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Amazon compra câmeras térmicas de empresa presente em lista supeita dos EUA

Por| 29 de Abril de 2020 às 13h15

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Na briga contra a COVID-19, a Amazon teria gastado US$ 10 milhões na câmera de 1.500 câmeras térmicas, para medir a temperatura de seus funcionários na entrada de escritórios e centros de distribuição. Até aí, tudo bem, certo? O problema é que os dispositivos foram adquiridos de uma empresa que está em uma lista proibida de negociar com o governo dos EUA. As informações são da agência de notícias Reuters.

A empresa em questão é a Zhejiang Dahua Technology Co., que entrou nessa relação de "personas non gratas" do governo norte-americano por, supostamente, ter ajudado as autoridades chinesas a monitorar e deter os uigures e outras minorias muçulmanas.

Das 1.500 câmeras adquiridas, pelo menos 500 delas seriam para uso da Amazon nos Estados Unidos. Ainda que tais compras não tenham sido relatadas anteriomente pela Amazon, elas são consideradas legais. Isso porque as regras controlam as concessões e exportações de contratos entre o governo dos EUA e as empresas na lista proibida, mas não interrompem as vendas para o setor privado.

No entanto, os Estados Unidos “consideram que transações de qualquer natureza com entidades listadas têm uma 'bandeira vermelha' e recomendam que as empresas norte-americanas sigam tais negociações com cautela' ”, de acordo com o site governamental Bureau of Industry and Security (Departamento da Indústria e Segurança).

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Conformidade

A Amazon se recusou a confirmar sua compra junto a Dahua, mas disse que seu hardware estava em conformidade com as leis nacionais, estaduais e locais nos EUA. A empresa afirmou ainda que as verificações de temperatura eram para "apoiar a saúde e a segurança de nossos funcionários, que continuam a prestar um serviço crítico em nossas comunidades".

A empresa acrescentou ainda que estava implementando termovisores de "vários" fabricantes, mas não citou quais seriam essas empresas. Entre esses fornecedores, estão inclusas companias como a Infrared Cameras Ince e a FLIR Systems, que instalou seus dispositivos na rede de mercados Whole Foods, controlada pela Amazon.

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Escassez

O acordo entre Amazon e Dahua ocorre quando a Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA (FDA) alertou para a escassez de dispositivos de leitura de temperatura. Além disso, a agência afirmou que não interromperia certos usos pandêmicos de câmeras térmicas que exigem aprovação regulatória da entidade. A FLIR, principal fabricante norte-americana, enfrentou uma enxurrada de pedidos nas ultimas semanas, obrigando-a a priorizar seus produtos para hospitais e outras instalações críticas.

A chinesa Dahua é uma das maiores fabricantes de câmeras de vigilância do mundo. Contada pela Reuters, a empresa afirmou que não discute sobre negociações com seus clientes e que cumpre as leis aplicáveis. Em comunicado, a companhia afirmou que "está comprometida em mitigar a disseminação do COVID-19 por meio de tecnologia que detecta temperatura anormal da pele elevada - com alta precisão".

As câmeras térmicas da Dahua são usadas em hospitais, aeroportos, estações de trem, escritórios do governo e fábricas durante a pandemia. A IBM fez um pedido de 100 unidades junto à fabricante, bem como a montadora Chrysler, que adquiriu 10 unidades do dispositivo. Além de vender tecnologia térmica, a Dahua desenvolve câmeras de segurança de marca branca revendidas sob dezenas de outras marcas, como a Honeywell. Essa última afirmou que que algumas, mas nem todas, de suas câmeras são fabricadas pela Dahua, e que mantém os produtos de acordo com os padrões de segurança cibernética e conformidade.

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A Dahua tomou a decisão de comercializar sua tecnologia nos Estados Unidos antes que o FDA emitisse a orientação sobre câmeras térmicas na pandemia. De acordo com Evan Steiner, que vende equipamentos de vigilância de diversos fabricantes na Califórnia, por meio de sua empresa EnterActive Networks LLC, seu suprimento está atraindo muitos clientes norte-americanos não intimidados pela lista negra,

Vigilância e campos prisionais

O governo Trump adicionou a Dahua e outras sete empresas de tecnologia na lista negra do Departamento de Comércio dos EUA no ano passado, por agir contra os interesses da política externa dos EUA. A alegação é que elas estavam "implicadas" na "campanha de repressão da China, detenção arbitrária em massa e vigilância de alta tecnologia contra uigures, cazaques, e outros membros de grupos minoritários muçulmanos.

Segundo uma estimativa da ONU, mais de um milhão de pessoas foram enviadas para campos prisionais na região de Xinjiang, como parte da campanha da China para erradicar o terrorismo. Em sua defesa, a Dahua disse que a decisão dos EUA não tinha "qualquer base factual". O governo chinês negou maus tratos a minorias em Xinjiang e instou os Estados Unidos a remover as empresas da lista.

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Uma provisão da lei dos EUA, que está programada para entrar em vigor em agosto deste ano, também impedirá o governo federal de iniciar ou renovar contratos com uma empresa que esteja usando “qualquer equipamento, sistema ou serviço” de empresas como a Dahua “como componente substancial ou essencial de qualquer sistema. "

Essa medida pode comprometer a Amazon em diversos setores de atuação. Um deles é a sua divisão de serviços na nuvem - a Amazon Web Services (AWS) - que recentemente contestou a decisão do Departamento de Defesa norte-americano em uma licitação para fornecimento de infraestrutura de cloud computing para o Pentágono. O contrato, no valor de US$ 10 bilhões, foi dado à Microsoft e a AWS afirma que houve ingerência política na decisão, já que Jeff Bezos, CEO da Amazon, também é dono do jornal The Washington Post, que é crítico à administração de Donald Trump.

Ainda em cima da medida, as principais associações da indústria norte-americana pediram ao Congresso um atraso de um ano na implementação da lei. Isso porque elas afirma que a mesma reduziria drasticamente os suprimentos ao governo. Ainda assim, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse na semana passada que as políticas que clarificam a implementação da lei estão próximas.

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O Departamento de Comércio dos EUA, que mantém a lista negra, recusou comentários. O FDA disse que usaria discrição ao impor regulamentos durante a crise de saúde pública, desde que os sistemas térmicos sem conformidade não apresentassem "risco indevido" e houvesse ainda avaliações secundárias que confirmariam a presença ou não da febre.

Combate a COVID-19 em suas instalações

O coronavírus infectou funcionários de dezenas de armazéns da Amazon, desencadeando protestos de seus funcionários por condições supostamente inseguras, o que levou os sindicatos a exigir o fechamento dos locais. As verificações de temperatura ajudam a Amazon a manter suas operações e as câmeras - uma alternativa mais rápida e socialmente mais segura em comparação aos termômetros de testa - podem acelerar as filas dos funcionários na hora em que eles precisam entrar em seus edifícios. A Amazon já afirmou que o tipo de leitor de temperatura usado varia de acordo com as instalações.

Para verificar se alguém está com febre, as câmeras térmicas da Dahua comparam a radiação de uma pessoa a um dispositivo de calibração por infravermelho, que é usado separadamente. Ele usa a tecnologia de detecção de rosto para rastrear a temperatura e garantir que ele esteja procurando calor no lugar certo.

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Um segundo dispositivo de gravação mantém imagens dos rostos detectados pela câmera térmica, bem como suas temperaturas. Um software opcional de reconhecimento facial pode buscar imagens de outras pessoas ao longo do tempo para determinar, por exemplo, quando um paciente com vírus pode ter estado perto de uma fila para verificação de temperatura.

No entano, a Amazon disse que não está usando reconhecimento facial em nenhuma de suas câmeras térmicas. Grupos de liberdades civis alertaram que o software poderia cercear as pessoas de sua privacidade e levar a detenções arbitrárias. As autoridades americanas também temem que fabricantes de equipamentos como Dahua possam esconder uma "porta dos fundos", para que agentes do governo chinês tenham acesso a informações de cidadãos norte-americanos.

Em resposta a Reuters referentes a perguntas sobre os sistemas térmicos, a Amazon afirmou em comunicado: "Nenhum desses equipamentos possui conectividade de rede e nenhuma informação pessoal identificável será visível, coletada ou armazenada".

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Fonte: Reuters