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Apple, Google e Amazon vendem produtos de empresas que violam direitos humanos

Por| 05 de Novembro de 2019 às 20h40

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Satoshi Kambayashi
Satoshi Kambayashi

Nesta semana, uma reportagem do Buzzfeed revelou que empresas como Google, Amazon, Apple e eBay estão ignorando recomendações do Departamento de Comércio dos Estados Unidos e continuam vendendo produtos e distribuindo apps de empresas chinesas colocadas em uma “lista negra” por violações aos direitos humanos.

As três companhias chinesas em questão (Hikvision, Dahua Technology e iFlytek) são responsáveis diretas por desenvolver a tecnologia que permite que a China persiga minorias religiosas na região de Xinjiang, no noroeste do país. As três empresas fazem parte da “lista negra” do Departamento de Comércio (a mesma na qual também está a Huawei), que proíbe que qualquer companhia com base nos Estados Unidos faça qualquer tipo de negócio com elas. Mas uma “brecha” nessa regra permite que empresas como a Amazon e o eBay continuem vendendo produtos delas em seus marketplaces, e que o Google e a Apple continuem distribuindo aplicativos desenvolvidos por elas em suas lojas virtuais.

A questão de Xinjiang

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Desde 2014, a China tem criado campos de concentração e toda a região de Xinjiang, que é a que possui a maior quantidade de Uyghurs, uma população de minoria muçulmana descendente dos turcos. Os Uyghurs são as maiores vítimas de perseguição religiosa pelo governo da China, que afirma prender potenciais terroristas e enviá-los para campos de reeducação, onde eles serão ajudados a serem reintroduzidos na sociedade.

Mas, como muitas das declarações oficiais do governo chinês, esta também não é totalmente verdadeira. Isso porque os Uyghurs estão sendo detidos por autoridades policiais chinesas sem nenhum motivo aparente, e pessoas que nunca praticaram qualquer tipo de crime ou tiveram qualquer envolvimento com algum criminoso estão sendo enviadas para os “campos de reeducação” - que, de acordo com algumas entidades de direitos humanos que conseguiram entrar nesses lugares, não se parecem em nada com escolas, e estão mais próxima da função de prisões.

Apesar de os Uyghurs serem o alvo mais frequente a serem enviados para esses campos, diversas outras minorias muçulmanas que vivem na região, e até mesmo alguns cristãos, estão sendo enviados para esses campos sem terem cometido qualquer tipo de crime além de professarem uma fé diferente da oficialmente sancionada pelo governo chinês. Estima-se que entre um e três milhões de pessoas estejam hoje presas nesses campos, que se assemelham em muitos aspectos àqueles existentes da Alemanha durante a dominação nazista.

O papel da tecnologia

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E é justamente na perseguição dessas minorias que a Hikvision, Dahua Technologies e iFlytek têm colaborado com o governo chinês: as duas primeiras desenvolvem equipamentos de monitoramento com capacidade de reconhecimento facial, enquanto a iFlytek possui um software de reconhecimento de voz e tradução. Essas ferramentas são usadas em conjuntos pelo governo chinês para reconhecer nas ruas qualquer pessoa que possa fazer parte da minoria Uyghur, e marcá-la para que ela seja detida por policiais e enviada aos campos de concentração.

A tentativa do Departamento de Comércio de colocar essas companhias na lista negra é uma forma de não permitir que essas companhias encontrem um local nos mercados do resto do mundo, e pressionar a China para que ela pare com a perseguição a esses grupos oprimidos. Mas, tudo fica mais difícil quando empresas como Apple, Google e Amazon se recusam a deixar de oferecer os produtos destas companhias.

A Hikvision, que se denomina a “maior fabricante de sistemas de vigilância” do mundo, possui mais de 30 aplicativos (quase todos para gerenciamento de sistemas de vigilância em vídeo) na App Store da Apple, e 15 na Play Store do Google. Os números da Dahua são parecidos, e a empresa possui cerca de 20 aplicativos disponíveis tanto na App Store quanto na Play Store. Já a iFlytek possui quatro aplicativos tanto da App Store quanto na Google Play, todos na categoria de tradução simultânea e reconhecimento de voz.

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Mas o maior problema provavelmente está nas lojas virtuais: ainda que a Amazon não venda ela mesma o produto dessas empresas, o ambiente de marketplace permite que outros vendedores ofereçam esses equipamentos. Só da Dahua existem mais de 700 produtos à venda da Amazon norte-americana, a maioria deles câmeras de segurança com sistemas de reconhecimento facial (os mesmos usados pelo governo chinês para perseguir os Uyghurs). Já uma procura pela Hikvision revela mais de 500 produtos da marca à venda, enquanto há pelo menos seis resultados de tradutores simultâneos do mandarim para outras línguas desenvolvidos pela iFlytek.

Para Colleen Theron, diretora da Ardea International (uma empresa de consultoria da Inglaterra que oferece apoio à empresas na questão dos direitos humanos), ainda que nenhuma dessas empresas (Amazon, Google, Apple, eBay) esteja violando a “lista negra” do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, é preciso considerar outros aspectos. Ao invés de obedecer à risca apenas o texto da lei, essas empresas deveriam levar mais em conta também o “espírito” da lei, que é fazer com que essas companhias que auxiliam na perseguição e aprisionamento de minorias étnicas não encontrem espaço no mercado ocidental.

Procurada pela equipe do Buzzfeed, a assessoria da Apple afirmou que a empresa toma bastante cuidado com os apps que autoriza a fazer parte da App Store, e que todos os aplicativos aprovados não devem violar qualquer lei local ou colocar em risco indíviduos ou grupos específicos de indivíduos. Google e eBay confirmaram o recebimento do contato por parte da equipe do Buzzfeed, mas se negaram a fazer qualquer tipo de comentário. Já a Amazon ignorou as tentativas de contato feitas pelo site, segundo o próprio.

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Fonte: BuzzFeed