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Desenvolvedores chineses protestam no GitHub por longas jornadas de trabalho

Por| 03 de Abril de 2019 às 21h40

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Divulgação
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Trabalhadores chineses da área de tecnologia estão realizando protestos devido às longas jornadas de trabalho, e usando para isso a plataforma de hospedagem de códigos GitHub, da Microsoft. Estes protestos podem ser vistos graças a uma ferramenta da própria empresa, que mostra as tendências dentro do sistema.

Os funcionários criaram um repositório (uma espécie de tópico) chamado '996.ICU', uma referência ao trabalho 9:00-21:00 durante seis dias por semana, para, em seguida, serem enviados para uma unidade de cuidados intensivos por exaustão. Em vez de outros códigos de programação, o repositório contém uma coleção de queixas relacionadas de trabalho em relação às maiores e mais conhecidas empresas de tecnologia da China, incluindo Alibaba, Huawei, Bytedance, DJI e outras.

A desenvolvedora que fez esse post primeiro — e que obviamente está anônima — relatou o projeto pela primeira vez na plataforma social chinesa V2EX, dizendo que uma agenda de trabalho tão intensa os impedia de “descansar e ter tempo para falar com os membros da família".

Qualquer um pode contribuir com o repositório, muito embora as listas sejam destinadas a trabalhadores chineses. Para obter uma autorização para entrar neste tópico, as pessoas devem apresentar evidências, muitas vezes na forma de postagens de mídia social, artigos de notícias, ou evidências internas dentro da empresa. Os desenvolvedores do repositório alertam os usuários para não capturarem diretamente os dados internos das empresas, mas sim usar a captura de tela, para evitar a detecção um pouco melhor. O repositório explodiu em popularidade nos últimos dias, gerando versões traduzidas em inglês, hindi, espanhol, russo, gaélico irlandês, persa e outros idiomas.

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Relatos internos

Os desenvolvedores chineses dizem que a Huawei incentiva os trabalhadores a desistirem voluntariamente das férias pagas, horas extras e licenças parentais (como maternidade ou morte) em troca de grandes bônus anuais, apontando para um artigo chinês de 2010 como prova. O artigo também mencionou um empregado que morreu em 2006 devido à fadiga por excesso de trabalho e dois funcionários que cometeram suicídio em 2008, alegando “pressão insuportável.” Desde então, a Huawei tem controlado muito mais as horas extras excessivas.

Já na Alibaba, os desenvolvedores acusam a empresa de promover uma cultura de trabalho onde os trabalhadores voluntariamente atuam por 996 horas. Embora “a empresa nunca tenha forçado ninguém a trabalhar horas extras”, todos o fazem voluntariamente em um ambiente competitivo em que a remuneração é alta, de acordo com um post de notícias de 2018. Uma nota no repositório diz: "Depois de ver esses números horríveis da cultura de trabalho extraordinário do Alibaba, você também vai sair", disse um trabalhador que se identificou como tendo trabalhado para a Ant Financial, uma afiliada do Alibaba que fabrica a plataforma de pagamento Alipay.

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Por que no GitHub?

Não está claro quem tomou a decisão de acompanhar as reclamações no GitHub, mas a plataforma oferece um nível único de privacidade e resistência à censura para os trabalhadores vulneráveis. O site é um recurso essencial para empresas de tecnologia nos EUA e na China, já que fornece acesso a uma grande quantidade de códigos-fonte abertos.

Como resultado, qualquer esforço para bloquear o site pode prejudicar muito mais os empregadores do que os funcionários. Em 2013, quando o GitHub foi bloqueado por vários dias, o ex-chefe das operações chinesas da Google, Kai-Fu Lee, criticou a censura, dizendo em um post do Weibo, já excluído, que “bloquear o GitHub é injustificável, e vai atrapalhar apenas os programadores do país do mundo, enquanto traz uma perda de competitividade e percepção".

Se o 996.ICU for removido, os usuários poderão fazer cópias de backup do repositório com antecedência. E mesmo que o GitHub seja de alguma forma censurado, os usuários podem recorrer a serviços semelhantes, como o GitLab. Também é provável que o GitHub simplesmente atenda a qualquer solicitação do governo chinês.

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Por ser da Microsoft, uma pequena reclamação do governo chinês e esse repositório poderá desaparecerá muito rapidamente, pois a Microsoft fará de tudo para manter o bom relacionamento comercial com eles. Um exemplo deste bom relacionamento é o Bing, que não exibe resultados de certas pesquisas por conta de algumas censuras "solicitadas" pela China.

O que diz a lei?

As leis trabalhistas da China preveem que os trabalhadores não devem trabalhar mais do que três horas extras por dia e não podem ultrapassar as 36 horas extras por mês. Eles também devem receber 150% de seus salários habituais por horas extras trabalhadas, 200% de remuneração por trabalhar um dia de folga sem receber um dia de compensação e 300% de seu salário por trabalhar em um feriado nacional, como o Ano Novo. Os desenvolvedores alegam que as empresas não cumprem essas determinações.

Apesar de as leis serem bem claras, os trabalhadores na China não são protegidos pelo sindicato da categoria, já que ele é supervisionado pelo Partido Comunista Chinês e frequentemente desempenha um papel passivo — para dizer o mínimo — em ajudar os programadores a defenderem seus direitos.

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Por outro lado, existe uma outra lista dentro do GitHub que mostra empresas que adotam uma outra postura com relação aos seus funcionários. As companhias incluídas na lista de equilíbrio entre vida pessoal e profissional de maneira saudável incluem WeWork, Google, Microsoft, Intel, IBM e HP, todas com escritórios em Xangai.

Fonte: The Verge