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Análise | Sea of Thieves é pedra fundamental de um mundo que pode ser promissor

Por| 28 de Março de 2018 às 11h17

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Análise | Sea of Thieves é pedra fundamental de um mundo que pode ser promissor
Análise | Sea of Thieves é pedra fundamental de um mundo que pode ser promissor

Sea of Thieves marca o glorioso retorno da Rare aos grandes blockbusters. A empresa, cuja história foi construída à base de grandes nomes como Donkey Kong Country, Goldeneye 007 e Banjo & Kazooie, há anos trabalhava exclusivamente com o Kinect, finado sensor de movimentos da Microsoft para a linha Xbox. Esse mergulho literal em um mundo de pirataria e busca ao tesouro é, para a empresa, também, um retorno à sua velha forma.

Como se essa volta, por si só, já não fosse grandiosa o bastante, temos aqui vários outros fatores à fórmula de pressão e antecipação. Sea of Thieves é um dos grandes lançamentos de 2018, e, não apenas isso, também é uma das principais propostas da Microsoft para PCs e Xbox One neste ano, além de marcar mais uma mudança de paradigma no mercado, sendo o primeiro lançamento exclusivo a chegar ao Game Pass, programa de assinaturas que funciona mais ou menos como a Netflix, só que para games.

É uma panela de pressão que, em meio a exibições na E3, vistas de longe pelo público brasileiro, e experimentações grandiosas oferecidas durante a BGS, só aumentava o hype para o título. Tudo parecia estar correndo bem, como em um navio com velas escancaradas e voltadas na direção correta, controlado por uma tripulação entrosada e que sabe o que está fazendo.

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O que, então, poderia dar errado? Não muita coisa, como quem jogou o game já pode perceber. Entretanto, ainda assim, Sea of Thieves apresenta um resultado aquém do esperado por toda a antecipação gerada antes de seu lançamento. Não se engane, temos aqui um grande título, mas ele é como um barco incrivelmente bem construído, mas pequeno. Falta um pouco mais para que ele seja lembrado entre as grandes embarcações da história.

Desde já, porém, dá para prever com alguma certeza de que isso, provavelmente, vai acontecer. Isso porque o trabalho mais difícil já foi feito, com a mesma excelência à qual, há anos, associamos a marca da Rare. Sea of Thieves apresenta um dos conjuntos gráficos mais bonitos de toda a geração, principalmente quando observamos os cenários e o funcionamento do mundo.

Fica difícil destrinchar o visual em elementos, já que todos ali contribuem para o mundo fabuloso que vamos explorar. Mesmo assim, a água merece uma menção especial, pois temos aqui um dos melhores efeitos do tipo já vistos em um jogo. Ela pode não se comportar muito bem no interior do barco, mas de fora, na imensidão do mar, observar as ondas interagindo entre si e a maneira como tudo influencia no balanço do navio é um show à parte.

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Mesmo com o foco sendo a navegação, o que já exigiria um trabalho apurado por si só quando o assunto é a água, o que vemos aqui é uma Rare que vai além da conta. Dá para deixar o barco parado e perceber correntezas te levando, observar animais passando de vez em quando e sofrer com o timão em meio a uma tempestade – um dos maiores desafios do título, diga-se de passagem.

Estamos em um mundo de piratas, afinal de contas, e enxergar à distância é essencial. O cuidado gráfico aparece aqui, sem que os elementos se confundam ao longe, mas, ao mesmo tempo, entregando aquela dificuldade de se enxergar na transição entre o dia e a noite. Mesmo nas configurações mais baixas, não há problemas em observar o que está ao longe enquanto a luneta faz o seu papel de, efetivamente, ajudar a enxergar e não apenas dar um zoom na mesma imagem que vemos a olho nu.

Aliás, Sea of Thieves tenta ser, na medida que os gráficos cartunescos e certas liberdades criativas permitem, uma reprodução fiel de como era navegar e explorar naquela época. Isso significa nada de GPS, marcadores ou indicadores – apesar de o navio atualizado em tempo real no mapa disponível na embarcação ser uma colher de chá importante. Com exceção de marcadores de energia e munição, a interface é limpa e deixa o jogador livre para seguir como quiser.

E é aqui, infelizmente, que começam os problemas...

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Pequenos (e grandes) vacilos

A presença de tutoriais é uma anedota constante, principalmente quando eles são básicos à exaustão. Basta um mínimo de intimidade para saber, por exemplo, que o botão A confirma, enquanto o gatilho traseiro esquerdo serve para atirar. Ainda assim, alguns jogos tratam os usuários como recém-chegados na vida, prendendo-os a uma aula de comandos básicos e comuns que tornam o processo mais lento e incrivelmente enfadonho.

Sea of Thieves, porém, está no extremo oposto desse espectro. O game utiliza comandos básicos como rodas de itens e dinâmicas comuns em títulos em primeira pessoa que dispensam apresentação para muita gente. Ao mesmo tempo, entretanto, o jogador é lançado à própria sorte em um mundo que ele não tem a menor ideia de como funciona, precisando descobrir absolutamente tudo sozinho.

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Após um processo de seleção de personagem simples, mas sem as ferramentas de criação comuns de títulos que bebem das fontes do MMO – algo que pode frustrar muita gente e alegrar outros, que não têm paciência para isso – acordamos no bar. E é isso. Não sabemos o que temos que fazer, para onde ir nem quais são nossos objetivos agora.

Descobrir o ponto de coleta de missões, como ativá-las no barco e a maneira de seguir até elas é um trabalho que fica totalmente por conta do jogador. Ao mesmo tempo, não dá para ler nem mesmo uma descrição dos objetivos antes de aceitá-los, nem como saber qual o tamanho do pagamento, impedindo a gente de saber se a viagem vale a pena.

A Rare não pega na mão do pirata virtual nenhuma vez e, como dito, o barco que se movimenta em tempo real pelo mapa é a única colher de chá em um mundo como o dos antigos. Isso significa que, de forma bem interessante, você terá que se guiar pela bússola para seguir rumo ao destino, levar em conta o vento para não ser jogado contra um recife e analisar mapas e cenários para encontrar tesouros escondidos. Essa diversão, entretanto, aparece somente após os primeiros momentos de desorientação, causados por um título que não indica nenhum caminho.

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Mas, ainda assim, você segue em frente e vai coletando arcas, matando caveiras inimigas e coletando seus crânios, tudo sonhando com ouro e garrafas de rum. E, então, encontra mais um obstáculo dos mais incômodos, que chega até a soar estranho em um game com tanto cuidado envolvido – somente é possível carregar um loot por vez.

É claro, isso até faz sentido quando falamos em arcas de tesouro, cheias de ouro e pedras preciosas pesadas. Entretanto, a ideia não funciona bem quando o artigo transportado é um crânio ou uma caixa em que está apenas uma galinha, mesmo que, claramente, exista espaço para mais aves ali. Não dá para empilhar nada nem usar uma bolsa e, tudo o que resta, quando se acumulam itens, é fazer várias viagens do navio estacionado na costa até a companhia que ordenou a missão cumprida.

Da mesma forma, não é possível aceitar mais de uma missão por vez, o que tornaria a navegação pelos sete mares bem mais otimizada. Diante de diversos destinos e diferentes pontos de interesse, o jogador poderia muito bem melhorar seu trajeto para maximizar o lucro ou evitar perigos, realizando objetivos em sequência na medida em que vai encontrando as ilhas que servem como destino. Mas não, assim como na hora de descarregar, Sea of Thieves é adepto de uma coisa de cada vez.

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É claro, uma vez que a missão é completada, o tesouro é seu e você pode seguir para o próximo objetivo. Entretanto, assume o risco de ter um barco lotado de ouro roubado por outro jogador ou afundado por balas de canhão e barbeiragens ao timão. Em um mundo aberto conectado e vivo, seria interessante ter opções para tornar as coisas mais fáceis.

São erros de game design de diferentes escalas que não levam em conta o conforto do jogador e simplesmente não possuem razão de existir. Frutos, queremos pensar, de uma desatenção e não de uma decisão deliberada. No passado, claro, não tínhamos GPS e, ainda hoje, não enxergamos waypoints em nossa frente o tempo todo. Desde sempre, entretanto, a humanidade sabe utilizar as duas mãos ao mesmo tempo.

Pouco para seguir adiante

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Essa progressão mais lenta esbarra também na falta de variedade das missões disponíveis. Como dito, existem poucas companhias disponíveis e todas apresentam objetivos sempre iguais – você precisa matar um líder esqueleto, caçar animais para entrega ou encontrar tesouros escondidos. Além disso, fortes inimigos surgem de tempos em tempos durante a navegação, enquanto grandes raids disponíveis para todos os jogadores apresentam perigos maiores e loots de qualidade.

Nesse ensejo, muito do mundo enorme e cheio de promessas de Sea of Thieves acaba se esvaziando. Ao zarpar, o jogador tem a sensação de que existe muito a ser descoberto, entretanto estará sempre repetindo as mesmas missões – que deixam uma sensação de que, na verdade, todo o conteúdo foi explorado na íntegra em poucas horas.

Para piorar as coisas, as recompensas não são lá muito polpudas e há grande dissociação entre o preço de itens – todos cosméticos, com exceção de armas adicionais, com apenas duas podendo ser carregadas por vez – e o valor recebido. A evolução do personagem em si acontece de maneira relativamente rápida, habilitando novos objetivos e missões mais perigosas, que nos levarão a grandes distâncias e gerarão mais dinheiro. Entretanto, ainda assim, o jogador pena bastante para adquirir roupas e ornamentos para o navio.

Não se surpreenda ao ver um amigo ainda de ceroulas e apenas com um tapa-olho transado, mesmo depois de várias horas de jogatina. É assim mesmo, temos que galgar muitos degraus para chegar lá. Ninguém disse que enriquecer seria fácil, mas aqui, em um jogo, não precisava ser tão difícil também.

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Tudo pelo social

É jogando sozinho que o usuário lidará diretamente com a maior parte das dificuldades, mas é na união com os amigos que está a maior força de Sea of Thieves. O mundo lindo, dinâmico, mas não tão cheio assim de objetivos foi feito, quase que especificamente, para uma jogatina cooperativa. Encontrar uma tripulação comprometida e que sabe o que está fazendo, com cada um cumprindo sua opção, é coisa das mais bonitas.

Entretanto, é nesse exato mesmo princípio que os maiores defeitos e qualidades do título entram em conflito. Navegar pelos mares nunca foi tão instigante e divertido, assim como encarar os perigos das ilhas e das raids em grupo com os parceiros. Por outro lado, é nisso que se concentra a experiência de Sea of Thieves, com a recompensa para realização das ações nem sempre sendo das mais interessantes.

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O sistema de progressão lento, a falta de intuitividade e, principalmente, conteúdo variado como o mundo aberto criado pede acabam sendo a maior tormenta a ser enfrentada pelos jogadores de Sea of Thieves. Como dissemos no começo desta análise, a maior parte do serviço já foi feito pela Rare, que nos entrega o que é, potencialmente, um dos melhores sandboxes desta geração.

O problema é que, pelo menos por enquanto, tudo é exatamente isso – potencial. O jogo carece de atualizações, incrementos e, principalmente, mais conteúdo, na forma de missões mais interessantes e que realmente nos levem a explorar os segredos desse universo. Eles estão ali, sabemos disso, mas há pouco que nos incentive a, efetivamente, chegar lá. Caso a própria vontade de conhecer tudo isso chegue ao fim, entretanto, não restará mais nada para atrair os jogadores de volta a Sea of Thieves - pelo menos, até uma grande atualização.

* Sea of Thieves foi analisado no PC em cópia digital cedida gentilmente ao Canaltech pela Microsoft.