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Wolfenstein 2: The New Colossus é um mar de autoritarismo, insanidade e sangue

Por| 07 de Novembro de 2017 às 09h53

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Wolfenstein 2: The New Colossus é um mar de autoritarismo, insanidade e sangue
Wolfenstein 2: The New Colossus é um mar de autoritarismo, insanidade e sangue

Oposições e revoluções são importantes em qualquer sistema político, mas o que acontece quando, do outro lado, estamos diante das facetas mais violentas do autoritarismo? Wolfenstein II: The New Colossus coloca o jogador de volta em um mundo no qual o nazismo venceu a Segunda Guerra Mundial, tomando conta do globo, e, mais do que isso, começa com a seguinte pergunta: valeu a pena ter lutado?

Estamos de volta à pele do herói B.J. Blazskowicz, um dos primeiros e mais clássicos heróis dos games de ação, e como sempre, um estereótipo do “machão”. Logo nos momentos iniciais do game, ele perde até mesmo essa faceta – o que temos aqui é alguém completamente destruído, não apenas pelos eventos do primeiro jogo da série, The New Order, mas também psicologicamente.

Em um traço que permeia praticamente toda a aventura desenvolvida pela Machine Games, temos um herói que se questiona. Não em termos filosóficos ou morais, mas de forma essencialmente pessoal. Ele perdeu seu corpo e muitos entes queridos na dedicação a uma causa, que parece se fortalecer ainda mais na medida em que corpos de nazistas caem baleados. A pergunta que B.J. se faz diversas vezes é: vale a pena lutar?

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É uma questão que tem múltiplas respostas e elas nem sempre são claras e diretas, levando o jogador a um universo de insanidade, passando pelo autoritarismo extremo do regime nazista global à loucura de alguns de seus líderes, principalmente daqueles envolvidos diretamente na luta contra a resistência liderada pelo protagonista, e, principalmente, a um banho de sangue e balas.

A única verdade clara aqui é que Wolfenstein II: The New Colossus deve agradar, e muito, aos amantes dos jogos de tiro, principalmente aqueles que presenciaram o surgimento dessa indústria, entre o final dos anos 1980 e o começo da década seguinte.

Difícil como no passado, e mais

Assim como seu antecessor, este game é baseado em princípios que não se veem exatamente por aí. Ao contrário dos jogos de hoje em dia, a munição não é exatamente abundante e existem diferentes armas para se encarar desafios variados. A mesma abordagem dificilmente vai servir para todas os desafios do game.

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Mas, mais do que isso, a energia do personagem é algo a ser levado em conta durante todo o tempo. Em Wolfenstein II: The New Colossus, B.J. tem apenas 50 pontos de vida e nenhuma regeneração automática (na verdade, ela existe, mas somente entre 1 e 10, quase nada para os desafios que estão adiante). Para se recuperar, é preciso encontrar armaduras, felizmente abundantes, e itens de cura, que não aparecem tanto assim.

É uma conjuntura que pode complicar a vida do jogador, adicionando um quê de estratégia aos combates. Correr pode ser uma solução para um momento de fragilidade? Provavelmente não, já que os soldados nazistas têm uma mira boa e ainda aprecem, muitas vezes, acompanhados de robôs capazes de causar um belo dano. Usar as coberturas e tentar cercar os oponentes também pode servir, com cada jogador tendo de trabalhar para achar a melhor forma de avançar, enquanto morre bastante no progresso.

Isso acontece mesmo nas dificuldades mais baixas e também denota um problema que é recorrente. Assim como em The New Order, a Machine Games pesa a mão em alguns momentos, provavelmente na intenção de mostrar o tamanho da mão nazista contra a pífia rebelião de B.J., transformando momentos de combate em verdadeiros martírios para o jogador.

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Existem, pelo menos, dois trechos desse tipo no game – longos momentos de enfrentamento contra uma gigantesca quantidade de inimigos de todos os tipos, com poucos recursos como vida e munição espalhados pelo caminho. E, ainda, estamos nas mãos de um sistema de salvamento automático que, muitas vezes, registra o progresso do jogador em pleno fogo cruzado e deixa pouco espaço para manobra.

Em três momentos de nosso processo de análise, nos vimos perdendo algumas horas em trechos específicos de Wolfenstein II: The New Colossus. Perdíamos vida preciosa assim que o game era recarregado, pois estávamos diretamente na mira dos inimigos, e diferentes estratégias resultavam no mesmo desfecho: a morte de B.J. Reiniciar o game do zero seria uma boa opção nestes momentos, mais uma demonstração da falta de balanceamento em alguns pontos da aventura.

Não ajuda, também, o fato de estarmos diante de soldados capazes de resistirem a diversos tiros de rifle diretamente no peito. Não são poucos os momentos em que um disparo certeiro na cabeça não ocasionará a morte do oponente, enquanto uma explosão apenas o derrubará no chão. A maior arma do exército nazista parece ser a infantaria esponja de bala. Assim fica fácil.

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Felizmente, na maior parte do tempo Wolfenstein II: The New Colossus caminha bem no limiar entre desafio e diversão. Quem gosta de sofrer pode optar pelas dificuldades mais altas, mas mesmo nas baixas não vai dar para dizer que o jogo é um passeio. Atirar em nazistas e ver inimigos robóticos derretendo sob o calor de lasers é tão gratificante quanto sempre foi. Vale, ainda, um destaque para o som, principalmente no disparo das armas e na interação entre os oponentes, que demonstram medo diante dos avanços do protagonista e até podem discutir entre si durante os confrontos.

Todo mundo importa

Apesar de não ser exatamente um game com primor narrativo, a história de Wolfenstein II: The New Colossus chama bastante atenção. E tudo começa com uma distopia bastante interessante, que coloca o jogador, mais uma vez, em uma América dominada pelo nazismo e, pior de tudo, com um povo que abaixou a cabeça diante do domínio nazista e, pior de tudo, colabora com ele.

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Esse ensejo, aqui, acaba se misturando também com a vida pessoal de B.J., com um olhar sobre sua infância e crescimento sendo um dos primeiros motes do título e fruto de boa parte de sua desesperança. O restante vem do fato de ele, simplesmente, não ser mais o mesmo. O herói superpoderoso de sempre, aqui, está caído e fraco. A importância diante de um inimigo tão poderoso e aparentemente inabalável é desesperadora.

Soa incrivelmente interessante a aparência de fragilidade que o enredo de Wolfenstein II: The New Colossus dá para um protagonista que é o estereótipo do herói de ação. E no momento em que tudo se resolve, bizarro e ao mesmo tempo totalmente adequado à loucura que presenciamos, a sensação de estranhamento permanece e fica conosco até a subida dos créditos finais.

Mas não é apenas o universo geral do título que é bem construído, a “casa” de B.J. também recebe atenção. Ele não age sozinho, mas ao lado de um grupo de rebeldes com características bem específicas e personalidades próprias, além de diálogos que unem a coisa toda e fazem com que o jogador se importe com cada um dos que estão ali.

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Eles são, afinal de contas, o que soa como a última lembrança do mundo como ele era antes, sem o autoritarismo nazista e uma visão de mundo bastante diferente daquela que vemos no título. Os personagens secundários guardam, também, algumas das principais críticas sociais que vemos em todo o jogo.

A última grande força de Wolfenstein II: The New Colossus está no quanto o game é atual. Temos uma história que se passa nos anos 1960, mas que, ainda assim, dialoga muito com o estado atual de intolerância, desrespeito e, muitas vezes, idiotice do mundo em que vivemos hoje. E isso vai bem longe da coincidência história de um game cujo mote é “matar nazistas” estar saindo, justamente, em um ensejo de ressurgimento dessa doutrina.

Temos, ao longo de todo o enredo, uma série de diálogos nesse sentido. Temos nomes bem reais, como a Ku Klux Klan, ganhando força sob um governo que apoia e pelo qual é apoiado. Do outro lado, um grupo rebelde extremamente diversificado, com gente de diferentes orientações, raças e passados se tornando o último bastião de resistência.

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O intuito, aqui, é o retorno à normalidade, ou nem tanto. É uma história de posicionamento contra o autoritarismo e o domínio por um regime que representa tudo o que há de podre e amaldiçoado no mundo. Tudo isso embalado em um shooter dos mais divertidos, que apesar de seus diversos problemas, representa exatamente aquilo que os fãs vinham esperando (e um pouco mais).

Em um mercado que parece cada vez mais voltar seus olhos para a monetização oriunda das microtransações e apostar completamente na jogatina multiplayer, ver um título como este saindo das mãos de uma empresa como a Bethesda soa como um sopro de ar fresco. Wolfenstein II: The New Colossus é a prova de que ainda é perfeitamente possível se divertir, sozinho, no sofá da sala, em meio a um tiroteio absurdo. E, no final das contas, ainda aprender algumas coisas com tudo isso.

Wolfenstein II: The New Colossus foi analisado no PlayStation 4 com cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Bethesda.