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Afinal, por que raios somente o Android usa processadores quad-core?

Por| 22 de Outubro de 2013 às 10h00

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Afinal, por que raios somente o Android usa processadores quad-core?
Afinal, por que raios somente o Android usa processadores quad-core?

Vamos começar definindo dois personagens. Um deles – vamos chamá-lo de João –, é o cara que não quer saber quais são as especificações de seu smartphone (ou tablet). Quer somente que ele funcione, e funcione bem. O outro – Carlos –, é o maníaco das fichas técnicas e números de benchmarks, sabendo que há uma equivalência entre desempenho e o bom funcionamento do sistema. Ambos estão preocupados com somente um ponto: a experiência de uso. E estão discutindo sobre Android e seus processadores quad-core.

"O Android é o único sistema móvel que faz uso de processadores quad-core de última geração", diz Carlos, "batendo qualquer outra plataforma em experiência de uso". João caridosamente responde: "isso está certo em partes. iPhone, Windows Phone e BlackBerry não precisam de processadores de última geração para trazer uma boa experiência". Quem está certo? Bom, há um pouco de verdade em ambos os argumentos, mas vamos separar o joio do trigo.

2 núcleos versus 4 núcleos

Criamos dois artigos em que explicamos, com um pouco mais de detalhes, o que significa um processador dual-core ou quad-core. Mesmo que o foco tenha sido computadores, eles também são válidos para smartphones.

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Ter mais núcleos, no atual estado dos smartphones, melhora somente o multitarefa, quase não fazendo diferença em aplicativos isolados (com exceção de jogos). Porém, Carlos pode argumentar, os dispositivos Android são claramente mais poderosos do que as outras plataformas, como os números de benchmarks mostram com frequência. Mas qual é o benefício de ter 4 núcleos rodando ao mesmo tempo? Tudo bem que benchmarks mostram que eles são melhores, mas temos uma pergunta que João adoraria fazer: "O usuário tira algum proveito de dois núcleos extras?".

Na maioria dos casos, não. A verdade é essa. Mesmo que alguns apps possam enxergar todos os núcleos (como programas de benchmarks), o benefício para o usuário final é muito baixo. Vale mais dois núcleos funcionando bem do que 4 que ficam boa parte do tempo em modo de espera. Um Galaxy S4, por exemplo, pode ser fluido, rápido e com um bom multitarefa, mas se ele possuísse dois núcleos rodando a 1,9 GHz em vez de 4, o usuário pouco repararia a diferença.

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Nesse item em especial, João está certo. Não é necessário ter 4 núcleos para um smartphone ser rápido, como qualquer iPhone, Lumia ou Blackberry é capaz de mostrar. Porém, Carlos não desiste, apelando para duas falácias que, de tão batidas, são vistas como verdade: "Ok, mas e o multitarefa e os jogos, como ficam?". Continuemos.

GPU: o componente silencioso

Voltando ao exemplo do Galaxy S4: ele manda bem nos jogos, correto? "Era de se esperar", diz Carlos, "afinal são 4 núcleos rodando a 1,9 GHz". Não podemos discutir isso... ou podemos? Claro que sim! Em jogos, ou qualquer aplicativo que use 3D de forma intensiva, não é o processador que importa muito, mas a GPU. O S4 vem com a Adreno 320, GPU poderosíssima da Qualcomm, e, mesmo que não receba o devido crédito, é ela que é a responsável pelo bom desempenho do smartphone em jogos.

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GPU é um item que pouca gente conhece em seu smartphone. Na grande maioria, power users de Android costumam ridicularizar o iPhone 5s com seu "rídiculo dual-core de 1,3 GHz" e acham que pagar caro no "dual-core de 1,5 GHz do Lumia 1020 é um desperdício de dinheiro" (palavras de Carlos, não minhas). Mas, alguém já olhou a GPU desses modelos? O iPhone 5S, por exemplo, traz a PowerVR G6430, que, como vimos em nosso review, sobra na hora de rodar games, assim como a Adreno 225 do BlackBerry Z10 e Lumia 1020. Ou seja, o que importa quantos núcleos o processador tem se a GPU assume quando a coisa fica hardcore?

Integração de software

Embora a integração de software seja algo que, em geral, somente usuários do iOS utilizem como argumento, o Windows Phone 8 e o BlackBerry 10 também sabem trabalhar com hardware mais modesto. Isso é algo que o Android dificilmente terá, e não que ele seja um sistema mal escrito. A verdade é que o Android é o Windows dos smarpthones, capaz de rodar virtualmente em qualquer configuração (inclusive em media centers, consoles e até televisões).

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O que se ganha em compatibilidade, perde-se em otimização. O mesmo Android roda em smartphones bem básicos, como o Optimus L3 II, assim como nos Galaxy Note III, com o monstruoso Snapdragon 800. É de se esperar que otimizações sejam muito mais difíceis. E por isso, como Carlos odeia assumir e João adora repetir, um Galaxy S4 aparenta ter a mesma velocidade que um iPhone 5, ou, melhor ainda, esse é o motivo de o Lumia 1020 ser mais fluido e responsivo do que o Galaxy Note III, apesar da diferença de hardware.

Não confunda necessidade com marketing

Voltando ao título do artigo, qual é motivo de somente dispositivos Android terem processadores quad-core atualmente? Marketing, pessoal. Ao contrário dos Windows Phones, iPhones e BlackBerrys, que praticamente só possuem um fabricante (Nokia, Apple e Blackberry, respectivamente), o Android possui dezenas, cada um deles com outras dezenas de modelos. Falar que um smartphone roda Android não é um argumento de venda, já que todos eles rodam, então sobra inflar a necessidade de especificações mais parrudas.

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Fabricantes como a Samsung, LG, Sony, entre tantas outras, tentam diferenciar os seus produtos pelas especificações e extras, já que o sistema operacional é o mesmo. Tentam vender a ideia de que somente um Snapdragon 800 é rápido o suficiente para acompanhar o seu dia a dia, equipando seus smartphones com 2GB, 3 GB de memória RAM, telas com resolução tão alta que é impossível diferenciar os pixels e caprichando no design dos aparelhos.

Podemos garantir que a diferença de desempenho entre um modelo dual-core intermediário, como o Xperia SP, e os mais tops, como o Galaxy Note III, são imperceptíveis no dia a dia. Capitalismo é isso. É fazer você acreditar que somente o modelo atual vai fazer você feliz e manter as vendas em alta, mas, no final das contas, o único resultado é que pessoas como o Carlos ficam horas descrevendo a ficha técnica de seu recém lançado smartphone para usuários de outras plataformas.

Gosta de Android? Então foque no que é importante

Ok, entendemos melhor o motivo do Android ser a única plataforma que traz smartphones de quatro núcleos. Se isso não é importante, o que é? Os extras. O que importa não é o processador ou quantidade de memória RAM que um modelo traz, mas sim o que o torna indispensável nas tarefas do dia a dia. A câmera do modelo é capaz de gravar com qualidade? E a bateria? É capaz de dispensar um carregador na mochila? Afinal, propagandear performance todos fazem, agora, qual foi a última vez que você viu um fabricante se vangloriar da autonomia de seu aparelho?

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E, por último, vale a pena citar uma recente mudança no paradigma do que é importante, iniciado pelo Moto X, da Motorola. Com um singelo processador dual-core de 1,7 GHz (mas a mesma GPU do Galaxy S4), ele tem feito bastante sucesso, apesar de não trazer um processador quad-core. Porém, ele é capaz de filmar em slow motion, possui dois coprocessadores bastante úteis de reconhecimento de fala e uma bateria que dura o dia inteiro, sendo pontos que trazem muito mais benefícios para o usuário.

Em um mundo ideal, empresas como Samsung, LG e Sony vão começar a perceber que processador não é um diferencial de venda, como acontecia alguns anos atrás, adicionando recursos em seus modelos em vez de núcleos e GHz adicionais.