Autoridades britânicas acusam Facebook de tentar monopolizar o mercado de GIFs
Por Ramon de Souza | Editado por Claudio Yuge | 29 de Março de 2021 às 22h00
Todo mundo já se acostumou — vez ou outra Facebook é alvo de investigações antitruste e críticas de autoridades globais por conta de sua voraz estratégia de adquirir outras empresas. Desta vez, porém, a reclamação é um tanto inusitada: a Autoridade de Concorrência e Mercado, órgão britânico responsável por garantir a justa competitividade no mercado, está preocupada com a rede social monopolizar os GIFs, já que esta adquiriu a plataforma GIPHY em março de 2020 pela bagatela de US$ 400 milhões.
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Antes de mais nada, vale aqui uma rápida explicação caso você não saiba o que é o GIPHY: trata-se do maior repositório e motor de busca de imagens animadas da internet. De acordo com a própria empresa, ela conta com 700 milhões de usuários únicos e exibe 10 bilhões de GIFs diariamente — um número ridiculamente maior do que aqueles ostentados pelos rivais diretos Tenor (300 milhões de usuários) e Gfycat (180 milhões de usuários). Trata-se, de fato, do “rei dos GIFs”.
Mesmo antes da compra ser concluída, o GIPHY já era integrado em diversos aplicativos de comunicação instantânea e plataformas sociais — não só as do Facebook (Messenger, Instagram e WhatsApp), mas também Snapchat, TikTok e iMessage, da Apple. Após investigar a compra desde o início do mês de abril, os reguladores emitiram, na última quinta-feira (25), uma longa nota comentando sobre certas “preocupações” que tal fusão pode acarretar no mercado digital como um todo.
Uma das questões levantadas pelo órgão diz respeito ao fato de que, anteriormente à compra, o GIPHY competia fora do Facebook no ramo de publicidade digital, chegando a firmar contratos com grandes marcas como Pepsi e Dunkin’ Donuts para conteúdos patrocinados. “Se a GIPHY e o Facebook permanecerem unidos, a GIPHY poderia ter menos incentivos para expandir sua publicidade digital, levando a uma perda de concorrência potencial neste mercado”, explica a entidade.
“Isso é particularmente preocupante, dado o poder de mercado existente do Facebook em publicidade gráfica — em julho do ano passado, descobrimos que o Facebook tem uma participação de mais de 50% do mercado de exibição de publicidade, já avaliado em £5,5 bilhões”, prossegue as autoridades.
E como ficam os outros?
Os britânicos também se veem preocupados com o fato de que, a qualquer momento, por decisão do Facebook, o GIPHY pare de fornecer conteúdos para outras plataformas digitais, o que criaria uma concorrência desleal. Na ocasião da compra, a companhia de Zuckerberg garantiu que todo e qualquer desenvolvedor prosseguiria tendo livre acesso às APIs da plataforma e, de fato, até o momento, não bloqueou o buscador de nenhum aplicativo de terceiro. Porém, nunca se sabe quando isso pode mudar.
“Muitas pessoas usam GIFs quando se comunicam online; por isso, é importante que as plataformas não sejam restritas ao que podem oferecer e que as pessoas tenham uma variedade de opções para escolher. Como autoridade de concorrência do Reino Unido, é nossa responsabilidade garantir que os mercados permaneçam competitivos. É vital garantir que o Facebook, como uma grande e poderosa empresa de big tech, não use sua forte posição no mercado para sufocar a concorrência”, afirma Andrea Gomes da Silva, diretora executiva do órgão.
O Facebook e a GIPHY receberam cinco dias úteis para responder à Autoridade a respeito das preocupações levantadas publicamente.
Fonte: UK Government