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Fornecedores de Apple e Huawei são acusados de escravizar minoria religiosa

Por| 05 de Agosto de 2020 às 09h27

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Fornecedores de Apple e Huawei são acusados de escravizar minoria religiosa
Fornecedores de Apple e Huawei são acusados de escravizar minoria religiosa

Empresas de tecnologia como Apple e Huawei, além de grandes nomes como Nike, Adidas, General Motors e tantas outras, aparecem em uma lista de 83 companhias acusadas de utilizarem mão de obra escrava, oriunda de perseguição religiosa, em suas fábricas na China. Fornecedores das empresas estariam envolvidos em um esquema de tráfico de mão de obra desde 2017, que envolveria a transferência de pelo menos 80 mil prisioneiros da minoria uigur de campos de concentração para as unidades de manufatura a serviço das companhias.

A denúncia foi feita em relatório do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI, na sigla em inglês), que utilizou relatos feitos em redes sociais, documentos vazados do governo chinês e imagens de satélite para identificar a transferência de prisioneiros e o destino dado a eles. 27 fábricas de grandes nomes da indústria chinesa são apontadas como envolvidas no esquema, que teria participação do próprio governo da China como parte de um programa oficial de estímulo à economia da região de Xinjiang.

Não coincidentemente, é lá que fica o principal campo de concentração, ou “reeducação”, no linguajar oficial, para onde são levados os presos da minoria uigur. De origem islâmica, a etnia está concentrada, principalmente, no extremo oeste do país e vem sendo alvo de extrema repressão por parte do governo chinês, principalmente a partir de 2017, quando também começaram as vendas de escravos para a indústria de Xinjiang, de acordo com as informações do ASPI.

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Na O-Film, que produz câmeras para celulares de Apple, Huawei, Lenovo e Samsung, seriam 700 escravos uigures — uma unidade em Guangzhou, inclusive, foi visitada e elogiada pelo CEO da Maçã, Tim Cook, devido ao tratamento dados aos funcionários e o respeito às leis trabalhistas. A Taekwang Shoes, que trabalha ao lado da Nike há mais de 30 anos, também teria milhares deles, sendo citada no relatório como uma das maiores empregadoras de mão de obra escrava, com agentes fazendo a ponte entre os campos de concentração e as unidades, recebendo em espécie por cada escravo transferido.

A denúncia apareceu pela primeira vez em um relatório divulgado em março pelo instituto, com mais e mais informações sendo adicionadas ao longo do tempo. Nesta semana, uma reportagem do jornal americano The Washington Post foi além, confirmando as denúncias e conversando com alguns dos trabalhadores escravizados, que afirmaram não terem liberdade para circular após o horário de trabalho, sendo rastreados eletronicamente e tendo de passar por doutrinação religiosa e ensino de idiomas de forma a adotarem o mandarim e abandonarem suas tradições islâmicas.

Pressão

No final de julho, ativistas lançaram campanhas contra as empresas citadas no relatório do ASPI, enquanto o governo dos EUA também fez um alerta quanto à exploração de mão de obra uigur nas fábricas chinesas. O Departamento de Comércio do país solicitou às empresas americanas citadas no relatório que investiguem os casos e cortem laços imediatamente com qualquer fornecedor suspeito de utilizar escravos em suas unidades.

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Em comunicado enviado à Reuters, a Apple afirmou trabalhar ativamente para garantir que todos os funcionários envolvidos na cadeia de produção sejam tratados com respeito e dignidade. Na ocasião, a empresa disse não ter tido contato com o relatório do ASPI, mas que trabalharia ao lado dos fornecedores para garantir que esse ideal se mantivesse.

Enquanto isso, o governo chinês negou as acusações de tráfico de mão de obra e taxou o relatório como uma grande mentira, fomentada por um sentimento anti-China. De acordo com o ministro das relações exteriores do país, Zhao Lijian, se trata de uma tentativa de minar as ações contra o extremismo e o terrorismo, com medidas sendo tomadas de acordo com as leis locais e contando com a aprovação de grupos étnicos da região de Xinjiang.

Zhao afirmou que estudantes uigures estariam passando por aulas e cursos de “desradicalização”, com muitos se formando e assumindo empregos com a ajuda do governo. Além disso, o oficial acusou o ASPI de receber financiamento do governo dos Estados Unidos e de trabalhar para promover um sentimento anti-China na comunidade internacional.

Fonte: ABC, BBC