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Análise | Battle for the Grid é vazia comemoração dos 25 anos de Power Rangers

Por| 12 de Abril de 2019 às 11h59

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Análise | Battle for the Grid é vazia comemoração dos 25 anos de Power Rangers
Análise | Battle for the Grid é vazia comemoração dos 25 anos de Power Rangers

Em 2018, a saga Power Rangers fez 25 anos e, se você está hoje na casa dos 30 anos de idade, com certeza se lembra do apogeu do seriado em terras brasileiras. Tommy, Jason, Billy, Zack, Trini e Kimberly fizeram a alegria de crianças em todo o mundo, enquanto os personagens protetores da Terra passaram por diversas eras, com atores indo e voltando, mudanças de poderes, grandes retornos e até um crossover com as Tartarugas Ninja.

Desde então, foram dezenas de temporadas, três filmes nos cinemas (incluindo um reboot interessante em 2017) e uma legião de fãs. Afinal de contas, passamos das duas décadas e meia, um marco que também deveria ser comemorado no mundo dos games. Pelo menos essa era a intenção da desenvolvedora nWay e da distribuidora Lionsgate com Power Rangers: Battle for the Grid.

Ao criar seu próprio game de luta, a nWay decidiu que queria ser o mais acessível possível, lançando o título para todas as plataformas (no momento em que essa análise é escrita, resta apenas o PC, que também vai receber a sua) e, também, abrangendo o maior número possível de jogadores. A ideia era ser simples e divertido, ao mesmo tempo em que apresentava uma luta de qualidade.

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Para atingir esse ideal, a produtora aproveitou sua experiência no mundo mobile com o bem-sucedido Power Rangers: Legacy Wars, mas também pediu ajuda à comunidade profissional de jogos de luta, contando com a participação de nomes como Justin Wong e Daniel “Clockw0rk” Maniago. O resultado, entretanto, acaba pendendo bem mais para um lado do que para o outro, enquanto, na tentativa de ser accessível, Battle for the Grid acaba saindo como vazio.

A começar pelo elenco de personagens. No pacote de lançamento, são apenas nove lutadores que abrangem somente quatro eras do seriado. Skins ajudam a variar um pouco as coisas, incluindo artificialmente mais alguns protagonistas na tela de seleção, mas, rapidamente, dá para perceber que há pouco sendo ofertado aqui.

A coisa só fica pior quando se percebe que, em destaque e logo na tela inicial do game, está o anúncio da venda do pacote de primeira temporada do título, que deve adicionar mais personagens ao roster. A impressão negativa inicial pode ser desfeita quando se nota o preço do pacote-base, que juntamente com os DLCs, ultrapassam pouco a marca dos R$ 100. Tudo isso por, agora, 12 personagens e uma skin extra para o Ranger vermelho. Os três adicionais ainda não estão disponíveis, entretanto, e devem chegar em breve.

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E então entramos no game, para perceber, mais uma vez, um grande vazio de conteúdo. O modo Arcade tradicional, com pequenas historinhas e uma batalha final contra um chefe, inexiste. Ele é substituído por uma sequência aleatória de lutas contra personagens selecionados a esmo, aberta e encerrada por uma breve linha de diálogo do personagem principal selecionado.

Power Rangers: Battle for the Grid abraça o estilo consagrado por jogos como Marvel Vs. Capcom, nos quais as batalhas acontecem em equipes de três contra três. Ou seja, os nove protagonistas disponíveis no pacote base são suficientes para apenas três combates, mas o modo Arcade é composto por sete lutas. O resultado é uma repetição que chega a ser absurda.

Durante nosso tempo com o game, chegamos a enfrentar o mesmo personagem seis vezes em sete lutas, algo que transformou os combates, rapidamente, em um marasmo. A dificuldade crescente até representou certo desafio na medida em que avançávamos, mas combater o Ranger Verde tantas vezes seguidas fez com que ele rapidamente deixasse de ser uma ameaça, uma vez que entendemos como a IA do jogo trabalha. Nos cenários, também pouca variação para trazer um pouco de ar fresco às batalhas.

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O trabalho com o pequenino elenco de protagonistas, entretanto, é apurado. Cada um tem seu próprio estilo e conjunto de ataques, com armas e movimentos característicos de suas contrapartes da TV. Os Rangers Verde e Vermelho clássicos, por exemplo, têm as espadas como principal arma, enquanto a Rosa utiliza projéteis e é mais ágil que os lutadores de karatê originais.

Assim, cada jogador poderá encontrar uma boa combinação de trios para não apenas privilegiar o próprio estilo de combate, mas também atacar os dos oponentes. Há um balanceamento bem feito entre os lutadores e não dá para sentir que alguns são muito mais fortes que os outros, o que torna os combates online, outro dos destaques de Battle for the Grid, mais parelhos e justos. Isso quando eles funcionam, pois a conexão nem sempre é bem-sucedida, seja por problemas de matchmaking ou uma aparente ausência de jogadores.

Os golpes especiais também variam em termos de potência, estilo e tamanho do combo, indo de acordo com a mecânica de cada jogador. Não existem combinações de botões a serem feitas nem ataques que utilizem a famosa “meia lua soco”, com Power Rangers: Battle for the Grid, novamente, tomando inspiração em Marvel Vs. Capcom 3, neste caso, no modo mais casual do game de luta da Capcom.

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Por um lado, isso é bom, pois nós nos dedos não são necessários e desde crianças até jogadores casuais poderão mandar bem no título, enquanto os mais avançados também terão ferramentas à disposição. Por outro, o uso de poucos botões torna a coisa, novamente, um bocado repetitiva e transforma o button mashing em uma alternativa que possibilita a vitória, mas nocauteia a diversão.

Há qualidade, entretanto, nos gráficos, com movimentos ágeis dos personagens e um festival de luzes, cores e poderes que enche os olhos. Ver Zordon no fundo, em um dos cenários, dá um quentinho no coração e saudade do passado, enquanto os ataques usando Megazord e Dragonzord dão uma escala diferente aos combates e lembram outros crossovers de luta da Capcom, que também tinham oponentes gigantes aparecendo na tela.

Uma crítica específica, ainda, pode ser feita quanto à versão de Nintendo Switch, que não aceita o uso de Joy-Cons individuais no modo Versus. Em um game focado na acessibilidade, cujo único uso dos botões superiores é a troca de personagens (já que os especiais podem ser acessados por outras combinações), a exigência de mais de um controle depõe contra uma das características do console e demonstra falta de cuidado.

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Falta, aliás, é a palavra que mais define Power Rangers: Battle for the Grid. O jogo pode até ter sido feito com carinho, mas faltou inspiração e cuidado, com uma sensação de vazio evidenciada pelos créditos finais silenciosos, sem nenhuma das trilhas que consagraram a série de televisão. A jogatina simples ecoa aos tempos mobile da desenvolvedora nWay, da mesma forma que a falta de conteúdo e o foco nas compras além do pacote base, também, mas em um aspecto muito mais danoso.

Este é um game que poderia funcionar bem em uma proposta free-to-play ou menor, mas que acaba sucumbindo ao tentar ser mais do que isso e entregar a consistência indicada pelo envolvimento de grandes nomes do cenário competitivo. De título comemorativo, Power Rangers: Battle for the Grid acaba se saindo mais como um pedaço de bolo, daqueles mal cortados, pequenos e com uma parte do recheio faltando.

Power Rangers: Battle for the Grid está disponível para PlayStation 4, Switch e Xbox One; uma versão para PC está programada para sair ainda em 2019. No Canaltech, o jogo foi testado no Switch com cópia gentilmente cedida pela nWay.