Publicidade

Limitações da tecnologia

Por| 30 de Janeiro de 2018 às 16h41

Link copiado!

peshkova/Depositphotos
peshkova/Depositphotos

Uma das vantagens da digitalização é a rapidez com que se pode compartilhar conteúdo. Nós temos consciência disso, mas estes grupos de mensagens que temos no celular com pessoas que vivem em diferentes localidades até apenas uma geração atrás eram impensáveis. Tampouco era tão fácil descobrirmos todos os erros cometidos por nossos governantes ao falar.

A rapidez com que podemos nos comunicar com qualquer parte do mundo por múltiplas plataformas também tem usos que vão além de fofocas ou prática de amigos. Agora podemos difundir documentos de governo para chegar a conhecer o estado real dos diferentes segmentos da economia, também podemos acessar informação comparativa da situação em outros países que nos permite em ocasiões colocar em contexto global uma situação local.

Simplesmente é mais difícil manter uma mentira, pedir ajuda e verificar dados. Extremamente simples gravar um vídeo de um funcionário público pedindo propina ou um político eleito insultando uma pessoa por causa de sua origem étnica ou classe social. Parece ser um elemento que aumenta a equidade social, diminui a corrupção e promove a boa governança.

A realidade é muito diferente. A tecnologia continua sendo uma simples ferramenta que facilita o trabalho em diversas situações. Há momentos onde o erro gravado ou insulto publicado do deputado ou governador pode ter graves repercussões. Nos outros, você poderia dizer a maioria, a visão se afasta e o mundo das desculpas, desinteresse ou impotência triunfa.

Continua após a publicidade

Não é preciso ir muito longe, somente olhar para as redes sociais que temos para ver que de vez em quando alguém envia um pedido de ajuda para localizar uma criança ou doações de um tipo de sangue específico. Afortunadamente, quase sempre estas mensagens são seguidas por uma “já localizamos” ou “obrigado pelas doações”.

Pessoalmente eu tive que viver o outro lado da moeda, algumas vezes com contatos da Venezuela. Eles pediram doações de sangue e medicamentos nas redes sociais como se faz desde sua curta existência. Após cerca de duas horas, em vez de uma mensagem de agradecimento, o que seguiu foi uma mensagem pedindo ajuda com um tom mais urgente e até uma terceira ou quarta de mesmo cunho. Aqui, a angustia toma posse de um e a impotência é envolta em crueldade. Duas fatalidades evitáveis, mesmo com o grande eco que é o mundo digital.

A tecnologia é uma panaceia que não deve livrar todos de problemas. A intervenção humana é quem decide se esse mundo digital é uma distração ou oportunidade. A reação humana é que determina se um político tolo se atreve a chamar parte da população de violadores, ladrões e drogados, produto de seu inerente racismo que recebe suficiente pressão para renunciar ou permitir que a próxima vez seus estúpidos comentários façam referencia a mulher como simples objeto de prazer sexual. Há que dizer que cada povo recebe o governante que se merece, será verdade?

Assim como quando a polícia maltrata pessoas de baixo recurso e surge um celular gravando a situação, as consequências se darão se na indignação muda para captar suficiente apoio para impactar negativamente as pessoas que tomam decisões. Por isso, muitas vezes não acontece nada.

Continua após a publicidade

O mundo digital nos dá acesso à maior biblioteca que existe no mundo. Seria lógico que isto nos permitisse reduzir a quantidade de mentiras que recebemos diariamente. No entanto, o fanatismo e as acusações cada vez mais frequentes nos levam a chamar o que não convém “notícia falsa” servem para ressaltar dois elementos de nossa sociedade: fanatismo e vagabundagem. Quão preguiçoso para verificar os dados...