealizado, desenvolvido e lançado outras duas redes sociais. O orkut.com, na verdade, foi a terceira — e eu lancei recentemente a sua sucessora: o hello.

Por aí já deu para perceber que eu dediquei quase toda a minha vida e a minha carreira a usar a tecnologia para conectar pessoas, especialmente por meio das redes sociais. A melhor parte das redes sociais, para mim, é a mágica que acontece quando duas pessoas que jamais se encontrariam no mundo real se conectam online.

Como muitos de vocês, sou fã das redes sociais “raiz”. Digo isso porque hoje em dia percebo o quanto elas se transformaram em plataformas para divulgar influenciadores e marcas e deixaram de ser canais para reunir as pessoas e criar esses momentos mágicos de conexão que estão tão arraigados no DNA das redes sociais.

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As redes sociais nunca foram tão populares. O Instagram, por exemplo, tem 500 mil influenciadores ativos, e 68% dos usuários entram na conta para interagir com criadores de conteúdo de marca. Nos Estados Unidos, 89% das empresas elegeram essa rede social como o mais importante canal para o marketing de influenciadores em 2020, comprovando a eficácia do modelo. O TikTok vai pelo mesmo caminho: como está em ascensão, tem atraído influenciadores e marcas que querem conquistar a atenção dos jovens. E podemos ver a mesma tendência com o Clubhouse, que tem atraindo influenciadores que querem construir suas identidades e marcas.

Nas redes em que todo mundo é (ou quer ser) um influenciador, as pessoas se mostram como querem ser vistas pelos outros, e não como realmente são. Elas estão basicamente criando uma marca, uma versão melhorada de si mesmas, esperando que seus seguidores se apaixonem pelo que essa imagem representa –e, claro, sigam seu perfil, assinem seus canais, curtam e comentem todo o seu conteúdo.

Com toda essa orquestração, com tantos filtros, nada parece autêntico, e nosso feed fica sempre com a mesma cara. Cada postagem é uma competição pelo olhar do outro; o engajamento no seu conteúdo acaba sendo mais importante do que compartilhar quem você é, o que você ama, o que você pensa.

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Nessa toada, nossas redes sociais favoritas pararam de gerar as conexões e as descobertas que haviam prometido. Estamos vendo sempre as mesmas pessoas e conteúdos que já curtimos, os mesmos anúncios, enfim, parece um grande dia da marmota. Em vez de nos inspirar a encontrar novos amigos e ideias, elas estão nos mostrando as mesmas cenas, pois os algoritmos incorporam inteligência artificial e machine learning para rever nossas interações e fazer uma curadoria do que mostrar no nosso feed para gerar mais interação e mais engajamento com os anunciantes. O problema está no coração desses algoritmos, que são projetados com perfeição para priorizar o marketing, os anunciantes, as empresas, seu faturamento e seus acionistas. Ou seja: os produtos e os feeds aos quais a maior parte de nós dedica seu tempo não são desenhados para criar felicidade nem para facilitar novas amizades ou conexões.

Uma coisa é certa: a comparação acaba com a nossa alegria --e nunca foi tão fácil nos compararmos com os outros. Nossos feeds estão repletos de jantares fabulosos dos nossos amigos, férias sem fim pelo mundo, selfies com celebridades. Ao ver quão incrível é a vida de todos, é difícil evitar o sentimento de que não somos suficientemente bonitos, inteligentes, bem-sucedidos, amados... Para nos sentir melhor, começamos a criar um conteúdo semelhante, que chame a atenção das pessoas. Só que ter mais curtidas e seguidores não resolve o problema, e voltamos a nos sentir mal porque eles nunca são o suficiente.

Algumas pesquisas têm mostrado que as redes sociais estão nos levando ao isolamento, à infelicidade e à solidão (esta última uma epidemia pior do que o fumo e a obesidade para a nossa geração). Esse ciclo só terminará quando formos capazes de ser quem verdadeiramente somos, sem nos importar com as diferenças e mostrando nossas vulnerabilidades aos outros.

Gosto de pensar que o orkut.com deixou o mundo um pouquinho melhor ao aproximar as pessoas, mas hoje sinto que as redes sociais estão nos separando. Meu melhor amigo mora em Nova York e conheceu sua esposa, que vivia na Estônia, no orkut.com. Mesmo à distância, eles se apaixonaram, depois foram morar juntos, casaram e tiveram filhos. Outro amigo, canadense, conheceu a namorada, brasileira, também no orkut.com. Depois de algumas viagens, eles se casaram e se mudaram para o Canadá. E essas são apenas duas das numerosas histórias de amor, amizade e conexão que vimos nascer online. O que nos leva à pergunta: quando foi a última vez que você conheceu alguém novo nas redes sociais?

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Essa dinâmica não é culpa nossa, afinal as redes sociais em que somos viciados foram concebidas sem levar em conta os nossos interesses. Em vez disso, os dados e o conteúdo que produzimos foram usados com outro propósito: gerar dinheiro com anúncios. E isso nos leva a mais uma preocupação, dessa vez com a privacidade e a proteção de dados pessoais. Como as redes sociais estão constantemente criando novas maneiras de coletar dados, somos forçados a gastar um bom tempo tentando acompanhar as novas mudanças e descobrir o que podemos fazer para proteger a nossa privacidade.

É por essas e outras que acho importante pararmos para refletir sobre qual é o ambiente digital em que gostaríamos de estar. Meu tipo de rede social ainda é aquela onde posso me conectar com velhos e novos amigos, ter conversas significativas e me sentir bem sendo quem sou, sem filtros. Prefiro estar em uma comunidade em que todos se sintam bem-vindos, e não com medo de serem julgados e cancelados a qualquer momento. Acho que o poder da tecnologia e das redes sociais deveria ser usado para aproximar as pessoas e fazê-las felizes. A empresa de rede social da qual eu quero fazer parte é aquela que foi desenhada e projetada para promover a união e a felicidade. E você?