Cristais indicam que placas tectônicas se formaram "pouco" depois da Terra
Por Danielle Cassita |
Com a ajuda de uma inteligência artificial, pesquisadores analisaram alguns dos cristais mais antigos da Terra e descobriram que as placas tectônicas podem ser muito mais antigas do que pensávamos. Segundo os autores, as placas podem ter começado a surgir há mais de 4 bilhões de anos, poucas centenas de milhões de anos após a formação da Terra.
Isso significa que as placas tectônicas teriam começado a surgir na época do Hadeano, período da “infância” da Terra. Naquela época nosso planeta era coberto por um verdadeiro mar de lava, junto de uma atmosfera de amônia e metano — mas com água suficiente para se condensar e, eventualmente, formar oceanos.
Naquele período, nosso planeta já tinha sido resfriado o suficiente para a formação de uma crosta externa e sólida. Hoje, a crosta é alterada pelas placas tectônicas e seus movimentos sobre o manto terrestre. Mas, afinal, quando elas surgiram? Ninguém sabe ao certo, porque não há rochas em nosso planeta com mais de 4 bilhões de anos.
É aqui que entra a zirconita, um tipo de cristal quase indestrutível. Os mais antigos dele têm 4,4 bilhões de anos e, ainda, existe o subgrupo das zirconitas do tipo-S, que se formam em rochas sedimentares. Depois, estes cristais são empurrados ao manto pela atividade tectônica e emergem outra vez como granitos metamórficos. Portanto, eles podem revelar a presença das placas tectônicas.
A má notícia é que a zirconita deste tipo só pode ser encontrada por meio de um conjunto de minerais que, juntos, denunciam sua presença. Para facilitar o trabalho, os pesquisadores alimentaram um modelo de machine learning com dados de mais de 300 zirconitas de origem conhecida, e depois testaram o desempenho do modelo para diferenciar aqueles que eram do tipo S.
Após o treinamento, a equipe usou o modelo para diferenciar 97 zirconitas obtidas na em Jack Hills, na Austrália, onde ficam alguns dos mais antigos da Terra. Os resultados mostraram que 35% dos cristais ali eram do tipo S, e alguns têm 4,2 bilhões de anos, o que sugere que as placas tectônicas estavam movendo rochas da crosta ao manto e vice-versa no Hadeano.
No entanto, alguns pesquisadores se mantiveram cautelosos com o resultado — Jun Korenaga, geofísico da Universidade de Yale, comentou que a conclusão “é pura especulação”. Já Chris Hawkesworth, geoquímico da Universidade de Brstol, observou que as placas tectônicas não são as únicas forças capazes de mover rochas entre a crosta e o manto da Terra; o impacto de um asteroide, por exemplo, teria efeito semelhante.
Roger Fu, cientista planetário que não participou do estudo, acredita que são necessárias mais zirconitas antigas obtidas em outros locais além da Austrália, já que aquelas usadas pela equipe contêm pistas de eventos de uma região, não do planeta inteiro.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.