De novo, operadoras culpam heavy users para justificar franquias na banda larga
Por Caio Carvalho | 08 de Junho de 2016 às 16h20
Aconteceu nesta quarta-feira (8) um novo debate na Câmara dos Deputados sobre o escândalo das franquias de dados na internet fixa. E mais uma vez, as operadoras não souberam apresentar argumentos suficientes que justificam a implementação do novo modelo de negócios, que pode impactar milhões de brasileiros.
Parlamentares e representantes de entidades de defesa do consumidor voltaram a criticar as empresas de telecomunicações por conta do uso de franquias de dados na banda larga. Já as companhias se defenderam apontando para o impacto "avassalador" do consumo de vídeos. Novamente, as corporações colocaram a culpa dos supostos congestionamentos na infraestrutura de rede nos "heavy users", "que devem ser punidos para a devida proteção dos mais pobres".
"Esse subsídio invertido, de que o pobre paga pelo rico, tem que ser de alguma forma revertido. O vídeo chegou, e é avassalador na demanda de rede necessária para transmitir, redes originalmente projetadas para atender chamadas. O Brasil é desigual. Para ter internet para todos não basta ter um único produto", afirmou o diretor do SindiTeleBrasil, Carlos Duprat.
Há cerca de duas semanas, as operadoras Vivo, Claro e Oi usaram esse mesmo discurso, de que os usuários que mais utilizam a internet são o principal motivo para as empresas adotarem as franquias. No entanto, nenhuma delas soube destacar o que define um "heavy user". Os tais congestionamentos, e até mesmo o impacto dos vídeos, foram questionados por deputados e órgãos de defesa do consumidor.
"Temos que nos aprofundar nos argumentos das operadoras. O congestionamento de rede não está demonstrado. E a questão dos heavy users, dos usuários pesados usando a internet, também não é argumento sólido. São argumentos falaciosos, como os heavy users, sem saber explicar sequer o conceito disso", disseram Rafael Zanatta, representante do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e o deputado JHC (PSB-AL).
A Adovgada da associação Proteste, Flávia Lefèvre, também não comprou a justificativa das operadoras de que, quanto mais o usuário consome, mais as empresas gastam com infraestrutura. Na verdade, o que acontece, segundo a advogada, é justamente o inverso. "Empresas que vendem muito conteúdo, como Netflix e outros, tem caches instalados nas redes das operadoras de conexão, aproximando os conteúdos dos usuários, o que reduz os custos de interconexão e não justifica que se tenha que pagar mais por planos ilimitados", disse.
As próprias companhias admitem que o preço dos serviços despencou nos últimos anos. Para se ter uma ideia, cada MB chegava a custar R$ 30 até alguns anos atrás, mas agora sai em média por R$ 8. Além disso, o aumento de capacidade de rede é incremental, algo que a indústria de redes demonstra representar uma fração pequena da implantação de novas (e não é de hoje).
Fonte: Convergência Digital