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Supercomputador brasileiro de R$ 60 milhões está desligado por falta de recursos

Por| 22 de Junho de 2016 às 14h30

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Um dos projetos científicos mais caros já financiados pelo Brasil está ameaçado por causa da crise econômica. Trata-se do supercomputador "Santos Dumont", a máquina mais poderosa da América Latina, que teve de ser desligado porque não há dinheiro para pagar a conta de luz do aparelho.

O dispositivo está localizado no Laboratório Nacional de Computação Científica, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Por mês, o computador gasta até R$ 500 mil em energia elétrica, mas o governo não reajustou o orçamento da unidade. Com isso, o preço das contas passou a consumir 80% dos recursos do laboratório, o que torna inviável o funcionamento integral do supercomputador, que corre o risco de ser desativado em caráter definitivo.

Apesar de ocupar apenas 380 metros quadrados, o equipamento consome energia suficiente para abastecer um bairro com três mil famílias. Segundo o diretor do LNCC Augusto Gadelha, seis pesquisas estão atrasadas e outras 75 estão na fila para serem iniciadas. Entre elas estão estudos importantes sobre o mapeamento genético do vírus da zika, o mal de Alzheimer e modelagem vascular (que pode beneficiar os profissionais de cardiologia), além de projetos na área de energia, petróleo e gás, como pesquisas sobre a camada do pré-sal.

Nos últimos dias, o supercomputador passou a ser ligado por algumas horas, fora do horário de pico, para evitar os danos em sua estrutura. "No mês de maio, vimos que não havia a possibilidade de manter o computador ligado e tivemos a decisão de desligá-lo, diante da imprevisibilidade de chegada dos recursos para a energia elétrica", disse Gadelha.

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Além do prejuízo às pesquisas, a paralisação do supercomputador também pode causar danos irreversíveis ao equipamento. Isso porque a máquina é toda refrigerada à água e, quanto mais tempo ela ficar parada, maiores serão as falhas. "Toda a infraestrutura de suporte ao equipamento pode sofrer danos pela paralisação. É como se fosse um carro, com óleo e refrigeração a líquidos em seu interior. Então todas essas peças podem sofrer danos se ficarem sem uso. Um equipamento eletrônico não pode ficar parado", explicou Wagner Leo, coordenador de tecnologia do LNCC.

O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) disse saber da situação e informou que está em busca de uma suplementação orçamentária para o LNCC junto ao Ministério do Planejamento. Vale lembrar que, recentemente, o MCTI teve seu orçamento reduzido em quase 25%, para R$ 3,3 bilhões — o menor valor dos últimos 12 anos.

"É o reflexo e um exemplo gritante do que está acontecendo com a ciência e tecnologia no Brasil. É um descaso total. Foram investimentos vultosos que ocorreram e formação de pessoal de que demoraram muitos anos para se completar, mas que correm o risco de serem desperdiçados. O que acontece com o supercomputador é emblemático", destacou Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, que ainda disse esperar por mais cortes de dinheiro.

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O Santos Dumont é composto por três módulos distintos: o Santos Dumont CPU tem 18.144 núcleos de processadores Intel Xeon; o Santos Dumont GPU tem 10.692 núcleos da Intel e da Nvidia; enquanto o Santos Dumont Hybrid tem 24.732 núcleos Xeon e de coprocessadores Xeon Phi. Sua capacidade de processamento é de 1,1 petaflops e o projeto inteiro tem custo avaliado de R$ 60 milhões. Cada um desses três módulos está na lista Top 500 dos supercomputadores mais rápidos do mundo, mas, agora que a máquina está desligada o Brasil pode ficar de fora desse levantamento.

Fontes: CBN, Gizmodo