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Teorias da conspiração sobre o vírus Zika

Por| 05 de Fevereiro de 2016 às 08h49

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Teorias da conspiração sobre o vírus Zika
Teorias da conspiração sobre o vírus Zika

No início desta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o vírus Zika representa uma emergência de saúde pública mundial e requer uma resposta urgente. Em outras palavras, o alerta da OMS coloca o Zika na mesma categoria de importância internacional que o Ebola.

O assunto é realmente sério, tanto que a ONU disse que o vírus está se espalhando de forma “explosiva” e pode infectar até 4 milhões de pessoas nas Américas. No entanto, com o nome do vírus em alta e presente em todas as mídias, não é de se espantar que muitas teorias da conspiração comecem a se espalhar por aí.

A pandemia já reacendeu o debate sobre a legalização do aborto e foi até mesmo acusado de ser uma ameaça de arma biológica. Enquanto especialistas especulam sobre as possíveis causas do surto, confira algumas das teorias da conspiração sobre o Zika que circulam na fortaleza do discurso científico racional, também conhecida como internet.

A culpa é dos Illuminati

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Uma das mais recentes teorias sobre o vírus Zika está circulando com força total nas redes sociais neste início de ano. O boato diz que ele foi criado em laboratório e está sendo comercializado pelas indústrias da família Rockefeller, uma das famílias mais ricas e influentes (e polêmicas) dos Estados Unidos.

O boato começou a se espalhar quando um internauta postou um vídeo mostrando que é possível comprar uma amostra do Zika na internet, mais especificamente no site da ATCC (Coleção norte-americana de micro-organismos), por algumas centenas de dólares. Para piorar a situação, o nome do responsável pelo depósito do vírus no banco é [momento de suspense] a Fundação Rockefeller!

Imagem: Captura de tela / Canaltech

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Esta não é nem de longe a primeira vez que o nome dos Rockefeller está envolvido em uma teoria da conspiração. Uma das mais famosas diz que muitas pessoas notáveis foram ou são membros dos Illuminati, incluindo a família Rockefeller. Para quem não conhece esta lenda urbana, os teóricos acreditam que eventos mundiais estão sendo controlados e manipulados por uma sociedade secreta que se autodenomina Illuminati.

Pronto, mistério resolvido, não é mesmo? A poderosa família, que já se envolveu em outros casos de eugenia, está vendendo o vírus para quem quiser disseminá-lo como parte de um “plano de redução populacional da elite globalista eugenista” – pelo menos é isso o que diz a teoria conspiratória.

Antes de seguir essa linha de raciocínio que mais parece ter saído do filme Kingsman: Serviço Secreto, vamos esclarecer alguns fatos.

1. Em primeiro lugar, a ATCC é “um centro de recursos biológicos privado, sem fins lucrativos, cuja missão é voltada para a aquisição, autenticação, produção, preservação, desenvolvimento e distribuição de microrganismos padrão de referência, linhagens celulares e outros materiais para pesquisa médica e biológica”.

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Em outras palavras, os cientistas podem solicitar o acesso aos espécimes disponíveis em sua coleção para fins de pesquisas. Mas o procedimento para conseguir colocar as mãos em um vírus não é tão simples quanto pedir uma pizza. Qualquer espécime que seja levemente patogênica exige a apresentação de uma série de credenciais e documentos legais assinados pela instituição de pesquisa que o comprador representa.

2. O vírus Zika foi isolado pela primeira vez em 1947 na floresta Zika, em Uganda. Na ocasião, amostras de sangue foram retiradas dos macacos para tentar identificar a febre amarela e assim que o Zika foi encontrado. O motivo da Fundação Rockefeller ser a doadora da amostra do vírus na ATCC é que o centro de pesquisas onde ele foi descoberto era financiado por ela desde 1936.

Vale ressaltar que este posto de pesquisas no meio da floresta se tornou um laboratório líder no estudo de doenças tropicais e mais tarde evoluiu para o Instituto de Pesquisa do Vírus do Uganda (UVRI) em 1977.

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Em suma, o fato do nome da fundação estar descrito no site da ATCC significa apenas que eles foram os responsáveis por disponibilizar o vírus à instituição, e não que eles possuem sua patente e quem comprar uma amostra estará pagando o valor do "produto" para os Rockefeller.

3. Os Rockefeller não são os únicos que estão vendendo o Zika para pesquisadores. A Public Health England, uma agência executiva do Departamento de Saúde do Reino Unido, também está vendendo amostras do vírus para pesquisas.

Imagem: Captura de tela / Canaltech

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A culpa é dos mosquitos transgênicos

Talvez um dos rumores mais fortes da internet em relação ao Zika seja o que diz que o surto foi causado por mosquitos geneticamente modificados. Embora seja verdade que a Oxitec, empresa britânica de ciência e biotecnologia financiada pela fundação Bill & Melinda Gates, cria mosquitos transgênicos, a correlação deste fato com o boato de que ela seja a responsável por soltar o Zika no nosso país ainda é nebulosa.

Em meados de 2014, a Oxitec inaugurou a primeira fábrica de mosquitos Aedes aegypti transgênicos do Brasil em Campinas, interior de São Paulo. A ideia era expandir os testes de uma tecnologia desenvolvida em 2002, no Reino Unido, para combater a dengue.

A ideia funciona da seguinte forma: no laboratório, ovos dos Aedes aegypti recebem uma microinjeção de DNA com dois genes, um para produzir uma proteína que impede seus descendentes de chegarem à fase adulta na natureza e outro para identificá-los sob uma luz específica.

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Os machos, quando liberados na natureza, procriam com as fêmeas – responsáveis pela incubação e transmissão do vírus da dengue –, mas geram descendentes que morrem antes de chegarem à vida adulta, reduzindo a população total do mosquito. Em 2011, a empresa soltou alguns destes mosquitos geneticamente modificados em Juazeiro, na Bahia. Na ocasião, os testes apresentaram resultados otimistas, com grande redução na população dos mosquitos transmissores.

A teoria conspiratória alega que os ovos do Aedes aegypti foram expostos à tetraciclina, antibiótico usado para manter as larvas até a idade adulta. Os mosquitos resultantes do processo ganharam então uma carga genética diferente do Aedes aegypt original. Sendo assim, de acordo com a teoria criada sabe-se lá exatamente por quem, o resultado foi um mosquito geneticamente modificado responsável por transmitir novas doenças: a Zika e a febre chikungunya.

Secretário observa mosquitos transgênicos | Crédito: Carlos Bassan (Reprodução: Prefeitura de Campinas)

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No entanto, já descobrimos alguns parágrafos acima que o vírus Zika não pode ter sido criado pelo mosquito mutante, afinal ele já era um velho conhecido dos cientistas. Portanto, uma das poucas formas da empresa ser responsável pela propagação do vírus é se a Oxitec tivesse um estoque do vírus e tenha aproveitado que o Aedes é seu melhor vetor para infectar boa parte da população.

De qualquer forma, a Oxitec continua sendo procurada para criar mais “Aedes aegypti do Bem”, como é conhecido. "Com o recente surto do vírus Zika e a crescente epidemia de dengue, que já afetou mais de 1,5 milhão de brasileiros apenas em 2015, temos recebido um número crescente de pedidos de vários municípios e governos locais e estamos preparados para apoiar quaisquer ações tomadas pelo governo", afirmou Hadyn Parry, CEO da Oxitec.

A culpa é do controle populacional

Outra teoria conspiratória diz respeito ao possível uso do vírus Zika como uma espécie de arma biológica, usada para controlar a natalidade. Os motivos seriam:

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  • Alguns países estão recomendando às mulheres que evitem engravidar até que haja maior clareza sobre os riscos do vírus e sua relação com a microcefalia em bebês.
  • A recente descoberta de que o vírus Zika pode ser sexualmente transmissível – algo que estimula as pessoas a utilizarem preservativos, outra forma de diminuir o número de grávidas.
  • Medo do Zika poder disparar abortos clandestinos ou até mesmo legalizá-lo no Brasil e em países onde ele ainda é proibido.

Apesar de uma recente descoberta no Brasil, a OMS ainda está investigando mais afundo esta relação entre Zika e microcefalia. "Pela evidência que temos em mãos, existe a sugestão de uma associação entre Zika e microcefalia, mas há muitas coisas que ainda não foram estabelecidas e que precisamos saber", disse um porta-voz da organização à BBC. Já o Ministério da Saúde afirmou que "a gravidez é uma decisão pessoal" e reiterou que não está promovendo políticas de controle de natalidade devido aos casos de microcefalia.

A culpa é da vacina

Outro rumor relacionado às grávidas também está circulando fortemente pela web. Ele afirma que a inclusão da vacina dTpa (contra difteria, tétano e coqueluche) no calendário nacional de vacinação em 2014, bem como a recomendação da aplicação em mulheres entre a 27ª e a 36ª semana de gestação, estaria provocando o surto de microcefalia em todo o Brasil.

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Na verdade, tudo teria sido orquestrado, pois um ano após a obrigatoriedade da vacina, o surto de Zika eclodiu no país. Teóricos relacionam o aumento da circulação do Zika vírus à imunização por vacina. Ou seja, eles acreditam que o vírus foi apenas uma cortina de fumaça para esconder o “fato” que a vacina dTpa estava causando a microcefalia, ou ainda que ela poderia realmente estar causando esta rara condição neurológica propositalmente, fazendo assim com que o número de bebês diminuísse. Sim, as pessoas ainda estão bem confusas em relação às suas próprias teorias.

No entanto, de acordo com infectologistas, não existe nenhuma evidência que a vacina administrada em gestantes cause má-formação em bebês. Em vez disso, ela é usada para evitar que o bebê tenha problemas nos primeiros meses de vida.

Este debate de controle de natalidade disfarçado nos remete a nossa última teoria – que, basicamente, é uma grande mistura de tudo o que vimos até agora...

A culpa é do Bill Gates

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O homem mundialmente conhecido como fundador da Microsoft, filantropo, magnata, autor de livros, entre outras coisas, também é apontado por alguns como a pessoa que criou uma espécie de agenda de controle populacional.

Julgado por muitos como um capitalista implacável, Gates é acusado de querer reduzir a população da Terra com o auxílio de sua inteligência. Vamos listar alguns motivos que, supostamente, ligam o empresário ao surto do vírus Zika:

  • A empresa Oxitec recebeu financiamento da fundação de caridade de Bill & Melinda Gates para continuar suas pesquisas com os mosquitos geneticamente modificados.
  • Há quem diga que a fundação de Bill Gates lançou recentemente um programa para estudar as respostas imunes de mulheres grávidas à vacina dTpa.
  • Bill Gates é eugenista (uma espécie de "racista cientifico") e quer usar as vacinas para reduzir a população no planeta para melhorar as características genéticas de populações.

Bom, vamos deixar que você tire suas próprias conclusões acerca de Bill Gates.

Ainda não existem certezas absolutas quando o assunto é o Zika. Fato é que o vírus encontrou no Brasil um terreno fértil para a sua proliferação devido à grande quantidade de mosquitos Aedes aegypti e ao clima. Agora, pesquisadores estão trabalhando para tentar criar uma vacina eficiente.

Enquanto ninguém consegue definir a fonte exata do surto da doença, o importante é ficar alerta às fontes confiáveis de notícia sobre o assunto e seguir os princípios básicos de prevenção: usar repelente, eliminar possíveis criadouros e usar roupas que protejam os membros inferiores (local preferido pela fêmea do mosquito por ser ricamente vascularizado).