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Ligando os pontos – Parte 1

Por| 03 de Novembro de 2020 às 10h00

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Ligando os pontos – Parte 1
Ligando os pontos – Parte 1

Há pouco mais de 1 mês, eu tive o prazer de assistir à demonstração do Neuralink feita por Elon Musk. Tal dispositivo é capaz de conectar o cérebro (mais especificamente uma ou mais regiões do cérebro) de um ser vivo a dispositivos digitais, como um telefone celular ou um computador, através de uma conexão Bluetooth. Através dessa conexão, os disparos dos neurônios do ser vivo conectado podem ser captados e transmitidos em tempo real de forma digital. Segundo apresentado, a empresa está criando um ambiente para que desenvolvedores possam elaborar facilmente aplicativos que utilizem tais informações.

Eu fiquei muito entusiasmado com o que vi diante de uma infinidade de possíveis aplicações que vislumbrei. Porém, surpreso com as críticas ao projeto (sendo algumas inclusive da comunidade científica), resolvi refletir sobre a razão pela qual existia uma polarização em relação às percepções do potencial impacto exponencial do projeto à humanidade.

Inicialmente percebi que um dos motivos é que tal criação veio do polêmico Elon Musk, que naturalmente gera polarizações independentemente da criação. No entanto, após mais reflexões, percebi que talvez o maior separador de opiniões fosse a capacidade de ligar os pontos. Sim, é a capacidade de ligar os pontos que, historicamente, nos permitiu transformar criações com aplicações restritas em ferramentas indispensáveis para nossas vidas, tal como imaginar que faria sentido ter um computador na casa de cada pessoa, bem como posteriormente conectar todos esses computadores numa rede mundial e, por fim, integrá-lo com um telefone celular, uma câmera fotográfica e um GPS, para estar no bolso de cada pessoa.

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O exercício de conectar os pontos olhando para o passado é simples. De fato, sob a perspectiva atual, era óbvio que faria todo sentido ter um computador em cada residência. Mas, na década de 1970, isso certamente não era óbvio. E, por não ser óbvio, Steve Wozniak mostrou o protótipo do Apple I à HP, onde trabalhava em 1975, e implorou para que produzissem. Felizmente para ele (e para futuro sócio Steve Jobs), a HP recusou fabricá-lo por cinco vezes. Em 1977, Ken Olsen, fundador da famosa fabricante de computadores Digital Equipment Corporation, declarou: “não há razão porque alguém iria querer um computador em sua casa”. De fato, na época os micro computadores eram um dispositivo para hobistas, e posteriormente passaram a ter uma função importante como videogame.

Se muitos erraram em conectar os pontos em relação à demanda de computadores nos lares, ao olharmos para trás pode parecer difícil acreditar que alguém duvidaria da relevância da internet. No entanto, em 1997, quase 3 anos após a fundação de uma startup chamada Amazon, o New York Times publicou o artigo “Céticos citam sobrecarga de informações inúteis: Internet chega a uma encruzilhada” (título original em inglês: "Skeptics Cite Overload Of Useless Information: Internet Arrives At a Crossroads"). Nesse artigo, Bill Gates, dentre outros, foi um dos céticos com relação à internet. Além dele, Charles Wang, fundador e CEO da Computer Associates, declarou que a internet jamais iria substituir lojas físicas e jamais iria ameaçar jornais e revistas.

E os smartphones? Nessa história eu posso dar um depoimento pessoal. No final da década de 1990, as fabricantes de telefones celulares (que ainda tinham um display igual ao de calculadoras) formaram um consórcio para a criação de um protocolo que permitisse aos telefones celulares se conectarem à internet. Ao saber dessa informação, eu liguei os pontos e pedi demissão na empresa em que trabalhava para criar a minha empresa, a fim de explorar as possibilidades que a conectividade móvel traria. Pude testemunhar muitas reações e comentários extremamente céticos de gestores de fundos de Venture Capital na época. Aliás, puder ver também muito ceticismo com a ideia de integrar uma câmera num celular. Felizmente, encontrei alguém que rapidamente ligou os pontos e, com isso, conseguimos investimento suficiente para garantir o desenvolvimento da plataforma que foi adotada por vários institutos de pesquisa, e que garantiu o sucesso da operação.

Agora, olhando para frente, por que a criação do Neuralink pode ser considerada um marco de grande relevância na potencialização de uma transformação exponencial sem precedentes? Para responder essa pergunta, eu convido os leitores a acompanharem a série de artigos que será publicada aqui no Canaltech para ligar os pontos em direção ao futuro exponencial. Até o próximo!