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Microsoft ainda permite pornografia infantil no Bing, mesmo ciente

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 15 de Janeiro de 2019 às 17h02

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Microsoft ainda permite pornografia infantil no Bing, mesmo ciente
Microsoft ainda permite pornografia infantil no Bing, mesmo ciente
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De volta em julho de 2018, o Adriano Ponte, apresentador aqui no Canaltech, veio me mostrar uma música no Deezer (no notebook, mesmo) e foi na busca do Windows (que usa o Bing para resultados na internet) como atalho para entrar no site do serviço de streaming. As primeiras letras digitadas, entretanto, foram ilustradas na seguinte sugestão: “deep web pedrofilia links”.

Nós dois tivemos a mesma reação de “que absurdo foi esse?!”, e então eu fiquei encarregado de procurar mais detalhes e reportar à Microsoft, proprietária do Bing, a fim de encontrar respostas. Sobre o assunto, a assessoria de imprensa da empresa no Brasil nos respondeu em 31/07/2018:

"Tratamos assuntos como esse com a máxima seriedade. Logo que tomamos conhecimento desses tipos de resultados de pesquisa, tomamos medidas para removê-los o mais rápido possível, além de relatar essas informações às autoridades competentes.”

Pouco tempo depois, de fato, ao digitar o mesmo termo “dee” tanto no Bing.com quanto na busca do Windows e nos aplicativos para Android e iOS, as sugestões pareciam mais comuns.

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Há de se dizer, entretanto: o tema em questão, por ser de extrema sensibilidade, precisou de cautela antes do aval para ser publicado inicialmente, em agosto, quando o problema foi “resolvido” após a denúncia do Canaltech. Este não é um comportamento padrão de membros da imprensa que cobrem tecnologia, mas sim algo que pode variar de acordo com a linha editorial, já que o público, presume-se, é o impactado.

Agora, em janeiro, o site TechCrunch reportou que recebeu uma denúncia anônima de que o buscador Bing se mostrou suscetível a exibir imagens ilegais de exploração infantil. Também foi constatado que o mecanismo da Microsoft sugere palavras-chave que forneçam resultados sobre pedofilia e conteúdo pornográfico infantil.

O TechCrunch chegou nestes resultados após encomendar um relatório da startup de segurança online AntiToxin Technologies para investigar o caso. A pesquisa foi realizada “entre 30 de dezembro de 2018 e 7 de janeiro de 2019, com a devida supervisão legal”.

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Todas as imagens explícitas da pesquisa foram cobertas com quadrados vermelhos. Vale o aviso, também, de que não se deve pesquisar pelos termos relatados aqui, no TechCrunch ou no relatório da AntiToxin em nenhuma plataforma — uma vez que pedofilia, dentro e fora da internet, é crime previsto por lei.

A propósito, também não queremos comparar as publicações (do site norte-americano e nossa) pela periodicidade, mas sim levantar o seguinte ponto: a Microsoft sabia do problema, só não o corrigiu.

A AntiToxin constatou que alguns termos da pesquisa foram “banidos ou limpos adequadamente”, mas que outros ainda exibiam conteúdo ilegal. Às 10h22 desta terça (15), o Bing seguia sugerindo a busca "deep web pedrofilia links" ao digitar “dee”.

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Os termos utilizados pela equipe que conduziu a pesquisa no Bing estão atribuídos ao Omegle, serviço que permite você interagir com desconhecidos aleatoriamente, usando webcam ou não.

Numa página reservada para o buscador, a Microsoft dá mais detalhes sobre como funciona o autocompletar, citando a API v7 como um dos pontos chave. A ideia aqui é “adicionar recursos inteligentes de digitação antecipada ao seu aplicativo ou site [do Bing]”.

Outro ponto citado pela Microsoft é que a API v7 é uma das responsáveis por capacitar os usuários a “digitar menos e fazer mais com sugestões de pesquisa automatizadas e completas”.

A empresa também afirmou recentemente que o Bing “indexa tudo, assim como o Google”, mas que usando uma combinação de PhotoDNA e moderação humana (sem especificar qual o tamanho do grupo), tenta evitar esse tipo de resultado.

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O Google, por sua vez, especifica que o seu sistema faz “previsões, não sugestões”. O buscador também especifica que "o preenchimento automático foi projetado para ajudar as pessoas a concluir uma pesquisa que pretendiam fazer, não para sugerir novos tipos de pesquisas a serem realizadas.”

O que diz a Microsoft hoje vs o que disse em 2013

Em comunicado emitido em 11 de janeiro sobre a pesquisa do TechCrunch + AntiToxin, Jordi Robas, CVP do Bing e de Produtos de AI da Microsoft, disse:

"Claramente, esses resultados são inaceitáveis para os nossos padrões e políticas, e valorizamos o alerta do TechCrunch. Nós agimos imediatamente para removê-los, mas também queremos evitar quaisquer outras violações semelhantes no futuro. Estamos focados em aprender com isso para então podermos fazer quaisquer outras melhorias necessárias".
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De acordo com um infográfico divulgado pela própria equipe do Bing no Twitter, a empresa deteve 4% do mercado nacional de buscas na internet no ano de 2017, com dados relacionados a junho do mesmo ano. Nos EUA, a empresa afirma ter alcançado 33%.

A responsabilidade moral que a Microsoft tem com o Bing, no período das denúncias de 2013 até as novas de 2018 e 2019, continua a mesma. Em 2013, uma denúncia do Gizmodo fez a Microsoft bloquear buscas relacionadas a pedofilia. Na época, o filtro foi “corrigido”, logo continuou ineficaz e ainda exibindo resultados do tipo.

As denúncias também atingiram o buscador Google no mesmo período, fazendo com que o principal buscador web tomasse novas medidas, aumentando também os investimentos para “erradicar imagens infantis relacionadas a pornografia da internet”, como citou o The Telegraph.

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A Microsoft não foi capaz de erradicar o problema em 2013, e não criou, até então, um filtro verdadeiramente funcional para evitar que imagens e resultados como estes fossem expostos. Pior que isso, o problema também envolve um buscador que sugere resultados relacionados a conteúdo pornográfico infantil mesmo quando o que se busca nada tem a ver com o caso.

Foi dito ao Gizmodo na denúncia de 2013 que a Microsoft já havia colocado sua equipe para “resolver o problema o mais rápido possível”, algo que também foi repetido nos dias de hoje. E em pleno 2019, decorridos quase seis anos após o primeiro alerta, o motor de buscas continua sugerindo links relacionados a pedofilia. Seria isso compactuação com o amoral e criminoso? Má vontade? Falta de interesse? Fica aqui o questionamento, pois o assunto é sério demais para ser ignorado.