Jornalista chinês se infiltra em fábrica da Foxconn e conta sua experiência
Por Fernanda Morales | 12 de Setembro de 2012 às 12h37
A agência de notícias chinesa Shanghai Evening Post enviou um de seus jornalistas para se infiltrar em uma das fábricas da Foxconn, principal fornecedora de componentes para a Apple. O repórter trabalhou durante 10 dias na empresa e conferiu de perto a produção do novo iPhone, também conhecido como iPhone 5.
De acordo com o M.I.C Gadget, o jornalista registrou sua experiência em um diário, contando todos os passos desde o processo de seleção até o dia em que ele foi posicionado em uma das bancadas da linha de produção do iPhone 5.
Na época da reportagem, a Foxconn estava precisando urgentemente de mais 20 mil novos funcionários, pois havia recebido uma grande encomenda para a produção do novo smartphone da Apple. Cada fábrica da empresa precisará produzir 57 milhões de unidades do iPhone 5 por ano.
Primeiro dia: Recrutamento
O jornalista entrou em contato com o departamento de Recursos Humanos da empresa, que afirmou que qualquer pessoa poderia trabalhar na Foxconn desde que tivesse ótimas condições de saúde e carteira de identidade chinesa. Na porta da fábrica, o repórter foi abordado por um guarda que oferecia um caminho mais curto para entrar na empresa por uma quantia em torno de US$ 15 e US$ 28, mas ele negou a ajuda do vigia.
Logo em seguida, o 'candidato' foi convidado a responder um formulário com 30 questões sobre como ele se sentiu no último mês. Depois de responder as perguntas, ele foi encaminhado junto com outros funcionários para a fábrica em Taiwan.
Dormitório dos funcionários da Foxconn
O repórter ainda afirmou que a primeira noite que passou na fábrica foi um 'verdadeiro pesadelo'. Os dormitórios possuem péssimas condições de higiene e ele encontrou diversas baratas dentro do seu armário. As roupas de cama distribuídas para os novos funcionários não estavam limpas.
Segundo dia: Assinatura do Contrato
Os novos funcionários assinaram seus contratos de trabalho ainda no refeitório, logo após o seu café da manhã. O contrato possuía quatro cláusulas sobre as áreas confidenciais da empresa como informações técnicas, vendas, recursos humanos e estatísticas de produção.
Assinatura de contratos e preenchimento de formulários
E na seção de possíveis danos à saúde causados na produção, os funcionários foram informados que deveriam assinalar a palavra 'não' para todas as opções.
Terceiro a sexto dia: Treinamento
Depois de assinarem os contratos, os funcionários passaram por um longo período de treinamento, onde lhes foram apresentadas as normas da companhia, políticas e instrumentos de segurança. O repórter afirmou que eles receberam uma lista com mais de 13 políticas da empresa e com 70 punições possíveis para cada atitude contrária as suas políticas.
Parte externa do prédio dos dormitórios
E quando a discussão sobre os termos da companhia chegou aos possíveis suicídios, os representantes não se pronunciaram sobre o assunto e muitos funcionários afirmaram que não seria difícil cometer suicídio com a falta de higiene dos dormitórios.
Sétimo dia: Folga
Depois da jornada intensa de treinamento, foi concedido aos funcionários um período de descanso antes de iniciarem efetivamente suas atividades na fábrica. O jornalista infiltrado afirmou que depois desse período teve febre e uma dor de cabeça muito intensa e pediu para ir até o ambulatório da fábrica.
Quando chegou lá, notou que há apenas um médico para atender, ao mesmo tempo, de quatro a cinco funcionários doentes.
Durante o período que passou na fábrica, o repórter afirmou ter tido acesso a diversos recursos como academia, refeitório, playground, dormitório, hospital, correios, biblioteca e até uma área de lojas. Porém, todos os recursos precisam de melhorias urgentemente, afirmou o jornalista. E nos finais de semana, os funcionários realizam pequenas festas dançantes no espaço do playground.
Oitavo a décimo dia: Linha de produção do iPhone 5
Nos seus últimos dias na fábrica, o jornalista finalmente teve acesso à área de produção do tão aguardado iPhone 5. Na entrada dessa parte da fábrica, um aviso informava que eles estavam prestes a entrar em uma área extremamente secreta.
Linha de produção Foxconn
Os funcionários foram orientados que era estritamente proibida a entrada e saída do departamento com fones de ouvido, tocadores de MP3, metais entre outros produtos. O repórter não detalhou nenhum aspecto do novo smartphone da Apple, apenas informou que passou os seus últimos três dias fazendo marcações na placa traseira do aparelho.
Ao todo, ele tinha que marcar cinco placas a cada minuto, ou seja, 2.100 placas ao longo das sete horas de trabalho. E ao final da jornada, o supervisor da área ofereceu aos trabalhadores mais duas horas extras por um acréscimo de US$ 4.
O jornalista ainda afirmou que, dos 36 novos empregados, apenas dois tiveram a sorte de receberem a 'mordomia' de descansar 10 minutos a cada duas horas de trabalho. Os outros, por sua vez, completavam sua jornada de sete horas sem pausa.
Encararia um ambiente de trabalho assim?