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Análise | God of War tem melhor versão de um Kratos preparado para nova geração

Por| 20 de Abril de 2018 às 10h19

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Análise | God of War tem melhor versão de um Kratos preparado para nova geração
Análise | God of War tem melhor versão de um Kratos preparado para nova geração

Kratos não é exatamente o personagem mais cheio de camadas do mundo. Debaixo da montanha de músculos, gritaria e pilha de corpos deixada para trás nos quatro games principais da franquia nascida no PS2, não estava exatamente alguém cheio de dilemas pessoais, cuja profundidade enquanto personagem cativava quem estava no controle. Muito da força de God of War, originalmente, estava no fato de a franquia ter feito algo como poucas outras.

Estávamos no controle de um herói com uma força descomunal, que fazia até mesmo a maior das criaturas se tornar nada mais do que um mero obstáculo a ser superado. Era uma visão épica como nunca havia sido antes, misturada com um ataque direto e violento a deuses que, julgávamos, eram entidades inalcançáveis. Mas, agora, podíamos não apenas lidar com eles, mas também arrancar suas cabeças.

Chega a ser curioso que, concluída a vingança e o derramamento de sangue, esse aspecto palpável e pessoal seja aplicado, agora, ao próprio Kratos. No novo God of War, temos não apenas uma franquia clássica retrabalhada para o futuro, mas também um novo cenário e uma mitologia diferente. O que salta aos olhos como maior triunfo do game é, justamente, a transformação do Deus da Guerra em um de nós.

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Para quem está acostumado a brandir correntes em chamas e dilacerar oponentes como se eles fossem de papel, chega a ser curioso ver que seu maior desafio, no final das contas, é lidar com os próprios sentimentos. Kratos, agora, é um pai de família que tenta deixar o passado para trás. Arrancar os membros de trolls? Tarefa fácil. Difícil mesmo é demonstrar carinho pelo filho em um momento complicado.

Uma nova era, em todos os aspectos

O novo título também começa com perda, mas não a mesma que motivou a franquia originalmente. Quando assumimos o controle de Kratos, estamos utilizando um machado para derrubar uma árvore, que será usada na cerimônia de cremação de Faye, sua esposa. Atreus, o filho, está junto dele, em um momento intimista como jamais havíamos tido com o protagonista.

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A cena inicial é simbólica por dois motivos. Ela, ao mesmo tempo, serve para nos mostrar que o bom e velho Kratos está de volta, com a força e a violência de sempre, mas, também, o que vemos é um personagem bem diferente, maculado pelos acontecimentos do passado. Ele aparentemente conseguiu recuperar sua vida, vivendo escondido e assumindo novos costumes e tradições como seus. Mas não é tão simples assim.

A melhor palavra para definir a nova iteração do personagem é retração. Algo o impede de ser o pai de família que Atreus gostaria, enquanto, simultaneamente, ele parece não desejar mais ser o combatente insano e destruidor do passado. Em busca de encontrar a si mesmo após tragédias e assassinatos, e sem um desejo de vingança para levá-lo adiante, ele parece mais perdido do que nunca.

Toda a experiência de God of War pode ser perfeitamente definida como um pêndulo que balança entre dois extremos. Temos de volta a jogabilidade ágil dos games originais, com cada porrada sendo marcada por sons pesados e uma impressionante fluidez nos movimentos que conectam cada golpe, esquiva ou defesa. É orgânico, incrivelmente coreografado e absolutamente impressionante.

Simultaneamente, existe a contemplação de um título cheio de detalhes, nuances e elementos. A complexidade não se aplica somente à personalidade do próprio Kratos, mas também a todos os aspectos de God of War. Todos os cenários possuem segredos escondidos, itens para coletar ou enigmas para serem resolvidos, em um aspecto que é a maior mudança em relação à jogabilidade linear e frenética dos títulos originais.

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O mais novo trabalho da Sony Santa Monica, sua obra-prima, afirmamos sem sombra de dúvida, é um título para ser jogado com calma. Ele é enorme, com os produtores estimando cerca de 20 horas para ser finalizado, um tempo que pode aumentar consideravelmente caso o jogador explore todas as suas possibilidades e aberturas. Acredite: cada canto esconde alguma coisa e todos esses segredos merecem ser descobertos e visualizados.

Isso sem falar no fato de que cada tela, efetivamente, é uma pintura. Nos cantos mais escuros e sombrios dos cenários, está um uso fenomenal de efeitos de iluminação. Nos cenários abertos, construções imponentes estão à distância enquanto a fauna, bem próxima dos pés de Kratos e Atreus, impressiona tanto quando as gigantescas estátuas dos deuses, cuja idolatria o personagem simplesmente não entende.

A performance gráfica não deixa nada a desejar, com a contagem de quadros por segundo se mantendo firme mesmo enquanto o sangue está jorrando e a tela está lotada de inimigos, com faíscas saindo da colisão de armas e escudos e projéteis voando por todos os lados enquanto Kratos demonstra que não esqueceu como é combater.

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Esse caráter é prova, também, da evolução das desenvolvedoras first-party da Sony com relação a seu próprio console. Mesmo no PlayStation 4 convencional, o resultado é de encher os olhos e, a cada dois passos, temos um verdadeiro quadro diante de nós. Se você achou Uncharted 4: A Thief’s End bonito, espere para ver o que os estúdios da empresa em Santa Monica fizeram quando uniram a experiência compartilhada dos desenvolvedores com o ambiente mítico e cheio de cores proporcionado pela mitologia nórdica.

Quem preferir, claro, pode seguir diretamente para o que realmente importa, seguindo a jornada de Kratos e seu filho até o topo de uma montanha, completando o ritual pós-morte da esposa e mãe. Fica difícil, porém, não se encantar e até mesmo ficar perdido com tanto para explorar e fazer a ponto de, às vezes, o caminho importar muito mais do que o próprio objetivo final.

Isso se reflete em uma perda de foco que pode soar incômoda. Em meio à busca por libertar espíritos de náufragos, localizar anões desaparecidos durante viagens ou derrubar estátuas a deuses que não se mostraram assim tão dignos de idolatria, o jogador pode acabar esquecendo o que veio fazer ali justamente pela riqueza deste mundo. Ao mesmo tempo, porém, esta é a melhor forma de saber mais sobre os personagens tão interessantes que os compõem, muitos recebendo um trabalho profundo que costuma ser deixado de lado quando o assunto são NPCs.

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Mudado, mas não pacífico

A visão de um Kratos retraído e perdido só dura até a primeira porrada com o martelo. Jogando God of War, o jogador vai perceber, mais rapidamente até mesmo do que o próprio protagonista, que é no campo de batalha onde ele está mais confortável. Se nas cutscenes o “Bom de Guerra” mostra dúvidas até mesmo na hora de colocar a mão no ombro do filho para confortá-lo, não existe nenhuma relutância em girar, saltar e atingir inimigos das formas mais violentas possíveis.

A fluidez na movimentação acompanha um conjunto repaginado de golpes. Uma das principais mudanças do novo God of War em relação à série original está na câmera, muito mais próxima do protagonista. Agora, ele também usa um machado, o que torna seu dano de área muito menor e, com isso, nos obriga a chegar mais perto dos inimigos para atacar.

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Isso também marca o fim do button mashing dos games originais. Não que God of War seja um game exatamente estratégico, mas apenas pressionar botões indiscriminadamente não vai resolver seus problemas, já que a mesma solução nem sempre funciona com todos os tipos de inimigos. Aqui, o título assume até mesmo os ares tão copiados da série Souls, em que entender a forma de combate dos oponentes e seu timing ofensivo é mais importante do que partir com tudo para cima deles.

A mesma abordagem também transparece nos menus, um brinde aos amantes do RPG, com diferentes classes de acessórios, armaduras e poderes a serem escolhidos. Quem explorar bem os cenários em busca de itens e recursos não terá problemas em realizar os upgrades necessários para seguir em frente, mas é preciso pensar bem antes de tomar qualquer decisão, levando em conta a experiência até aqui, uma previsão nem sempre correta sobre o que está por vir e também o próprio estilo de cada jogador.

Se você gosta de partir para cima dos inimigos, será que vale a pena investir nesse cabo de machado que garante maior chance de um dano crítico, mas reduz a defesa? Esta magia que espalha os inimigos e impede que Kratos seja cercado é a melhor opção, ou o ideal é investir em outro poder, um devastador lançamento da arma capaz de atingir oponentes na ida e na volta? São muitas opções para constituição de um personagem que, de um muro de concreto, se tornou como seu próprio equipamento – afiado e implacável, mas que precisa ser bem utilizado para se tornar eficaz.

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De início, porém, todo esse sistema de melhorias pode soar complicado – e não estamos falando das letras demasiadamente pequenas que aparecem na tela. São muitos menus, telas e atributos para serem levados em conta, alguns soando até redundantes, o que dificulta a compreensão efetiva do conjunto completo. Com exceção dos já citados golpes especiais, muitas vezes a sensação é de que os upgrades não fizeram muito a não ser mudar a aparência visual de armas e personagens, pois, na mesma medida em que Kratos e Atreus vão sendo melhorados, seus inimigos também se tornam muito mais poderosos.

Para compensar um pouco nesse aspecto, God of War apresenta as novidades em ondas. Não se surpreenda caso, após muitas horas de jogatina, seja apresentado a um novo aspecto de customização que não estava disponível até então. É a forma de a Sony Santa Monica permitir que os jogadores deem passos lentos, mas importantes nesse novo mundo, mesmo que ela não seja tão efetiva assim.

Totalmente em forma

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Em meio a novas mecânicas, ecos do passado e gráficos maravilhosos, quem acaba brilhando mais no novo God of War é o próprio Kratos. Antes, a série tinha seu combate visceral como grande destaque (e esse aspecto, como dito, não foi a lugar algum). Agora, porém, temos novas camadas que transformam o título em não apenas um reinício, mas também o pontapé inicial para algo completamente diferente.

São muitas hipérboles a serem usadas na hora de definir o novo exclusivo do PS4 e uma delas deve ser dedicada ao incrível cuidado da Sony Santa Monica não apenas com o herói, o mundo nórdico, a trama e os visuais, mas também com a própria base de fãs. Na época do anúncio do novo game, muitas críticas o circundaram, principalmente por conta da mudança de estilo, um caminho sem volta em uma geração que não se impressiona mais com bichos gigantes e violência, mas sim com games profundos e belos.

A localização brasileira merece grande destaque, com o trabalho de Ricardo Juarez, declarado fã da franquia, preservando as minúcias da personalidade de Kratos e abrilhantando o game para os falantes da língua local. Não importa o idioma que você jogue, porém, pois há algo aqui para todos, como é a característica de todo grande jogo. Mesmo quem nunca jogou os anteriores ou tem um conhecimento parcial da história será muito bem-vindo nesse novo mundo, não apenas pelo recomeço de em enredo, mas também por suas novas dinâmicas.

Aos fãs veteranos, mais do que um divisor de águas, o novo game é um presente. Jogar o novo God of War é como rever um grande amigo antigo, com o qual não conversávamos há anos. A mesma pessoa do passado permanece ali e não dá para dizer que ela está mudada, mas sim evoluída. As alterações na pegada da série soam como naturais e bem-vindas, mas sem alienar nem mesmo os mais puristas.

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Para alguém que havia chegado ao ápice de sua escalada de violência, chega a soar curioso enxergar que seu maior desafio até agora é ser um pai. Ao contrário do personagem do passado, Kratos exibe vulnerabilidades que vão além de um peito aberto sem armadura ou um erro no pressionamento de botões.

Há sangue correndo em suas veias e um coração batendo, por mais que ele seja cercado por uma barreira de pedras e cinzas de um passado trágico, impedindo qualquer coisa de penetrar efetivamente - literalmente, inclusive, já que os restos mortais de sua antiga mulher e filha ainda estão em seu corpo. Mas algo, em determinado momento, conseguiu invadir esse campo tão cercado. E é justamente essa a história que torna God of War não apenas um dos melhores games de 2018, mas também um dos títulos de maior qualidade da atual geração.

Seja bem-vindo de volta, Kratos. A gente não sabia que sentia tanto a sua falta e, principalmente, que ainda existia tanto à nossa frente para ser descoberto e, porque não, dilacerado.

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* God of War foi analisado no PlayStation 4 em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Sony.