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Pirataria se torna uma pauta impactante no consumo de literatura digital

Por| 30 de Outubro de 2017 às 16h03

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Há poucos anos, a discussão sobre livros digitais em comparação a livros físicos de papel se limitava a mera preferência pessoal. Havia quem defendesse a praticidade do novo formato, satisfeitos com a possibilidade de carregar milhares de títulos diferentes na bolsa pesando apenas alguns gramas. Havia quem não se adaptasse à novidade por apego emocional às edições físicas que trouxeram informação e entretenimento desde a infância, com muita gente relatando nas redes sociais o quanto é bom sentir cheirinho de livro novo. 

Entretanto, na última década, formatos digitais como o .pdf, o .epub e o .mobi ganharam espaço nos dispositivos eletrônicos de todos. A portabilidade dos arquivos foi um elemento primordial para estabelecimento da cultura da leitura virtual entre os usuários, mas outra característica vem se firmando como determinante no consumo de livros digitais: a facilidade de encontrar títulos, às vezes até raros ou mesmo proibidos, muitas vezes de graça.

É o que ocorre, por exemplo, com a biografia não autorizada de Roberto Carlos, escrita por Paulo César de Araújo e objeto de grande discussão após o Rei se posicionar de forma a proibir a veiculação da publicação, constrangido pelo seu conteúdo. Embora, após disputa judicial contra a Editora Planeta, o cantor tenha conseguido o direito de proibir a venda da biografia em terras brasileiras, é comum encontrar a publicação em sua íntegra para download gratuito através de buscas simples e rápidas em qualquer página de busca da Internet.

Outro caso polêmico envolvendo o consumo de pirataria na literatura digital veio do escritor Paulo Coelho em 2008: ele vendeu mais de 100 milhões de cópias de seus livros e se firmou como um dos autores ficcionais mais lidos do mundo. Entretanto, o escritor e bruxo se tornou publicamente simpático à distribuição gratuita de suas obras após um fã traduzir um romance de sua autoria informalmente para o russo e disponibilizar gratuitamente para download, o que gerou um aumento da venda das publicações do autor. Após levar uma chamada de atenção de Jane Friedman, diretora da Harper Collins, editora americana que detém contrato com o autor, ficou conhecido o fato de que o próprio Paulo Coelho teria disponibilizado toda sua obra no site de torrents mais famoso do mundo, o Pirate Bay.

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Se por um lado a pirataria na literatura causa questionamentos acerca do ofício de escritor e como garantir seu sustento através de suas obras, podemos notar, com as tecnologias para leitura atuais e editoras em fase de adaptação para os novos formatos, que um novo nicho de mercado se abre e que o consumo de leitura está aquecido pela facilidade de acesso que a pirataria trouxe.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida em 2017 pelo Instituto Pró-Livro e realizada pelo Ibope, afirma que nos últimos anos o consumo de literatura no Brasil teve significativo aumento, inclusive no que tange às publicações digitais: a região Sudeste atinge o topo da lista com 48% de leitores deste tipo de mídia,  seguido do Nordeste com 23%, do Sul com 12%, o Centro-Oeste com 10% e então a região Norte, com apenas 7% do total de leitores atendidos pela pesquisa se afirmando consumidores de livros digitais.

Se ocorrer com a literatura digital evento semelhante ao que ocorreu com o consumo de música em formatos digitais, ainda veremos muitas disputas por parte de escritores, editoras e leitores. Formatos novos tendem a assustar a população e a produção artística por sempre trazerem alterações no consumo das obras e, conseqüentemente na forma de produzi-las e vendê-las . Mas assim como a indústria fonográfica acabou por se adaptar às novas tecnologias e formatos, a indústria da literatura também encontrará novos caminhos de se comunicar com os leitores e escritores. 

Fonte: El País