Julgamento de herdeiro da Samsung por fraude é adiado para janeiro
Por Felipe Demartini | 22 de Outubro de 2020 às 10h58
Começou nesta quinta-feira (22) o julgamento do herdeiro e ex-diretor da Samsung, Lee Jae-yong, por acusações de fraude e manipulação de ações. O primeiro encontro entre promotores e advogados serviu para acertar a agenda dos procedimentos legais e terminou com uma extensão no prazo para início dos trabalhos, que agora devem começar em janeiro de 2021.
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Um dos motivos para o adiamento foi a apresentação de um documento de 190 mil páginas com contratos, depoimentos de testemunhas e outros objetos legais que sustentam a acusação. Lee não compareceu à audiência do processo, pelo qual foi indiciado por fraude contábil e manipulação de ações relacionadas a uma fusão entre a holding Samsung C&T, que controla todas as empresas do grupo, e a Chell Industries, dos setores têxtil e químico.
A ideia é que a aquisição, que aconteceu em 2015, serviu para aumentar a parcela de controle de Lee sobre a companhia sul-coreana, pavimentando seu caminho para a vice-presidência da corporação. O negócio chegou a ser questionado por acionistas e outros diretores da Samsung, após ser visto como uma maneira de solidificar o comando da família fundadora e afastar possíveis postulantes a cargos de diretoria na estrutura.
Além disso, os promotores acusam Lee de estar envolvido diretamente em fraudes nos documentos contáveis do braço de biologística da Samsung, em mais uma forma de ampliar o próprio controle em diferentes setores da empresa. Ele estaria ciente das manipulações nos números e teria aprovado a publicação de relatórios que não refletiam a realidade, um crime que também teria contado com a participação de outros executivos da gigante, também afastados do comando.
Levando em conta o escopo das acusações e o envolvimento de Lee em escândalos de suborno a acionistas e até mesmo o impeachment da ex-presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, pelo qual o herdeiro também foi indiciado por tráfico de influência, os promotores pediram celeridade aos juízes. Entretanto, diante do tamanho do documento apresentado pela acusação, a defesa solicitou o adiamento e agora o julgamento deve começar somente no dia 14 de janeiro.
Na audiência de agendamento, a defesa de Lee afirmou que a fusão entre a Samsung e a Chell Industries foi um procedimento comum da indústria de tecnologia, com o envolvimento do herdeiro constituindo atividade normal de gerenciamento. Os advogados também negaram as acusações de fraude contábil relacionadas ao setor de biologística.
Reorganizando a casa
Todas as acusações, por outro lado, já geraram reflexos diretos na estrutura empresarial da Samsung. Em maio, Lee anunciou o fim da sucessão familiar no comando da companhia, encerrando um legado de três gerações que vinha desde a fundação da marca, em 1938. Na ocasião, o antigo vice-presidente pediu desculpas por seus envolvimentos em escândalos e se comprometeu a montar uma equipe com diferentes gêneros, nacionalidades e expertises, de forma a melhor preparar a fabricante para os desafios da indústria global.
A mudança, porém, teria sido um pedido de acionistas e da própria gerência executiva da Samsung, que considerou insustentável a permanência da família na diretoria, principalmente depois de Lee ser preso, junto a dois outros executivos. Ele foi libertado em fevereiro de 2018 e responde aos processos em liberdade, pois a justiça não considera risco de fuga e conta com sua cooperação ao longo dos indiciamentos.
Fonte: Asia Nikkei