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Entenda tudo sobre o Marco Civil da Internet, que será votado nesta terça-feira

Por| 12 de Novembro de 2012 às 13h34

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Um novo projeto de lei está prestes a ser votado na Comissão da Câmara dos Deputados, visando proteger a liberdade de expressão, a privacidade e a neutralidade na rede. Para chegar até aqui, foram realizadas várias audiências públicas em diversos estados e cidades do Brasil.

O projeto foi escrito com o apoio dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, das Comunicações e da Casa Civil. A votação do Marco Civil da Internet foi prorrogada para esta terça-feira (13) devido a um impasse no governo quanto a mais um tema polêmico: a entidade responsável pela regulação posterior da neutralidade da rede.

Entenda o Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet é um projeto de lei que visa estabelecer direitos e deveres na utilização da Internet no Brasil. A primeira fase do processo colaborativo para a construção de um Marco Regulatório da Internet no Brasil foi lançada em 29 de outubro de 2009 pela Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro.

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A proposição abrange as condições de uso da Internet no país em relação aos direitos e deveres de seus usuários, prestadores de serviços e provedores de conexão, ressaltando o papel do Poder Público com relação à Internet. Depois das tramitações do projeto na Câmara, o Marco Civil foi descrito pelo então Ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, como a "Constituição da Internet".

De acordo com o relator do projeto, Alessandro Molon, suas linhas gerais se baseiam em três pilares: as garantias à privacidade do usuário; a neutralidade da rede; e a proteção aos provedores de conteúdo. Tudo em prol da redução da insegurança jurídica no país no que diz respeito aos assuntos tratados com base em atividades realizadas na Internet.

A possibilidade de uma regulamentação mínima no Brasil para o uso da web está causando polêmica. Afinal, o que o usuário final tem a ganhar e quais são as desvantagens desta lei, caso seja aprovada? O que pode mudar na vida do internauta brasileiro? O que, de fato, é o Marco Civil?

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Para responder a essas perguntas e facilitar o entendimento, tratemos cada um dos pilares do projeto individualmente.

Proteção aos provedores de conteúdo

Se for aprovado, o projeto determinará que os provedores de conexão à internet não sejam civilmente responsáveis pelos danos gerados por terceiros. Em outras palavras, tais empresas não mais serão responsabilizadas na justiça pelo que seus usuários postam na rede.

Para uns, a mudança é positiva, uma vez que protege os provedores contra um ato abusivo realizado por outra pessoa. Afinal de contas, quem deve ser responsabilizado por conteúdo agressivo, ofensivo, inadequado ou imprópio é aquele que o postou.

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Em contrapartida, há quem pense que a proteção aos provedores gerará mais burocracia em termos jurídicos. Na era da informação, a velocidade das trocas de dados faz com que a internet seja um meio rápido de resolução de impasses. Um processo judicial com a lei em vigor demoraria muito mais tempo para ser resolvido, e isso poderia prejudicar ainda mais aquele que foi ofendido na internet.

Garantias à privacidade do usuário

O Marco Civil defende o sigilo das comunicações de todos os internautas, a menos que seja determinada sua quebra por ordem judicial. O protecionismo dos dados pessoais faz com que estes não sejam fornecidos a terceiros e garante uma proteção de privacidade mais eficiente, ao lado da liberdade de expressão.

Para muitos, parece essencial que esta garantia seja prevista por lei e a privacidade do usuário seja protegida. A partir do momento em que é criada uma lei para garantir a transparência para o usuário, torna-se mais segura a navegação na Internet, uma vez que nunca se sabe quem está monitorando as atividades de qualquer pessoa na rede.

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Entretanto, na opinião daqueles que se opoem ao Marco Civil, as informações sigilosas, atualmente, já são protegidas e não podem ser liberadas por provedores, exceto em casos em que a justiça exija. Seria, então, necessária a criação de uma lei protecionista no Brasil, enquanto outros países continuam a manter a Internet como "território livre"? Até que ponto proteção enquadra-se no quesito benefício? Os serviços contratados pelos usuários já possuem seus termos de uso, e neste caso, a privacidade do usuário já está garantida.

Neutralidade da rede

Entende-se por neutralidade da rede o tratamento igualitário de quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino. O responsável pela transmissão de conteúdo, caso o projeto seja aprovado, deverá seguir estes princípios. Em uma internet neutra, as operadoras não poderiam fazer distinção de tráfego para, por exemplo, melhorar a conexão a determinado conteúdo associado a atividades da empresa se o usuário pagasse a mais para ter acesso específico. A proposta é manter a rede igual para todos. É o conhecido "traffic shaping", que diminui a velocidade dos torrents para privilegiar quem só usa e-mails, por exemplo.

Definitivamente, este é o item que mais tem gerado polêmica no Marco Civil da Internet. A qualidade da conexão do usuário, atualmente, não está relacionada com o conteúdo acessado.

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Enquanto o projeto defende que, com a neutralidade da rede, os dados trafegados sejam tratados de forma isonômica, pela qual a filtragem de informações deva respeitar apenas critérios técnicos, não sendo admissível nenhuma forma de discriminação ou favorecimento, há quem não concorde. Para estes, a proposta parece ser embasada em um princípio já garantido pela Anatel, que por sua vez já assegura essa neutralidade. É necessário ter transparência ao reclamar de problemas enfrentados pelo provedor de internet, e com essa neutralidade, ficará difícil para o usuário reclamar com a empresa prestadora de serviços.

No vídeo abaixo, você conhece mais sobre o projeto e seu relator, o deputado Alessandro Molon, em participação no programa Eis a Questão, da TV Câmara.

Lobby da indústria autoral e das telecomunicações

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Na última sexta-feira (9), o site do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) noticiou que a liberdade do Marco Civil da Internet estaria ameaçada por dois lobbies poderosos: o da indústria autoral e o das telecomunicações.

O projeto de lei sofreu pressão da indústria autoral para alterar o artigo 15, que trata da retirada de conteúdos do ar apenas com decisão judicial. Para a indústria autoral, é necessária a implantação de uma exceção para direitos autorais. Visando a seus próprios interesses, as empresas de telecomunicações pressionam para que a regulamentação da neutralidade da rede seja feita pela Anatel.

O texto atual sofreu alteração e o projeto prevê uma exceção para a remoção de conteúdos protegidos por direitos autorais, que não precisariam de decisão judicial para serem retirados do ar. Para o IDEC, a modificação traz grande insegurança jurídica para a internet e sérios danos aos usuários.

“Essa exceção vai abrir espaço à interpretação de que não é necessária a avaliação judicial para remoção do conteúdo. Isso significa que, com uma simples notificação, esse mecanismo poderia induzir os provedores a excluírem o conteúdo para evitar serem responsabilizados”, explica o advogado do Idec Guilherme Varella.

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Mesmo sem comprovação de que um conteúdo de mídia viole os direitos autorais, uma carta de um suposto autor da propriedade intelectual bastaria para que o provedor (no caso, um site, uma rede social ou um portal) o retirasse do ar. O usuário prejudicado deveria, depois disso, procurar a Justiça para reivindicar os seus direitos e reaver o conteúdo.

Essa dinâmica própria para os direitos autorais, no entanto, já foi abordada e recusada durante a discussão pública do Marco Civil.

A reação dos usuários

As propostas do Marco Civil da Internet têm causado tanto alívio quanto descontentamento nos usuários. Enquanto muitos internautas, instituições e empresas declaram defender a nova legislação, que virá como uma medida vanguardista de proteger os direitos do usuário brasileiro na internet, existe o outro lado da moeda, que entende que a Internet é um "território livre" e que a instauração de uma cartilha de regras mais se parece com uma censura digital.

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Vários parlamentares estão enviando sugestões ao relator do projeto, que as receberá até a manhã desta terça-feira, poucas horas antes da votação. E você, o que acha do Marco Civil da Internet? Votaria a favor ou contra?