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Análise | Distortions é um sonho inspirado e belo, mas inconstante

Por| 08 de Março de 2018 às 11h18

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Análise | Distortions é um sonho inspirado e belo, mas inconstante
Análise | Distortions é um sonho inspirado e belo, mas inconstante

Sonhos e devaneios são a palavra de ordem em Distortions. Na aventura, lançada em 1º de março exclusivamente para o PC, o jogador é levado por uma terra fantástica, habitada por monstros e perigos, mas também por memórias e sensações bem reais, embaladas por música e cor.

É, também, a culminação de nove anos de trabalho para a produtora. Vencedora de prêmios em festivais de games independentes e enaltecida como um dos grandes expoentes do desenvolvimento nacional de jogos, a Among Giants entrega agora seu primeiro trabalho autoral, fruto de suor, lágrimas e mudanças de vida para seu pequeno grupo de criadores. Muito disso transparece.

O que temos aqui é uma história incrivelmente pessoal. Estamos na pele de uma personagem chamada apenas de “A Menina”, que se encontra em um labirinto surreal de lembranças nem sempre positivas, ensejos vagamente conhecidos e mistérios que apenas ela parece ser capaz de desvendar. Tudo isso enquanto um monstro observa tudo, ao longe, e em cuja direção ela parece estar sendo atraída.

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Tudo em Distortions soa exatamente como o título indica. Nada é o que parece e as dinâmicas desse mundo mudam a todo momento, muitas vezes entre uma transição de tela e outra. Assim, a Among Giants viaja por um universo de estilos e influências, combinando diferentes formas de se jogar sem que essa salada pareça artificial.

Estamos observando tudo de uma perspectiva tridimensional, mas, vira e mexe, somos levados a uma perspectiva em primeira pessoa, que permite observar melhor os cenários e buscar itens. Em outros, momentos de perseguição com visão lateral ao melhor estilo Limbo são precedidos por uma mudança completa na visão, em que passamos a observar a Menina a partir dos olhos de um oponente.

E esses são apenas dois exemplos de diferentes abordagens dadas pela Among Giants à jogabilidade de Distortions. Estamos em um ambiente em que nada funciona da maneira convencional, então, navegando por influências que vão desde Shadow of the Colossus até Guitar Hero, a tentativa é de entregar um game que tenha variação, mas, ao mesmo tempo, uma estranha coerência.

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Uma das principais questões, porém, é que essa falta de constância acaba se refletindo de maneira negativa na jogabilidade. Na mesma medida em que é inspirado e recheado de um curioso potencial, Distortions também peca ao apresentar diversos bugs que vão tornar a imersão e entendimento deste mundo muito mais difícil.

A Among Giants tem trabalhado constantemente em atualizações e correções, mas, durante nosso tempo de análise, enfrentamos diversos travamentos e dificuldades, principalmente durante a jogabilidade tridimensional em que passamos a maior parte do tempo. Dá para perceber que elementos do cenário não carregam direito e, muitas vezes, podem impedir o acesso a um item chave para seguir em frente, com a única alternativa sendo reiniciar o jogo.

Estamos falando, entretanto, de um mundo bizarro, o que dificulta a diferenciação entre os bugs e aquilo que é, intencionalmente, meio estranho. Aquele item à distância, no meio do mar, sem nenhuma plataforma em volta, deveria realmente estar lá? E esse salto que nos faz travar na colisão com as superfícies deveria ser, na verdade, uma superfície estreita pela qual deveríamos passar? Só descobrimos a verdade tentando seguir em frente, muitas vezes, sem sucesso.

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Em certos momentos, a única alternativa para continuar avançando é retornar ao último ponto de salvamento e tentar de novo. A jogabilidade é um dos aspectos primordiais de qualquer jogo, e essa falha deve fazer com que a experiência com Distortions, apesar de suas diferentes qualidades, se torne desagradável para muita gente.

Todo poder à música

Um outro aspecto de Distortions, porém, pode ser definido simplesmente como encantador. Nos cenários estranhos do game, a única arma do jogador é um violino, e a música tem papel fundamental não apenas na resolução de enigmas e encontros com inimigos, mas também no enredo. É a partir dos sons que tudo segue adiante e é com ele que vamos encontrar as chaves desse mistério e descobrir as angústias e terrores que estão dentro da mente da protagonista.

A trilha sonora acompanha as mudanças de jogabilidade. Momentos mais densos e contemplativos acompanham áudio tranquilo e calmo, muitas vezes com uma única nota. Em outros, guitarras mais pesadas e um rock indie incitam o jogador a correr o mais rapidamente possível das ameaças que estão vindo logo atrás, ampliando a tensão, mas sem tornar o clima caótico demais. Durante todo o tempo, o que fica é uma sensação de plenitude misteriosa.

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No uso do instrumento, mais influências. Poderes podem ser ativados com a execução de músicas específicas no violino, seguindo uma sequência de cores e pressionamento de botões que aparecem na tela ao melhor estilo Guitar Hero. É por elas, por exemplo, que o usuário silencia o som de seus próprios passos para não chamar a atenção de criaturas ou cria barreiras para se proteger de ataques.

Em outras situações, as canções são capazes de alterar o próprio mundo. Partituras encontradas nas paredes de pedra abrem caminhos ou desvendam enigmas, exigindo uma boa dose de atenção do jogador. É preciso entender exatamente como as notas musicais funcionam para executá-las em ordem, no melhor estilo The Legend of Zelda: Ocarina of Time. Quem quiser, também pode se arriscar na execução de outras músicas a partir dessa interface, acessível durante praticamente todo o jogo.

Aqui, felizmente, poucos problemas. Quem utilizar controle deve perceber atraso na detecção dos botões pressionados em alguns momentos, mas, na maioria do tempo, o resultado não só é preciso, como também incrivelmente bonito. A música nos acompanha em todos os momentos, é a responsável por causar muitas das distorções do título, mas, ao mesmo tempo, parece ser o caminho para a própria redenção. 

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O resultado dessa mistura é um dos títulos nacionais mais vistosos e interessantes já lançados, mas que, como quase todo ambicioso projeto independente, sofre de falhas primordiais. As boas ideias relacionadas ao uso da música como arma, a trilha sonora muito bem casada com as cenas e, acima de tudo, os gráficos muito bonitos e arte acertada acabam sofrendo bastante com uma jogabilidade falha e cheia de problemas.

É aqui que está a barreira que deve impedir muita gente de aproveitar plenamente esse enredo. Há muito o que explorar e tocar em Distortions, com uma história que não é contada de maneira convencional e apresenta novidades a cada nova tela. Entretanto, seguir adiante nesse enredo acaba não sendo tarefa das melhores, em um aspecto que acaba depondo contra todo o conjunto.

* Distortions foi analisado no PC, em cópia digital cedida gentilmente ao Canaltech pela Among Giants.