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Guerra tecnológica entre EUA e China faz Europa "navegar no escuro"

Por| 18 de Junho de 2020 às 14h45

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"Quando dois elefantes dançam, é difícil ficar de lado e não sofrer impacto". Essa afirmação de Jörg Wuttke, presidente da Câmara Europeia na China - e também o principal representante da gigante petroquímica alemã BASF no país asiático - dá o tom de como a União Europeia está receosa quanto aos efeitos da guerras tecnológica e comercial protagonizadas por EUA e China. Ainda que o coronavírus tenha interrompido as cadeias de suprimentos e a demanda em toda a economia global, o executivo teme que a UE se torne uma vítima da disputa e que isso o faz ficar "acordado à noite".

Em entrevista à agência de notícias Reuters, Wutkke afirmou que o coronavírus é "um desafio que acho que pode ser enfrentado". No entanto, ele afirma que as empresas européias estão atualmente "navegando no escuro", devido à incerteza trazida pelo vírus. Ele também vê a UE no meio do fogo cruzado entre os Estados Unidos e a China e que o fato se trata de uma ameaça a longo prazo.

“Quando se trata do tipo de guerra comercial EUA-China, a guerra tecnológica que está se desenrolando, a possibilidade de uma guerra financeira, é algo que será mais duradouro, mais prejudicial e definitivamente trará uma enorme incerteza ”, declarou. "Temos uma total dependência de semicondutores americanos, assim como a China. Temos um mercado enorme aqui (na China).

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No entanto, o maior temor do executivo dentro desse embate é um é só: "A preocupação final, claro, é se os EUA ou a China se voltarem para nós [União Européia] e depois disserem 'por favor, faça uma escolha - você vai conosco ou contra nós?"

5G no centro da disputa

No centro da disputa entre EUA e China está a adoção do 5G. Em maio de 2019, os EUA colocaram a Huawei em uma "lista suja" de seu Departamento de Comércio, citando preocupações de segurança nacional. A medida proibiu efetivamente as empresas americanas de fazer negócios com a maior fabricante de equipamentos de rede de telecomunicações do mundo e escalou uma batalha comercial entre as duas maiores economias. Em maio último, o governo Trump renovou a presença da fabricante chinesa na lista suja por mais um ano e ainda ampliou o número de restrições, focando o embargo no setor de processadores.

Wuttke disse que, apesar de anos de lobby, as empresas européias continuam enfrentando um cenário injusto na China, principalmente em campos tecnológicos emergentes como o 5G."A Ericsson está recebendo pedidos (no Oriente Médio) e na África e na Ásia e, é claro, na Europa está competindo com a Huawei de frente", disse ele. "Mas eles não podem realmente competir por aqui, o que obviamente traz uma grande desvantagem, porque a China representa 50% do mercado 5G possível".

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Ainda assim, uma pesquisa de confiança comercial das empresas europeias com filiais no sul da China encontrou pouco apetite para que seus membros deixassem a região. Lá, eles desfrutam de acesso próximo às cadeias de suprimentos industriais, com 88% dizendo que não tinham planos de se mudar nos próximos três anos.

No entanto, a pesquisa de confiança mais ampla da câmara também constatou que 44% dos entrevistados esperam que o ambiente regulatório piore nos próximos cinco anos. Wuttke explicou que a aparente contradição se deve às empresas que continuam confiantes nas oportunidades de crescimento na China. A própria BASF, por exemplo, espera que o país asiático responda por 30% do crescimento global na próxima década. Isso em uma uma estimativa conservadora. "Queremos fazer parte desse programa, queremos fazer parte desse modelo de crescimento", afirmou o executivo.

A China está começando a se recuperar da epidemia do coronavírus, que foi identificado pela primeira vez na cidade de Wuhan em dezembro do ano passado, antes de se espalhar pelo mundo. Até o momento, a pandemia infectou mais de 8,3 milhões de pessoas. O medo de uma segunda onda aumentou após um surto em Pequim na semana passada. Wuttke deveria participar do lançamento de uma pesquisa de confiança, em evento na Câmara Europeia na China, em Guangzhou. No entanto, ele precisou ficar de fora devido ao ressurgimento do coronavírus na capital.

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Fonte: Reuters