Saúde deve ter colapso antes da queda nos casos do coronavírus, diz ministro
Por Felipe Demartini | 20 de Março de 2020 às 18h45
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que uma “queda profunda” nos casos do novo coronavírus no Brasil só acontecerá em setembro, mas que o sistema nacional entrará em colapso muito antes disso, já em abril. A previsão abrange tanto instituições públicas quanto privadas e pintam um panorama negativo para a evolução da pandemia em nosso território.
De acordo com Mandetta, em conferência do governo com empresários brasileiros de diferentes setores, o estado de São Paulo, que é o mais atingido pela pandemia no momento, ainda está no “início de seu redemoinho de transmissão”, com um aumento de casos que deve durar, pelo menos, até junho e começando já nos próximos 10 dias. A tendência é que o restante siga esse mesmo caminho, com o platô, ou seja, uma diminuição na curva ascendente de casos confirmados, sendo obtido apenas em julho.
Em agosto, por fim, os números devem começar a apresentar queda até que uma redução brusca na taxa de contágio chegará em setembro, aos moldes do que acontece agora na China, que vem enfrentando a pandemia do novo coronavírus desde o final do ano passado. Esse movimento deve acontecer mesmo com a recomendação de isolamento social e as medidas de restrição de movimento que vêm sendo aplicadas por governos e organizações de saúde — segundo Mandetta, os reflexos das iniciativas das próximas duas semanas só serão refletidos 28 dias depois.
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O colapso na saúde a que Mandetta se refere está ligado ao total de leitos, equipamentos, pessoal e demais características das instituições do país. Na visão dele, com a curva cada vez mais ascendente de doentes, o país chegará a uma situação em que mesmo quem possui dinheiro, planos de saúde ou até ordens judiciais para receber tratamento “não terá sistema para entrar”. Ele comparou a situação com o que está acontecendo na Itália, um dos países mais afetados pela pandemia do novo coronavírus.
Justamente por isso, o ministro da Saúde citou as medidas de isolamento social e restrição da movimentação como tentativas eficazes de reduzir a transmissão do vírus. Isso é verdade, principalmente, no caso dos idosos, o grupo de risco mais afetado pelo COVID-19 e que, também, exigiria maiores cuidados, contribuindo para o iminente colapso do sistema de saúde brasileiro.
Comando centralizado
Por outro lado, Mandetta ecoou as palavras do presidente Jair Bolsonaro, que falou antes dele e criticou as ações tomadas de forma independente por alguns estados brasileiros. Para o chefe de governo, as decisões de fechamento de estradas, divisas e aeroportos impedem o transporte de equipamentos essenciais para o tratamento aos contaminados, como tubos de oxigênio, além de tornarem a questão econômica “dramática”.
Na visão do presidente, medidas desse tipo podem acabar contribuindo para uma “catástrofe”. Tanto Bolsonaro quanto Mandetta defenderam que a decisão do fechamento de estradas, aeroportos e outros sistemas de transporte deve estar nas mãos da União, uma vez que a restrição do direito à circulação também causa efeitos na cadeia produtiva, com os danos à economia, na visão do presidente, podendo ser até maiores do que os causados pelo próprio vírus.
A fala também foi apoiada por alguns dos empresários presentes na conferência como Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). Também participaram da conferência o presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, Carlos Sanchez, da fabricante de medicamentos genéricos SEM, Alejandro Botero, vice-presidente da Renault no Brasil e Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF, do setor alimentício.
Durante a conferência, Mandetta também pediu a colaboração dos empresários brasileiros na produção de equipamentos para combater a epidemia e falou em união. Enquanto isso, Skaf e outros presentes na conversa sugeriram a realização de reuniões periódicas entre o governo e as empresas, além de indicar uma necessidade de que a iniciativa privada ceda espaços onde os doentes possam ser tratados e os equipamentos necessários para isso possam receber manutenção.
Fonte: Agência Brasil, UOL Economia