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Análise | A chuva é ainda mais pesada e bela na versão PC de Heavy Rain

Por| 03 de Julho de 2019 às 10h29

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Análise | A chuva é ainda mais pesada e bela na versão PC de Heavy Rain
Análise | A chuva é ainda mais pesada e bela na versão PC de Heavy Rain

No mercado de hoje, os jogos com grande foco narrativo são quase um padrão, mas nem sempre foi assim. Em fevereiro de 2010, Heavy Rain chegava às lojas como um exclusivo do PS3 para se tornar uma revolução em termos de storytelling, trazendo um enredo envolvente e pesado como a própria chuva do título, com até mesmo a velocidade no pressionamento dos botões na tela mudando o andamento das coisas.

A Quantic Dream continuou se aperfeiçoando nessa temática, com dois outros grandes lançamentos, os celebrados Beyond: Two Souls, ainda no PS3, e Detroit: Become Human, mais recentemente, no PlayStation 4. Agora, Heavy Rain chega aos PCs para liderar uma sequência de relançamentos da Quantic Dream, com a empresa não mais tendo contratos de exclusividade com a Sony. O título não apenas é relançado, mas chega também com gráficos repaginados, rodando a 60 quadros por segundo e resolução 4K.

Esta é, sem dúvida nenhuma, a melhor e mais definitiva maneira de experimentar essa história profunda e envolvente. Voltar a Heavy Rain em uma nova plataforma quase 10 anos depois de seu lançamento original é, ao mesmo tempo, uma experiência nostálgica e também um testamento do longo caminho que seguimos até aqui, principalmente no que toca a evolução de um título dessa categoria.

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Categorizado pela desenvolvedora como um drama interativo, Heavy Rain nos coloca na pele de quatro personagens com histórias paralelas, mas que acabam se encontrando na trama do Assassino do Origami, um serial killer que vem ceifando vidas. Ele sequestra Shaun, filho de Ethan Mars, um homem marcado por uma tragédia que resultou na perda de seu primogênito, Jason. Pelo caminho, estão também um detetive particular, uma jornalista e um agente do FBI, todos investigando o caso à sua maneira.

O game nos dá um olhar profundo sobre a rotina e a vida dessas pessoas e também sobre seus trabalhos junto aos assassinatos. Essa visão é apurada a ponto de o jogador se ver realizando absolutamente todo tipo de ação, desde abrir portas ou fechar janelas até coletar itens e falar com as pessoas. Estamos, claro, em um game linear, mas as informações coletadas e os diálogos que levarão a história adiante, com mais ou menos contexto, estão sempre em nossas mãos.

Entretanto, assim que iniciamos o game em nosso período de testes, percebemos que Heavy Rain simplesmente não reconhecia o controle de Xbox 360 conectado ao computador, ao contrário do que acontecia com a demo lançada há alguns meses. Esse problema aconteceu em duas máquinas diferentes, mas não em outros títulos da própria Epic Games Store, distribuidora exclusiva dos títulos da Quantic Dream no PC, o que nos fez pensar se tratar de algum tipo de bug com essa versão específica do acessório.

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Isso trouxe alguns pontos positivos não intencionais e vice-versa, com movimentos que não eram nada intuitivos em um game criado para um console de mesa passando a ser, e o contrário também. Abrir a porta de um armário, por exemplo, faz mais sentido quando apenas seguramos o botão do mouse o arrastamos para o lado, enquanto realizar QTEs usando o teclado nem sempre garante a precisão necessária, uma grave falha em um título cuja jogabilidade se apoia demais nisso, principalmente em momentos de maior ação.

Andar usando o WASD, entretanto, é sempre frustrante. Você verá o protagonista perdido e andando em círculos muitas vezes, já que a posição da caminhada quase nunca corresponde à visão da câmera. Não existem nós nos dedos em algumas ações, como no PlayStation 3, mas pressionar botões tão distantes nem sempre é a alternativa mais confortável para realizar determinadas ações.

O “toró” está ainda mais forte

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A estranheza com os controles, perceptível logo nos primeiros momentos de Heavy Rain, é substituída por uma sensação de assombro no momento seguinte, quando em uma cena noturna com Scott Shelby percebemos o bem que o tapa gráfico fez ao game. O game sempre foi bonito, é verdade, mas é sempre importante lembrar que estamos falando de um título da geração passada, lançado há quase 10 anos. E ele não deixa nada a desejar em relação aos jogos de hoje.

Novamente, por se tratar de um relançamento, a Quantic Dream não mexeu em alguns aspectos do original, como a cara de cera de personagens secundários ou a expressão vidrada, principalmente, das crianças. Ao contrário do que aconteceu na remasterização para PS4, a edição PC não apresenta os bugs frequentes de carregamento, rodando sem problemas com exceção da já citada dificuldade com o controle.

E quando passamos das clássicas telas de loading com um close no rosto dos protagonistas, evidenciando seus defeitos faciais, marcas e demais aspectos do rosto, notamos que tais elementos permanecem bem visíveis durante a jogatina. A chuva caindo sobre os casacos, com a textura de tecido molhado, se tornou ainda melhor, assim como os cenários se beneficiaram bastante do aumento na resolução.

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Rodar tudo isso no máximo, entretanto, não deve ser tarefa muito fácil, principalmente caso você esteja mirando as estrelas. Mesmo em máquinas bem acima das configurações recomendadas, foi possível perceber quedas na taxa de quadros por segundo durante a jogabilidade, o que nos obrigou a mexer nas configurações de sistema. Novamente, os testes foram feitos em dois computadores diferentes, de forma a excluir a possibilidade de problemas pontuais, e ambos apresentaram o mesmo comportamento.

Alterações nas configurações visuais, principalmente no que toca a resolução e o sistema de anti-aliasing, foram necessárias para que tudo funcionasse bem. A boa notícia é que, mesmo que tudo não esteja rodando no formato mais absurdo possível, ainda é possível enxergar as melhorias desta versão.

Detalhes como iluminação ou alguns elementos interativos trazem as marcas do tempo, mas de maneira geral o que temos aqui é um game que em nada deixa a dever a qualquer título lançado na última semana. Muito pelo contrário, em uma característica que denota a qualidade e a atenção da Quantic Dream em seu trabalho original, Heavy Rain vem diretamente do passado para se mostrar mais belo que muito lançamento recente.

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É um título feito para ser jogado mais de uma vez, já que as atitudes podem gerar diferentes finais, com direito até mesmo a consequências dramáticas. Além disso, o game chega para trazer a uma nova plataforma àqueles que já haviam passado pela experiência no PlayStation 3. Para todos, há algo aqui, apesar de, como no passado, Heavy Rain não trazer localização para o português brasileiro, contando com as velhas e “memísticas” dublagem e legendas com o idioma de Portugal.

Seja para se envolver com a saga familiar de Ethan, quebrar a cabeça para descobrir quem é o Assassino do Origami, detestar as dinâmicas tecnológicas de investigação usadas pelo FBI ou conhecer tudo isso pela primeira vez, Heavy Rain é, ao mesmo tempo, um clássico absoluto e um game perfeitamente contemporâneo. E isso fica perceptível após as primeiras horas, quando a trama efetivamente engrena e nos faz não querer parar de jogar até a conclusão dos eventos.

A chegada a uma nova plataforma marca também a existência de uma empresa que jamais parou de inovar, sempre levando suas próprias habilidades e as máquinas que tinha à disposição ao limite. E enquanto trabalha para relançar seus outros games no PC, a Quantic Dream já tem algo na manga, que ainda não foi revelado. Agora, muito mais gente estará esperando ansiosamente por isso.

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Heavy Rain foi testado em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Quantic Dream.