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Análise | Em dupla, Wolfenstein: Youngblood faz matar nazistas ser mais difícil

Por| 01 de Agosto de 2019 às 09h38

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Análise | Em dupla, Wolfenstein: Youngblood faz matar nazistas ser mais difícil
Análise | Em dupla, Wolfenstein: Youngblood faz matar nazistas ser mais difícil

O mundo da série Wolfenstein, uma das pioneiras dos jogos de tiro em primeira pessoa e renovada na atual geração pela Machine Games, é um dos mais interessantes do mercado atual de games. Com bases históricas sólidas para criar um mundo completamente tresloucado, o game se posiciona como um bastião da jogatina old school, da mesma forma que se aproveita de tecnologias atuais para criar uma jogabilidade sólida, visceral e desafiadora.

Essa mistura do passado com futuro também se reflete na trama, situada em um mundo no qual os nazistas ganharam a Segunda Guerra Mundial, com direito a avanços tecnológicos, armamentos e cultura pop afetadas pelo domínio do Terceiro Reich. Estamos em um passado futurista reconhecível, mas ao mesmo tempo bem diferente da nossa realidade, um universo alternativo de opressão, violência e loucura. E o jogador, na pele de B.J. Blazkowicz, está do lado oposto disso tudo.

Wolfenstein: Youngblood, então, representa mais uma destas misturas do velho com o novo. No terceiro game da série, a desenvolvedora Machine Games salta 20 anos no futuro de sua linha do tempo e, ao mesmo tempo, aborda mais uma mecânica do mercado atual, o modo cooperativo, para colocar o jogador na pele das filhas de B.J., Soph e Jess, que se envolvem com a resistência francesa enquanto buscam pelo pai desaparecido.

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Mais do que isso, o título abre mão de sua linearidade para mostrar os diferentes focos do combate nos bairros de Paris, contando uma história que é cadenciada por side quests e elementos secundários, que formam o panorama do conflito e, também, deste mundo duas décadas adiante da última vez que o visitamos. Boas ideias que, infelizmente, carregaram consigo alguns erros de sempre da franquia, enquanto adicionaram novos para tornar o combate ainda mais violento e complicado.

Máquinas arcaicas

Wolfenstein: Youngblood foi desenvolvido do zero como uma experiência compartilhada, o que significa que Jess e Soph estarão juntas durante toda a jornada. Entretanto, de forma a não orfanizar sua base usual de jogadores, a Machine Games fez uma promessa de que o título seria plenamente jogável sozinho, com a IA assumindo o comando da parceira. Tecnicamente, isso é verdade; mas bastam algumas horas de contato com o game para perceber que a experiência, assim, passa bem longe do usual.

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Durante o combate, a personagem controlada pela inteligência artificial é competente, acertando disparos, usando as devidas armas contra os oponentes e dando incentivos que aumentam estatísticas de energia, com um upgrade muitas vezes necessário para enfrentar os desafios. Basta cair no chão ou precisar de ajuda, entretanto, para perceber que o robô não é tão amigo assim.

Os momentos de ressuscitação, sempre presentes em títulos dessa categoria, estão entre os mais lamentáveis de Wolfenstein: Youngblood. É enervante estar caído, ferido e precisando de ajuda diretamente ao lado de uma irmã que, simplesmente, se recusa a auxiliar. Não é como se ela estivesse limpando o cenário ou lidando com inimigos, mas em determinados momentos ser a maluca do gatilho parece mais importante do que ajudar um familiar ferido em combate.

O contrário também é verdadeiro, fazendo com que Jess ou Soph muitas vezes permitam serem cercadas por oponentes, morrendo bem no meio deles. Novamente, uma situação lastimável enquanto a IA pede ajuda sob fogo pesado e o jogador se vê com duas opções: encarar o dano inevitável para tentar resgatar a personagem ou desperdiçar uma das limitadas e restritas vidas extras implementadas pela Machine Games como mais uma mecânica old school.

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Ao aplicar essa ideia, a produtora também economizou nos checkpoints, fazendo com que morrer seja sinônimo de retornar ao começo da fase. Acredite: mesmo nas dificuldades mais baixas, você passará pelos mesmos lugares e repetirá alguns objetivos inúmeras vezes até conseguir vencer um desafio. E quando se nota que o game está sempre jogando contra o usuário, a cena não é das mais bonitas.

Como sempre acontece na franquia, a sensação passada por Wolfenstein: Youngblood é de desequilíbrio. Isso se deve ao fato de estarmos enfrentando forças muito mais poderosas e armas, mas, também, surge por meio das próprias ideias de jogabilidade aplicadas pela desenvolvedora. O game é um FPS dos mais violentos e viscerais, sim, mas também é um que faz o jogador pensar a cada movimento, mas não de um jeito divertido. E se estiver jogando "sozinho", a coisa fica ainda pior.

Outros elementos intrínsecos na arquitetura construída por Wolfenstein: Youngblood contribuem para esse sentimento. O novo game abre mão da linearidade em prol de um mundo quase aberto, com missões principais e secundárias que podem ser abordadas na ordem que o jogador quiser. Mais do que isso, entra em cena um sistema de níveis que traz ares de RPG ao game e interferem tanto no poder de fogo das personagens quanto no dos vilões.

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Ao selecionar seu caminho, o jogador sempre deverá estar de olho nos números, e eles jamais perdoarão. Se antes Wolfenstein já era adepto dos inimigos de armadura, as péssimas "esponjas de balas", com o sistema de evolução esse aspecto só se intensificou. E, novamente, retorna a sensação de desequilíbrio quando damos um tiro de escopeta certeiro na testa de um nazista que, ao sofrer esse dano, nem mesmo pisca, enquanto ataca de forma ainda mais feroz.

Logo nas primeiras fases, robôs gigantes, torretas de laser ou cachorros com explosivos amarrados ao corpo mostrarão que a resistência francesa tem um grande desafio pela frente e que retomar Paris não será uma tarefa simples. Enquanto a munição não é abundante e o total de vidas menos ainda, se forma um círculo vicioso de dificuldade, tentativas, erros e muitas mortes, enquanto a melhoria de habilidades, características dos equipamentos e a subida de nível das personagens serve como aparente sinal de que tudo vai ser diferente na próxima vez, mas logo percebemos que não.

Problemas no caminho

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Se fosse uma linha reta, Wolfenstein: Youngblood seria um título relativamente curto para os padrões atuais dos grandes títulos de mundo aberto, uma categoria na qual ele, na realidade, não se encaixa direito. Mesmo com uma jogabilidade que corre nessa direção, e aqui percebemos a excelência da Arkane em criar cenários com diferentes caminhos e formas de se explorar, bem como vetores de ataque e defesa para os jogadores, o título não tenta perder seu foco no enredo.

Isso se traduz em longas cutscenes, que contam bastante coisa de uma vez, e também dezenas de documentos, gravações e elementos de cenário, todos contando uma história. O lore, aqui, é tão intenso quanto a ação, caso o jogador se interesse por ele, e há muito espaço para exploração e experimentação, algo que, novamente, esbarra na barreira de espinhos que é a dificuldade desbalanceada do jogo.

Nota-se, entretanto, um elemento esquisito no visual de Wolfenstein: Youngblood. O game é belo e vale a pena prestar atenção nos efeitos de iluminação dos cenários, bem como nos diferentes detalhes das áreas internas. Isso é verdade mesmo nas versões básicas dos consoles, entretanto, nas cenas de corte, a qualidade cai um bocado, não o suficiente para incomodar, mas de maneira perceptível.

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Texturas, aqui e ali, são carregadas diante dos olhos do jogador, enquanto alguns momentos de queda na taxa de quadros por segundo são notáveis, caso o jogador não esteja analisando o plano de fundo em busca de referências, piadolas ou outros elementos culturais dessa linha do tempo alternativa. É como se, nas cutscenes, o game fosse o mesmo das duas iterações passadas, enquanto as melhorias na engine aparecem de forma marcante na jogatina, que é o que acaba importando mais no final das contas.

Uma falta de acabamento, entretanto, é notável nestes momentos. Durante nosso processo de análise, um bug de áudio aparecia em alguns momentos de gritaria ou tiroteio mais intenso, como se um cabo estivesse com mal contato e fazendo o som oscilar. Ditorções visuais também aparecem aqui e ali, além das sempre presentes falhas de conexão que, felizmente, não interferem no progresso devido ao sistema drop-in/drop-out implementado pelos produtores de Wolfenstein: Youngblood. Pelo menos isso, já que voltar para o começo de tudo após ser dilacerado por lasers nazistas já é ruim o bastante.

No cálculo final dos números desse combate, Wolfenstein: Youngblood acaba, mesmo, se posicionando como uma experiência essencialmente cooperativa. Isso se deve ao fato de, sozinho, o jogo muitas vezes se tornar um martírio, enquanto a dificuldade extrema e o retorno aos mesmos trechos do mapa para a realização de diferentes missões faz com que, ao lado de um amigo, a experiência se torne mais divertida e menos penosa.

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Por outro lado, o salto do game em direção a novas mecânicas, elementos e uma pegada diferente, mesmo que mantendo muito do original, transformou o título em algo aquém do nome que carrega no título. Temos no jogo, sim, o mesmo universo criativo e interessante de sempre, agora carregado com mais de 20 anos de evolução e novos conceitos, e isso sempre vai ser interessante. Entre as cutscenes, porém, está o grande espírito de um game que deixa muito a desejar.

Ninguém jamais disse que seria fácil, mas ao aplicar mecânicas antigas e novas de maneira um bocado desbalanceada, a Machine Games cria um título desequilibrado, com uma sombra que ofusca o brilho de seus aspectos mais chamativos. Mesmo de dois, vencer o combate contra os nazistas parece mais difícil - e irritante - do que jamais foi.

Wolfenstein: Youngblood foi testado no PlayStation 4 em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Bethesda.