Nova HQ do Capitão América se baseia em problemas políticos atuais
Por Gustavo Rodrigues | 03 de Junho de 2016 às 17h47
Capitão América virou o centro das atenções na última semana por causa de sua nova HQ Captain America: Steve Rogers #1, edição que tem como plot twist o super-herói bandeiroso dizendo "Hail Hidra", frase de respeito à organização criminosa nazista do Universo Marvel. Os fãs odiaram tal revelação, queimaram as edições que compraram e, em casos mais extremos, ameaçaram o roteirista Nick Spencer de morte. Apesar do exagero do público, a história em quadrinhos se baseia em problemas políticos atuais e dá pistas claras sobre o futuro do personagem.
Recentemente, Steve Rogers perdeu os efeitos que o Soro do Supersoldado o dava e envelheceu, assim passando o manto para Sam Wilson, originalmente o Falcão. Após os eventos de Avengers Standoff, o personagem voltou a ser jovem graças aos poderes de Kobik, uma criança onipotente com habilidades do Cubo Cósmico. Assim, Steve saiu da função estrategista que tinha na S.H.I.E.L.D. e voltou ao combate como outro Capitão América.
Em Captain America: Steve Rogers #1, o personagem precisa combater uma célula terrorista que está no comando de um trem, voltando a usar um escudo triangular, que agora é capaz de derreter metal com sua ponta. Enquanto isso, alguns flashbacks mostram a infância de Steve Rogers, quando seu pai embriagado batia na mulher. A partir daí que os fãs começam a se incomodar com o texto de Nick Spencer.
O roteirista começa a mudar o passado do personagem ao inserir uma agente da Hidra tentando convencer a mãe de Steve a entrar para a organização criminosa. Esse é o truque narrativo criado para induzir o leitor a acreditar que o herói sempre foi um agente secreto durante todos os anos de vigilância. Apesar disso, a edição dá várias dicas que há algo perturbando o personagem, principalmente quando Sharon Carter diz que gostaria de saber o que passa na cabeça do namorado, assim sugerindo que ele possa estar sendo controlado pelos poderes mentais do Caveira Vermelha.
Apesar do plot twist ter sido o que ganhou destaque na mídia, a edição, com roteiro de Nick Spencer e a bela arte de Jesus Saiz, traz uma boa dinâmica para a nova HQ do Steve Rogers, principalmente quando o contexto político da vida real ganha destaque no discurso do Caveira Vermelha. O vilão fala sobre a atual situação da Europa, que recebe os refugiados do Oriente Médio e são ajudados por alguns países do continente, algo inadmissível para o nazista. Sim, o principal alvo do texto do Caveira são os imigrantes, lembrando facilmente as palavras de Donald Trump.
Teoria sobre o futuro de Steve Rogers
As histórias do Capitão América sempre tiveram contexto com a realidade dos Estados Unidos, seja em sua origem versus Hitler ou quando foi dado como morto, época que o país tinha o maior número de soldados no Oriente Médio. Levando em conta que mais do que nunca o sonho americano não possui um ideal claro, principalmente com a atual disputa entre democratas e republicanos, essa edição, em teoria, reflete tais perspectivas nos dois Capitães.
Sam Wilson protagoniza uma HQ claramente de esquerda, o que faz todo o sentido com o histórico que o personagem possui. Steve Rogers, que deve estar sob o domínio dos poderes mentais do Caveira Vermelha, seria uma visão mais retrograda do país, assim fazendo com que os dois heróis sejam o simbolismo perfeito dos Estados Unidos atualmente.
Steve Rogers deve voltar ao seu patriotismo típico e ter a revelação de que estava sob os poderes do Caveira Vermelha até o final de 2016, principalmente com a Guerra Civil II sendo publicada ao mesmo tempo. O que preocupa é como Nick Spencer vai alterar o passado do personagem, algo que pode fazer os fãs reagirem ainda pior, mas que apenas a longo prazo poderá ser visto como um bom arco de histórias ou não.