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Análise | Hitman Enhanced Collection mostra caminho da franquia até estado atual

Por| 08 de Fevereiro de 2019 às 12h17

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Análise | Hitman Enhanced Collection mostra caminho da franquia até estado atual
Análise | Hitman Enhanced Collection mostra caminho da franquia até estado atual

A IO Interactive tem uma saga de sucesso como poucas da indústria dos games. Normalmente, rusgas entre empresas acabam dando vantagem sempre para a maior delas, que permanecem com as marcas (e começam a lançar games, normalmente, abaixo do esperado pelos fãs), enquanto as desenvolvedoras originais seguem adiante com os ensinamentos e a tradição, mas galgando um novo caminho. Desta vez, entretanto, não foi assim.

Com o anúncio de que a Square Enix não apostaria mais na franquia Hitman, a produtora foi capaz de absorver os direitos de seu personagem mais famoso e, sendo assim, continuar a saga de assassinatos furtivos, ou nem tanto, do Agente 47. Mais liberdade e, principalmente, uma nova parceria de distribuição com a Warner nos trouxeram Hitman 2, do ano passado, já analisado (e elogiado) pelo Canaltech.

Eis que, nesse começo de ano, chega a surpresa: um relançamento de dois títulos que pavimentaram o caminho para esse reboot, em versão remasterizada, com visuais em altíssima resolução rodando a 60 quadros por segundo. Chega às nossas mãos a Hitman Enhanced Collection, com os dois últimos games da era “anterior” do Agente 47, agora disponíveis para PS4 e Xbox One. Uma escolha que caiu entre os fãs como, ao mesmo tempo, acertada e inusitada.

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Do pacote, fazem parte Hitman: Blood Money, de 2006, considerado por muitos como um dos melhores da franquia, e sua continuação de seis anos depois, Hitman: Absolution, que veio com ideias e abordagem bem diferentes. É neles, também, que reside a grande motivação por trás de muitos relançamentos assim: apresentar os clássicos a novos fãs e, ao mesmo tempo, resgatar as memórias dos veteranos.

Quem jogou os mais recentes títulos da franquia, por exemplo, vai encontrar uma cama mais confortável no primeiro jogo da coletânea. Hitman: Blood Money se assemelha muito aos games contemporâneos e sua ideia de playground livre para ação. Seguimos uma história contada em flashbacks, que retornam a diferentes assassinatos praticados pelo Agente 47 e que culminam em uma grande conspiração governamental, cujas raízes são a própria clonagem usada para criar o protagonista.

O clima de filme de espionagem permanece, é claro, mas aqui o jogador é muito mais livre para criar e agir. Colocado no que podemos chamar de um mundo semiaberto, ele pode usar qualquer ferramenta à sua disposição para atacar, se disfarçar, evitar testemunhas e guardas, além de, acima de tudo, matar seu alvo. Isso pode ser feito de forma furtiva ou violenta, discreta ou com aspectos cinematográficos, de acordo com o caminho escolhido e a capacidade de improvisação de cada um.

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Blood Money é, também, um título bastante difícil. Pistas e indicadores criam um caminho mais ou menos linear, desde que tudo corra bem, algo que, para um jogador novato, dificilmente acontece. E uma vez flagrado, é difícil fugir. Por mais que a jogabilidade abrace a possibilidade de transformar Agente 47 em uma espécie de Rambo, o sistema de progressão não incentiva essa abordagem, já que quanto maior o flagrante e o banho de sangue, maior será a tensão dos guardas e, consequentemente, a dificuldade das missões seguintes.

É aqui que vemos, por exemplo, algumas das tantas lições aprendidas ao longo da década passada pela IO Interactive. Ao mesmo tempo em que a cara de playground e a miríade de possibilidades agradaram aos fãs, o game de 2006 foi considerado difícil e pouco amigável para quem não sabe exatamente como agir e o que fazer, exatamente como o primeiro jogo da série rebootada.

Na sequência, Hitman: Absolution, a IO Interactive segue pelo caminho inverso e, também, mais controverso. A ideia do playground é deixada de lado em prol de um seguimento mais linear e maior foco na história. Logo de início, já somos confrontados com as origens e a antiga parceira de 47, Diana, para então recebermos a grande missão que permeia todo o título: proteger a jovem Victoria, que seria usada para criar uma nova geração de assassinos de alta periculosidade e habilidade.

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O título se tornou mais grandioso, mas, ao mesmo tempo, seus objetivos ficaram menores. Enquanto prossegue pela história e suas diferentes cenas de ação que chegam a contrastar com o tom mais soturno que normalmente é associado ao protagonista, Absolution opta por um progresso tela a tela, com alvos a serem assassinados, sim, mas também outros direcionamentos como invadir locais, sobreviver a um ataque, fugir de uma instalação. Seguir adiante, basicamente, é a ideia aqui.

Entra em ação também o recurso Instinct, aquele modo de visão que destaca objetos do cenário, revela inimigos e pontos de interesse. Em Hitman: Absolution, ele também facilita a vida dos jogadores ao revelar as rotas seguidas pelos inimigos, facilitando a percepção de padrões e tornando o progresso mais fácil. Com estratégias menores e mais elementos para criar, se tornar o assassino eficaz da história se tornou bem menos complexo.

É claro, a barra de Instinct é finita e a ideia é que, aos poucos, o usuário se livre dela. Mas não dá para negar que, no título de 2012, a produtora optou por uma via mais amigável para novatos, mesmo que isso tenha acabado alienando jogadores mais veteranos. Não houve um balanceamento no atendimento a esses dois públicos, algo que, para muitos fãs mais raivosos, foi a própria falência da franquia.

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Longe desse tipo de comentário, entretanto, o que transparece na remasterização é quanto os dois títulos são diferentes, apesar de soarem essencialmente iguais. Blood Money e Absolution são como dois lados da mesma moeda, os opostos que se atraem (ou nem tanto). Mas, acima de tudo, representam diferentes curvas de entrada e conhecimento, tanto para quem chegou agora, com os reboots, quanto para aqueles que, por algum motivo, preferiram iniciar sua jornada pelas remasterizações e não pelos títulos inéditos.

Para quem nunca jogou, Absolution pode ser o caminho a seguir antes da complexidade aplicada por Blood Money. Quem só jogou os reboots e se encantou pelo estilo da franquia Hitman, pode preferir começar pelo game mais antigo, que traz muitas das raízes presentes até hoje. Como dito, estamos falando de um dos melhores da série e, justamente por isso, não é à toa que ele iniciou muitos dos movimentos que estão presentes até agora.

No aspecto visual, a IO Interactive e a Warner entregam uma remasterização competente. Os dois títulos foram lançados para a geração passada de plataformas e, por si só, já eram bem bonitos, ganhando contornos ainda mais interessantes com a adição de gráficos em maior resolução, texturas incrementadas e um belo aumento na taxa de quadros por segundo.

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Além disso, existem melhorias nos sistemas de iluminação e sombra, mas de forma sutil, apenas para evidenciar os gráficos já interessantes do passado. Absolution é o que brilha mais nesse sentido, já que, desde sempre, focou no aspecto mais artístico e visual da coisa, justamente por sua abordagem mais focada. Desde que, claro, você ignore o já tradicional “blur” nas cenas de corte, tradicional em remasterizações que mexem apenas nos gráficos in game, deixando vídeos pré-renderizados totalmente de lado.

Ao mesmo tempo em que o trabalho visual é discreto, também não existem outras melhorias na Enhanced Collection. Os jogadores mais atenciosos poderão perceber certa precisão aprimorada, principalmente em Blood Money, mas no restante, bugs, problemas de movimentação entre os inimigos e, principalmente, a física meio esquisita retornam como no passado. Ver alvos saírem voando depois de receberem uma martelada nunca deixa de ser divertido, mas também é um flagrante problema no título.

É aqui também que entra a principal crítica dos fãs em relação ao relançamento. No momento em que esta análise é escrita, Hitman Enhanced Collection custa módicos R$ 183 na PSN brasileira, um valor de título completo e “novo”, digamos assim, por relançamentos igualmente disponíveis na rede, e mais baratos, caso o jogador ainda tenha os consoles do passado. Eventualmente, tais jogos entram em promoção ou se tornam gratuitos, o que faz o cliente se perguntar se o valor alto realmente vale uma mudança visual e nada mais do que isso.

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O valor dos dois jogos no histórico do Agente 47 é indiscutível e, para a IO Interactive, igualmente. O relançamento também representa um maior controle da desenvolvedora sobre seu próprio portfólio e a chance de entregar, em uma mesma geração, mais missões do protagonista para quem as desejar. As remasterizações podem ser encaradas até mesmo como uma fonte adicional de renda para uma empresa que, agora plenamente independente, enfrenta o maior desafio de sua história no mercado de games. Desde que, claro, os fãs usem a carteira, algo que uma parte da base já não se mostrou muito disposta a fazer.

Hitman Enhanced Collection está disponível para PlayStation 4 e Xbox One. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia digital gentilmente cedida pela Warner Games Brasil.