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Sucesso de Fortnite criou um ambiente de trabalho abusivo na Epic

Por| 24 de Abril de 2019 às 11h58

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Sucesso de Fortnite criou um ambiente de trabalho abusivo na Epic
Sucesso de Fortnite criou um ambiente de trabalho abusivo na Epic

O sucesso imenso do modo battle royale de Fortnite foi uma grata surpresa para os executivos da Epic Games, pois proporcionou um lucro recorde e crescimento em um ritmo que nunca havia sido esperado por ninguém. Mas, como é cada vez mais comum no mercado de videogames, esse crescimento além do esperado acabou não trazendo boas notícias para os desenvolvedores do jogo.

Diversos funcionários e ex-funcionários da empresa revelaram em entrevista ao Polygon (sob condição de anonimidade) sobre a cultura de “crunch” (palavra em inglês usada para indicar longas jornadas de trabalho diárias sem pausas ou folgas) e o ambiente de trabalho abusivo que o crescimento do jogo acabou criando na Epic.

De acordo com esses funcionários, fazer horas extras para cumprir os cronogramas da empresa sempre foi algo que existiu, mas era algo raro e que permitia que essas pessoas se programassem. Mas, com o sucesso repentino de Fortnite, isso acabou mudando, tornando-se normal que a empresa exigisse dessas pessoas uma jornada de trabalho entre 70 e 100 horas semanais — o que significava que, caso essas pessoas quisessem ter um final de semana livre para descansar com a família, teriam de trabalhar entre 14 e 20 horas por dia (a nível de comparação, a jornada de trabalho padrão nos Estados Unidos é de 8h por dia).

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Essa nova cultura acabou tornando o ambiente de trabalho, que antes era bem tranquilo, em um lugar bastante abusivo, com funcionários reclamando continuamente de stress e ficando doentes por conta do excesso de trabalho. E, ainda que a empresa não obrigasse as pessoas a trabalharem durante os finais de semana, ela tinha a cultura de demitir aqueles que escolhiam não fazer horas extras, o que acabava por fazer que os funcionários sentissem ser obrigados a trabalharem além do estipulado em contrato todos os dias. E, por conta do esquema sazonal de lançamentos de conteúdos para Fortnite, que recebe uma grande atualização a cada três meses, muitos desenvolvedores se desesperam e entram em depressão por não terem perspectiva de que esse trabalho um dia irá acabar.

Outras decisões tomadas pelo estúdio para lidar com o crescimento do jogo também ajudaram a criar essa cultura, como o aumento repentino no número de funcionários — por exemplo, a equipe de suporte do jogo passou, do dia para noite, de 40 para 3.000 pessoas, e os funcionários mais antigos precisavam, além de focar no próprio trabalho (cuja demanda havia aumentado muito), auxiliar no treinamento e aclimatação desses novos contratados, o que aumentava em muito o stress da equipe.

Outro problema bem comum era a quantidade de demissões que ocorreram durante o período, com diversos funcionários se esforçando para aguentar as pontas até a data de pagamento dos bônus por participação nos lucros — que, por conta dos lucros muito acima do esperado, muitas vezes chegavam a ser até três vezes maiores que os próprios salários — para então pedirem demissão por motivos de saúde mental e até mesmo física.

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Procurada antes da publicação da reportagem, um porta-voz da Epic confirmou que diversos dos problemas citados na matéria são reais, mas que a empresa tem se esforçado para remediá-los. Ela afirma que jornadas de trabalho de 100h semanais são bastante raras e que a empresa tem criado mecanismos para que elas sejam cada vez menos recorrentes.

A Epic também afirma que muitos desses problemas citados por funcionários foram decorrentes do crescimento muito rápido e inesperado de Fortnite, que não permitiu que a empresa se preparasse e fosse incrementando a equipe aos poucos. Para evitar que seus funcionários se sintam mais esgotados do que já estão, a empresa criou uma cultura de garantir a todos dois períodos de férias anuais obrigatórias, para que possam descansar e colocar a cabeça no lugar.

Fonte: Polygon