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Projeto de lei força Vale do Silício a enfrentar denúncias de sexismo e assédio

Por| 29 de Agosto de 2017 às 14h54

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Projeto de lei força Vale do Silício a enfrentar denúncias de sexismo e assédio
Projeto de lei força Vale do Silício a enfrentar denúncias de sexismo e assédio

A conduta sexista das empresas do Vale do Silício está com os dias contados. As acusações de assédio e discriminação contra mulheres dominam o noticiário das companhias de tecnologia, e, agora, a questão foi para outro patamar.

A senadora do Estado da Califórnia, Hannah-Beth Jackson, apresentou um projeto de lei que altera o código civil para enfrentar um padrão de conduta sexista no Vale — especificamente, o assédio sexual no contexto empreendedor e financiadores.

O projeto de lei é uma reação direta a uma reportagem publicada em junho, em que dezenas de mulheres empresárias relataram ao New York Times terem sido assediadas por financiadores. "Existe um enorme desequilíbrio de poder, e as mulheres na indústria muitas vezes acabam em situações difíceis", disse a empreendedora e investidora Susan Wu ao jornal.

A lei é o mais recente evento em uma longa série que começou com uma postagem feita por uma engenheira da Uber, em fevereiro. O relato de Susan Fowler sobre seu trabalhar na empresa, meticulosamente documentado, levou a uma investigação interna na Uber e resultou na demissão de 20 funcionários. Pouco depois, uma analista de dados e outra engenheira que trabalhou para a Uber também apresentaram suas histórias. Entre outros, esses incidentes aumentaram a pressão que resultou na renúncia do fundador e CEO da empresa, Travis Kalanick.

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Enquanto isso, o que estava acontecendo na Uber começou a ecoar no Vale do Silício. No fim de fevereiro, uma engenheira processou a Tesla por assédio sexual e discriminação — mais tarde, foi demitida no que ela afirma ter sido uma retaliação.

Em seguida, várias mulheres se apresentaram para dizer que haviam sido assediadas pelo financiador Justin Caldwell da Binary Capital. As acusações tomaram corpo até que Caldbeck renunciou, e a Binary Capital entrou em colapso quando os investidores retiraram seus fundos.

"Susan [Fowler] nos inspirou", disse Leiti Hsu, empresária que acusou Caldbeck de tateá-la, ao Los Angeles Times. Com o colapso da Binary Capital, mais mulheres acusaram outros financiadores, como Dave McClure e Chris Sacca.

Uma bacia de escândalos

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"O escândalo da Uber parece diferente. Parece uma bacia hidrográfica", escreveu o jornalista e colunista do The New York Times Farhad Manjoo em março, especulando que aquele era o momento em que a indústria finalmente levaria o sexismo a sério e começaria a limpar a casa.

O projeto de lei e o surgimento de denunciantes independentes sugerem que Manjoo estava certo. Mas por que, depois de décadas de inação, as mudanças finalmente chegaram ao Vale do Silício?

Até recentemente, o governo tinha sido amplamente condescendente ao permitir que a indústria da tecnologia resolvesse seus problemas de diversidade. A partir de 2014, grandes empresas de tecnologia, como Apple, Microsoft, Google e Facebook, começaram a publicar relatórios de diversidade voluntariamente, com a promessa de fazer melhor.

Outras empresas seguiram o exemplo. Todos sabiam que a indústria tinha um problema de sexismo, mas nenhum caso específico mereceu atenção especial das empresas.

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Mulheres que falaram publicamente, como Julie Ann Horvath, da GitHub, ou Amelie Lamont, da Squarespace, deixaram seus empregos ou foram foram demitidas, enquanto a reputação de suas empresas rapidamente se recuperou.

Ellen Pao levou seu caso de discriminação de gênero contra a firma de venture Kleiner Perkins a julgamento e perdeu. Em um trecho de seu próximo livro, ela revelou que o estresse do processo e o assédio on-line que ela sofria podem ter contribuído para um aborto espontâneo. "Eu senti, naquele momento, que Kleiner tirara tudo de mim", escreveu ela.

Há um preço em levar a público o assédio. "Estou realmente com dívidas após a denúncia", Susan Fowler escreveu no Twitter. Ela acrescentou uma pequena nota entre parênteses que falava muito: "Vale a pena".

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Mudança de comportamento

Falar pode ter custado caro a Fowler, mas também abriu uma reação em cadeia muito maior do que o "efeito Pao". Mais ações judiciais e revelações surgiram após o julgamento de Ellen Pao, em 2014. Na sequência das recentes divulgações do caso de Caldwell e a Binary Capital, aparentemente inspiradas pelo post de denúncia de Fowler, financiadores como Reid Hoffman pediram que os investidores assinassem um "compromisso de decência".

"Não importam essas boas intenções, as promessas de decência não vão eliminar o problema", disse Noreen Farrell, diretora-executiva da Equal Rights Advocates, ONG de direitos das mulheres que patrocina o projeto de lei da senadora Hannah-Beth Jackson. Farrell diz que até agora os financiadores acreditavam que a lei de assédio sexual não se aplicava a eles. O relacionamento eles e uma empreendedora, afinal, não é típico de um local de trabalho. "Em muitos aspectos, ele foi visto como um algo legal para todos", disse a advogada.

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O Código Civil da Califórnia impõe responsabilidade por assédio sexual quando há um "negócio, serviço ou relacionamento profissional" entre o autor e o réu. No caso de a lei não ser suficientemente clara em determinadas situações, o estatuto enumera vários tipos específicos de relações, como as que existem com professores, advogados e médicos. A lei de Jackson acrescenta as empresas de venture a essa lista.

"Eu acredito que a discriminação já é crime pela lei da Califórnia, mas a natureza única do relacionamento entre investidor e empreendedor pede uma clareza adicional, a fim de proporcionar certeza para que as mulheres saibam que elas têm o apoio da lei", disse a senadora ao anunciar seu projeto.

Ponta do iceberg

Ao anunciar seu projeto de lei, a senadora Jackson fez referências ao memorando interno do Google, no qual um engenheiro disse que as mulheres são menos adequadas à programação devido a razões biológicas, e aos escândalos em torno da Uber como indicadores de uma cultura que precisa de mudança. Jackson elogiou as mulheres que revelaram suas histórias e sugeriu que esses casos são apenas "a ponta do iceberg".

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Todas essas ações passam a sensação de que, pela primeira vez, o Vale do Silício finalmente está sendo forçado a resolver seu sexismo endêmico.

Fonte: The Verge