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Análise | Pikuniku é um bizarro game sobre combater o capitalismo

Por| 28 de Fevereiro de 2019 às 09h29

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Wagner Wakka/Canaltech
Wagner Wakka/Canaltech

A Devolver Digital tem se mostrado uma empresa aberta a dar muita chance para quem quer publicar seus jogos, a depender de ideias malucas e propostas mais profundas. Esse é o caso de Minit, game que se passa todo em um minuto, ou Genital Jousting, que coloca personagens semelhantes a falos em um multiplayer. Outros ganham o olhar da publicadora pela profundidade, como acontece em Gris, jogo que traz um olhar cromático para o luto.

Assim, a Devolver Digital se posiciona com games que sempre têm um quê diferente por trás. Isso não é diferente com Pikuniku. A começar, a ideia foi desenvolvida por uma empresa que se apresenta como coletivo indie de desenvolvimento na França, chamado Sectordub.

Pikuniku é a história de um personagem simples, uma bola com pés chamada de Piku. Esta simpática bola tem duas habilidades muito especiais: a de se transformar em uma bola enrolando-se nas próprias pernas; bem como carregar uma força impressionante nas magras pernas. Basicamente, são estes dois movimentos que o jogador faz com Piku.

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Em uma estética que lembra um desenho de criança, com cores chapadas, pouca sombra e detalhes, o game se apresenta como algo raso. Veja bem, nada na jogabilidade nem na estética até aqui impressionam, dando um ar de game de browser para o título.

O ponto de virada está na história. Piku mora em uma vila distante de outras pessoas e é considerado um monstro por quem mora ali. Nesta pequena cidade há um grupo de criaturas que veneram um bondoso personagem, líder da Sunshine Inc. De tempos em tempos, esta pessoa, em sua nuvem de metal voadora, vai até a vila e premia todo mundo com muitas moedas, mas muitas mesmo. Para coroar sua aparição, ele ainda escolhe um sortudo que vai visitar a sua fábrica (que ninguém na vida sabe bem o que é).

Contudo, durante a jogatina, você vai percebendo que a vila está diminuindo; as árvores da floresta próxima também estão começando a ser cortadas pela corporação. “Mas isso não é problema, olha o tanto de dinheiro que chove”, dizem os personagens.

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Essa é uma crítica bem clara e, por vezes, até que rasa do que é o sistema capitalista e a propaganda contrária para a manutenção de produção. Aos poucos, o game cai tangenciando a batalha do personagem quase inerte aos acontecimentos em voga de uma trama contra esta grande empresa.

Um dos pontos mais geniais do texto é quando um dos residentes lembra que é bom quando a grande nuvem joga dinheiro, mas que todo mundo já está tão rico que ninguém mais se interessa por dinheiro.

A história é envolvente e leva o jogador a querer explorar mais sobre aquele mundo, suas ideias e entender como aquela companhia conseguiu tomar conta de toda a região.

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Só isso?

O que o game traz de interessante nos assuntos que aborda, falha em questões técnicas e avanço de gameplay. Com pouquíssima coisa a se fazer, é mais gostoso ver aquela história do que efetivamente jogar Pikuniku.

A mecânica agrada no começo, quando você se sente limitado pelas suas ações. Como a física é um ponto importante aqui, a impressão é de que, em algum momento, você terá puzzles complexos que precisam ser resolvidos com isso.

Por exemplo, ao chutar uma pedra, seu personagem também vai para trás, o que pode ser usado para alcançar lugares mais altos. Outra mecânica é a de gancho, que permite que você faça movimentos de pêndulo pela fase.

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Outra característica com potencial são os chapéus do seu personagem, cada um com uma função diferente. O lápis desenha quando necessário, o regador faz plantas crescerem, os óculos dão mais estilo quando necessário e por aí vai.

Apesar de cada um trazer uma pequena mudança e terem sua função durante o gameplay, não passam de elementos pontuais dentro dos puzzles. Por exemplo, é preciso pegar os óculos para se tornar mais “cool” e entrar em uma balada super secreta. Este item de mais nada serve dentro da trama depois. Isso acontece com vários objetos e acaba se tornando mais um empecilho de busca do que uma mecânica nova para o game que já é muito simples. Repare que se trocarmos estes óculos por uma chave, por exemplo, nada mudaria dentro da gameplay.

Pikuniko também explora muito em estilo de games. Nos puzzles que você precisa resolver na história, pode precisar encarar outros estilos de jogo. Como dentro da balada, em que ele vira um game de ritmo ao melhor estilo Dance Dance Revolution e similares.

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É válido perceber que Pinuniku vai longe em muitas mecânicas, mas não avança em nenhuma delas. Assim sendo, a maioria esmagadoras das soluções é simplesmente pular (com uma jogabilidade irritantemente imprecisa) e chutar tudo que está a sua frente.

Em um dos chefões, para ilustrar, você precisa chutar uma noz modificada com granada, criada pelos seus parceiros. Assim, basta que você pule na direção dela, quando lançada em sua direção, e simplesmente aperte o botão de chute. Não há necessidade de precisão, nem nada, somente chutar da forma que for mais conveniente.

Toda esta falta de polimento, cuidado e carinho com a jogabilidade dão a Pikuniku um ar de jogo muito menor do que ele é. Claro que se trata de um título de baixo orçamento, mas toda a gama de escolhas desde estética até o aproveitamento das habilidades e power ups poderia muito bem ter aparecido em um game para browser ou lançado em uma game jam. Veja bem, não que jogos feitos em eventos do tipo não possam ser bons, mas carregam a sina de serem feitos em um tempo muito apertado.

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Coop

A melhor parte de Pikuniku pode ser sua versão multiplayer. Aqui, dois jogadores dividem o controle ou em um minigame que envolve basquete com os pés ou mesmo para vencer nove desafios de puzzle, agora realmente interessantes.

Os dois controles precisam estar em acordo para que, juntos, possam organizar toda gama de opções, pegar o troféu pela fase e chegar ao final em um barco que os leva para o próximo nível.

Todas as ideias do game parecem estar aqui. Existe uma complexidade no apresentado que pode criar aquele ambiente família, de um jogo que é simples para uma criança, mas não chato suficiente para ser pedante a um adulto.

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Pelo contrário, pular para lá e para cá com a bolinha se mostra uma ação muito interessante quando você tem um bom propósito para isso.

Os nove níveis vão crescendo em dificuldade e habilidade, fazendo com que você tenha que quebrar um pouco a cabeça para chegar ao final. Mas nada que exija um “Xeroque Romes” na família.

Vale a pena?

Pikuniku pode ser uma pedida extremamente divertida. Indicadíssimo para quem quer jogar um multiplayer cooperativo em família. O que aperta na hora de indicar é o preço, especialmente no Nintendo Switch. Ele chega ao console da Nintendo por US$ 13, algo em torno de R$ 50, a depender da cotação. Já no Steam, ele sai por R$ 26,89.

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O problema é que, apesar de divertido, é um game muito, mas muito básico, tanto em jogabilidade quanto em estética. Se ele não fosse publicado pela Devolver Digital, provavelmente estaria no limbo de games desinteressantes da plataforma, já que não traz nada que salte aos olhos.

Dito isso, é um jogo que vale seus R$ 10 muito bem pagos, longe do que é cobrado principalmente no Switch.

É um game menor, com uma narrativa bastante interessante e divertido de jogar em multiplayer. Mas não vai além, apesar de mostrar que o estúdio tem potencial.

Pikuniku foi desenvolvido pela Sectorhub e lançado pela Devolved Digital em 24 de janeiro de 2019. No Canaltech, o jogo foi analisado com uma cópia de Switch cedida gentilmente pela Devolver Digital.