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China faz concessões para realização de auditoria dos EUA em suas empresas

Por| 26 de Agosto de 2020 às 14h15

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China faz concessões para realização de auditoria dos EUA em suas empresas
China faz concessões para realização de auditoria dos EUA em suas empresas
Donald Trump

A China afirmou nesta quarta-feira (26) que fez concessões para permitir que os reguladores dos EUA auditem algumas de suas empresas, consideradas mais sensíveis. Agora, o governo do país asiático está pedindo negociações diretas para resolver uma disputa de anos e que ameaça os mercados globais.

Em uma entrevista em Pequim na quarta-feira, Fang Xinghai, vice-presidente da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC), disse que a China é "sincera" em querer resolver o impasse sobre as questões contábeis. Recentemente, autoridades norte-americanas intensificaram a pressão para obter acesso às auditorias realizadas em empresas chinesas que negociam nos EUA. Isso ameaça regras que podem desencadear ações de fechamento de capital de companhias como a Alibaba e Baidu. Além disso, o impasse tem prejudicado as relações entre EUA e China por anos e se deteriorado desde 2017, depois que inspeções experimentais feitas em conjunto por reguladores de ambos os países não conseguiram chegar a um acordo.

Nova tentativa

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Xinghai afirmou que no início deste mês, o CSRC enviou ao Conselho de Supervisão de Contabilidade de Empresas Públicas dos EUA (PCAOB) uma nova proposta, que permitiria aos norte-americanos escolherem qualquer uma de suas empresas estatais para outra avaliação. A China, entretanto, ainda insistiria em editar algumas informações "devido a preocupações com a segurança nacional", uma condição que Fang descreveu como uma norma internacional.

"À medida que ambos os lados ganham confiança, podemos prosseguir para lidar com essas questões delicadas para que ambos os lados fiquem satisfeitos”, disse Fang. “Eles [os EUA] têm um senso maior de urgência. Somos muito sinceros, mas, por outro lado, também levamos a sério a proteção das informações de segurança nacional”.

Em entrevista ao canal de notícias Bloomberg, o executivo afirmou que entrou em contato com os EUA para realizar uma reunião por vídeo ou telefone, mas ainda não obteve resposta. Quanto às razões de outro projeto piloto de auditoria não ter ocorrido desde 2017, Fang disse que a não realização se deu devido à "atmosfera geral".

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Em setembro de 2019, o vice-presidente da CSRC foi aos Estados Unidos para tentar resolver o problema das auditorias. No entanto, o presidente do PCAOB, William D. Duhnke III, se recusou a encontrá-lo e, em vez disso, ele enviou um de seus chefes de departamento. No passado, no entanto, o corpo executivo do PCAOB era mais aberto ao diálogo com o governo chinês.

Busca por investimentos

A prolongada disputa comercial entre China e EUA vem perturbando os mercados nos últimos três anos. E agora, as tensões entre os dois países estão se espalhando para os setores financeiro e de tecnologia, principalmente depois do aumento da repressão do governo chinês em Hong Kong, um território que gozava de maior autonomia e que resultou em ameaças de sanções por parte das nações ocidentais.

Fang disse que ninguém tem a ganhar com um desacordo financeiro entre EUA e China e que isso seria ruim para Nova York, principal centro financeiro mundial, e também para as empresas chinesas listadas na bolsa de lá.

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As disputas estão se desenrolando em um cenário em que a China, este ano, pretende abrir seus mercados financeiros mais plenamente para os bancos gigantes de Wall Street, como o Goldman Sachs. O governo chinês conta com eles para fornecer novos investimentos e promover uma indústria local mais competitiva. "Isso ocorreu sem obstáculos, com a maioria das aprovações concedidas às instituições financeiras dos EUA e deve ganhar ritmo à medida que a economia chinesa se recupera", disse Fang.

“A presença de investidores estrangeiros em nosso mercado forneceu uma espécie de âncora”, disse ele. “Ela ajudará a promover a qualidade de nosso mercado acionário. Tanto do ponto de vista da demanda, quanto da oferta, espero que a participação estrangeira em nosso mercado, tanto na prestação de serviços ou de capital, seja acelerada”.

Trump contra a China

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As conversas para uma auditoria americana em empresas chinesas vêm ocorrendo em um momento em que o governo de Donald Trump vem investindo pesado contra algumas das mais proeminentes companhias do país asiático: Huawei, TikTok e WeChat.

Contra a Huawei, a briga tem como pano de fundo a corrida do 5G. Trump acusa a empresa de praticar espionagem a serviço do governo chinês, ainda que não tenham apresentado provas a respeito. A companhia foi proibida de fornecer equipamentos de infraestrutura para as redes móveis de quinta geração das operadoras norte-americanas e também vem sofrendo o mesmo boicote em outros países aliados dos EUA, como o Reino Unido. Além disso, o Departamento de Comércio americano ampliou as restrições anunciadas em maio deste ano, com o objetivo de impedir que a fabricante chinesa obtenha semicondutores sem uma licença especial - e isso inclui chips feitos por empresas estrangeiras, mas que foram desenvolvidos ou produzidos com software ou qualquer outra tecnologia criada nos EUA. A medida vem impactando o desenvolvimento de processadores para os smartphones da marca.

No começo de agosto, Trump emitiu uma ordem executiva que prevê a interrupção das operações do TikTok e do WeChat em território norte-americano. Em comunicado emitido pela Casa Branca, em 45 dias, os envolvidos serão proibidos de realizar qualquer transação com empresas e cidadãos dos EUA. Na prática, isso significa um bloqueio aos serviços nas lojas de aplicativos e o acesso à atualizações.

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No caso do TikTok, a sua controladora, a ByteDance, estaria negociando a venda das operações norte-americanas da plataforma de vídeos curtos com empresas como Microsoft, Oracle, entre outras. Trump deu um prazo de 90 dias para que a transação seja efetivada. Caso contrário, o app teria seu funcionamento interrompido no país.

Mas a história com o WeChat é mais complicada. O app é uma espécie de faz-tudo da população chinesa em seu dia a dia, já que integra uma infinidade de serviços. E um smartphone na China que não traga esse superapp vira uma espécie de "peso de papel de luxo". E isso, claro, impacta diretamente uma das principais empresas dos norte-americanas: a Apple.

Isso porque entre um iPhone sem o WeChat e um smartphone que traga o aplicativo, os chineses vão com a segunda opção. Ou seja, a Apple deixará de vender seus aparelhos no país asiático, bem como perderá receitas envolvendo a App Store. E hoje, a China é o terceiro maior mercado da Maçã, representando quase 20% do seu faturamento.

Tamanho pode ser o prejuízo que, para o analista Ming-Chi Kuo, especializado em Apple, um eventual banimento do WeChat na App Store chinesa poderia provocar uma queda de até 30% nas vendas globais do iPhone, além de 25% em outros dispositivos da marca.

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Para completar o cenário, um eventual banimento do WeChat também pode atingir outras empresas que têm negócios com a China. Companhias como Tesla, Nike Amazon, Ford, Starbucks, entre outras, também verão seu faturamento comprometido. Isso porque muitas delas usam os mini programs, sub-aplicações executadas dentro do ecossistema do WeChat, que funcionam como minilojas virtuais. E caso o WeChat seja banido do iPhone, eles deixarão de comercializar seus produtos e serviços em 228 milhões de aparelhos da Maçã que estão ativos em território chinês.

Fonte: Bloomberg