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A pirataria do Windows impede o crescimento do Linux?

Por| 24 de Fevereiro de 2016 às 10h13

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Eduardo Quagliato/Flickr
Eduardo Quagliato/Flickr

De acordo com o site StatCounter, mais de 85% dos computadores pessoais existentes no mundo rodam alguma versão do Windows — até mesmo versões bem antigas, como o Windows 98, Windows NT, Windows CE e Windows 2000 entram na conta com porcentagens bem pequenas. Principal alternativa para quem não quer o sistema da Microsoft, o Linux tem uma participação bem modesta nos PCs, instalado em apenas 1,47% das máquinas ao redor do planeta, menos até do que o Windows Vista (fatia de 1,77%).

Aquele papo de que Linux é difícil de usar e de que é preciso ser especialista em linhas de comando para aproveitar o sistema operacional do pinguim ficou para trás. Então, é possível que você se pergunte o que ainda falta para que cresça o número de pessoas adotando Ubuntu, Debian, Fedora ou qualquer outra distribuição de Linux. Provavelmente, o motivo primordial para que poucas pessoas adotem o Linux seja a facilidade com que se pode adquirir uma cópia pirata do Windows.

A pergunta que dá título a este texto não é nova e muita gente a reproduz já há algum tempo. Contudo, talvez apenas recentemente, mais precisamente no início deste mês de fevereiro, é que tenhamos alguns dados concretos capazes de indicar uma resposta. E sim, a pirataria do Windows pode ser um dos principais fatores a impedir que mais pessoas adotem alguma distribuição de Linux como seu sistema operacional.

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Windows domina mais de 85% do mercado de sistemas operacionais em computadores. (Foto: Reprodução/StatCounter)

Pirataria de software: um calo para o software livre

Você é um adepto do software livre e conhece diversas opções gratuitas dentro da filosofia open source. Você sabe do potencial do Ubuntu, por exemplo, e tenta convencer um amigo a utilizar a distribuição de Linux criada pela Canonical porque ela faz basicamente tudo o que Windows faz e é gratuita. Porém, seu amigo também não pagou nada pela cópia do Windows 7 que ele tem instalado no computador, mesmo que isso não tenha sido obtido de maneira legal.

Este pequeno exemplo parece simples (e de fato é), mas é o suficiente para ilustrar o cenário a seguir. De acordo com um estudo da Universidade de Oslo intitulado “Software Piracy and Linux Adoption” (em tradução livre, Pirataria de Software e Adoção do Linux), o sistema operacional livre se sairia muito melhor não fosse a pirataria do Windows.

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Segundo a pesquisa, a taxa de pirataria de softwares pode variar entre 42% e 90% dependendo de cada um dos 102 países avaliados. Ou seja, nestes lugares, ao menos 4 a cada 10 cópias do Windows são piratas, chegando a valores absurdos em lugares em que 9 a cada 10 cópias do sistema da Microsoft são obtidas de maneira ilegal. O estudo conclui que, não fosse tão simples obter uma cópia pirata do Windows, a fatia de mercado do GNU/Linux seria ao menos mais de 10 vezes maior do que é agora, girando em torno de 20% a 40% dos computadores pessoais.

Linux poderia ser mais popular não fosse a pirataria do Windows. (Foto: Larry Ewing/Wikimedia Commons)

Falando de maneira mais clara, poderíamos ter distribuições de Linux instaladas em quase metade das máquinas espalhadas por casas de todo o mundo. E o estudo da Universidade de Oslo destaca ainda três razões principais pelas quais a pirataria prejudica a adoção em massa do Linux:

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  • Cópias mais baratas ou até mesmo gratuitas e que funcionam exatamente da mesma maneira que o sistema original;
  • O avanço da pirataria causa mudanças no modelo de negócios adotado pelas empresas, que barateiam seus produtos ou passam a distribuí-los “de graça”, como é o caso do Windows 10;
  • Com a possibilidade de obter gratuitamente (mesmo que de maneira ilegal) qualquer sistema operacional, os usuários escolhem aqueles que lhes oferecem mais benefícios — no caso, a maioria opta pelo Windows.

E todo o levantamento feito pelos pesquisadores de Oslo faz sentido, afinal dá para imaginar que, impedidos de obter o Windows pirata, muita gente compraria uma licença, mas um número bem mais considerável buscaria uma alternativa legal e ao mesmo tempo gratuita — leia-se: Linux.

Um ciclo vicioso e que não traz só prejuízos

O Windows é o sistema mais usado do mundo porque a Microsoft soube, há muito tempo, criar um modelo de negócio para que computadores já saíssem da fábrica com ele instalado. Com o dinheiro investido neste tipo de distribuição, a MS fez o seu sistema operacional se tornar sinônimo de computador para muita gente, criando e definindo padrões em várias áreas da computação pessoal.

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A popularização do Windows fez com que os principais softwares e games do mundo fossem pensados quase que de maneira exclusiva para ele ao longo das últimas duas décadas. Com isso, ele foi se tornando cada vez mais o único caminho possível para quem deseja ter acesso a este tipo de conteúdo — e a pirataria apenas incentiva ainda mais essa “exclusividade”. O terceiro ponto levantado pela pesquisa de Oslo deixa isso bem claro, pois o fato de ser o mais popular faz dele o maior alvo da pirataria do Windows, o que acaba reforçando a pirataria e assim por diante.

Microsoft muda a estratégia e distribui o Windows 10 "de graça". (Foto: Divulgação/Microsoft)

E o mesmo vale para os softwares da companhia, como o pacote Office. Por muitos anos a única saída viável para quem buscava um pacote de produtividade, as suas cópias ilegais não rendiam dinheiro à MS, mas garantiam que o seu produto estaria chegando aos quatro cantos do mundo, transformando seus padrões em guias seguidos por basicamente todos os demais programas do gênero — qualquer suíte de aplicativos do gênero vai contar com suporte para DOC, XLS e PPT, formatos proprietários da Microsoft.

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Se algo se torna um padrão no âmbito da computação doméstica, quase que invariavelmente passa a ser reproduzido pela computação empresarial. E como a fiscalização em empresas costuma ser rotineira, elas precisam ter licenças originais sempre em dia. Como as ameaças do mundo virtual e as novas funcionalidades criam a necessidade de softwares atualizados, companhias e governos acabam investindo milhares de reais todos os anos para renovar licenças de softwares proprietários — muitos deles pertencentes à Microsoft.

Em suma, o saldo geral desta grande roda acaba sendo positivo para as grandes companhias que criam softwares, neste caso específico representadas pela Microsoft, e prejudicial para o open source.

O Linux como alternativa ao pirata

Apesar dos esforços das grandes companhias e de seus consórcios para acabar com a pirataria, isso é bastante difícil. Especialmente porque o mercado de sistema operacionais é, como se vê, dominado basicamente pela Microsoft, com a Apple bem, mas bem atrás, em segundo lugar. O combate à pirataria de software, então, deveria mirar especialmente a quebra deste domínio, e é aí que chegamos a uma encruzilhada.

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Os caminhos são variáveis: a Microsoft continuar dominando o mercado e mudando um pouco a forma como distribui seus softwares (vide a atualização “gratuita” para o Windows 10), mas mesmo assim concorrendo com a pirataria ou a indústria de softwares trabalhando em conjunto a fim de tornar o mercado mais diversificado e acessível, quem sabe unindo vários esforços para ampliar a oferta de softwares para Linux.

Software livre e open source pode ser alternativa ao produto pirata. (Foto: Reprodução/GitHub)

Atualmente, o grande concorrente do Windows não são Linux ou Mac, mas sim o próprio Windows pirata. Eles não geram lucros monetários para a Microsoft, mas servem para popularizar padrões da companhia e para evitar que alternativas consigam crescer a ponto de se tornarem uma ameaça de fato. Se mais desenvolvedoras de jogos seguissem os passos da Valve e lançassem versões para Linux, se a Adobe, por exemplo, lançasse uma versão oficial de seu pacote de softwares para o sistema livre, provavelmente veríamos uma migração em massa para o sistema do pinguim.

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A grande questão é: o Linux pode servir de alternativa não somente ao Windows pirata, mas também ao Windows original — e é aí que mora o perigo. Se o Linux se torna uma alternativa de fato para o Windows, sendo suportado por grandes programas e jogos, ele tem potencial para se tornar uma ameaça ainda maior ao domínio da MS do que a pirataria (que, de fato, não causa nenhum prejuízo a empresa neste aspecto de mercado). A dúvida é se a fabricante do Windows estaria disposta a encarar este novo-velho concorrente.

Fontes: Social Science Research Network, Tux Magazine, ZDNet, Linux.com, Information Week