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Análise | Em nova plataforma, Beyond: Two Souls mostra evolução da Quantic Dream

Por| 30 de Julho de 2019 às 11h09

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Análise | Em nova plataforma, Beyond: Two Souls mostra evolução da Quantic Dream
Análise | Em nova plataforma, Beyond: Two Souls mostra evolução da Quantic Dream

Logo na primeira hora de Beyond: Two Souls, o jogador é apresentado à protagonista, Jodie, em dois momentos distintos. Primeiro, em uma fase que serve também como tutorial, ela aparece ainda criança, aprendendo a lidar com seus poderes. Logo na sequência, ela surge adulta e em um chamativo vestido vermelho, que não parece pertencer a ela, enquanto utiliza seu dom em uma missão a serviço do governo, coletando dados confidenciais em uma embaixada.

Essa evolução é contada de forma segmentada ao longo dos capitulos do game e, quando unida, compõe uma história de sofrimento, perdas e deslocamento. Da mesma forma, quando mais de uma década de trabalho e desenvolvimento é condensada em relançamentos com apenas algumas semanas de separação, enxergamos também o caminho seguido pela produtora Quantic Dream ao longo de sua história e a evolução dos formatos narrativos e de interação pelos quais ela se tornou conhecida.

Da mesma maneira, em seu segundo relançamento de uma pomposa investida nos PCs, a empresa também mostra uma evolução técnica. Se Heavy Rain, conforme relatamos em análise aqui mesmo no Canaltech, tinha alguns problemas quanto à performance e jogabilidade, a nova edição de Beyond: Two Souls parece rodar como uma luva, e mesmo os jogadores sem um PC robusto, necessário para rodar os novos visuais em resolução 4K, conseguirão notar as diferenças dessa nova edição.

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Ela chega, também, com todo o conteúdo adicional liberado para o game após seu lançamento original, em 2013. Isso se traduz em modos extras e opções adicionais, além da possibilidade de jogar a história em ordem cronológica, sem as idas e vindas temporais dadas pelo enredo. Não que Beyond: Two Souls seja uma trama difícil de ser entendida ou complexa demais a esse ponto, mas, ainda assim, para quem é avesso a recortes, essa pode ser uma boa opção para uma segunda jogada.

É justamente nessa fragmentação, entretanto, que a atuação de Ellen Page se destaca. Dando vida à personagem principal, mesmo enquanto criança ou adolescente e pelos milagres da tecnologia, a atriz entrega um dos melhores trabalhos de sua carreira. Em alguns momentos, ela está confiante, em outros, despreocupada, mas em absolutamente todos aparece como um peixe fora d'água, alguém de quem sempre se espera muito, mas em cujo papel jamais se encaixou.

Essa dificuldade em se entender, mesmo sabendo mais do que o próprio jogador na esmagadora maioria do tempo, também se transforma no vetor de muitas das situações vistas no game. Jodie não necessariamente pediu pelos poderes que possui, mas eles são parte integrante dela, podendo ser utilizados em favor de contratantes, para salvar a própria vida ou, ainda, de maneira descontrolada. O jogador controla a personagem, mas assim como ela própria, é refém das circunstâncias trazidas pelo dom sobrenatural da garota.

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Essa ideia, para um título focado no enredo e nas escolhas que alteram a história, soa como, no mínimo, interessante. Como a maioria dos títulos que dão ênfase à história e colocam seu andamento nas mãos do jogador, Beyond: Two Souls também cai naquele abismo de prometer plenos poderes e grandes responsabilidades ao usuário, mas que, quando efetivamente manipulados, não entregam um resultado exatamente assim.

Aos amantes da sétima arte

Ao mesmo tempo em que acompanha a já citada evolução da protagonista, o usuário também está preso aos saltos temporais usados para contar a história e é levado adiante em momentos aparentemente desconectados e fora de seu alcance. Ao mesmo tempo, a ideia é que tudo está conectado e que as escolhas feitas no passado, presente e futuro importam mutuamente, enquanto o roteiro parece perdido em algum lugar no meio disso tudo.

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Durante a experiência, o jogador muitas vezes pode acabar tendo a sensação de que suas decisões não importam tanto assim, um fator que se torna mais brando ao final de cada capítulo, quando, em mais uma característica destes relançamentos, vemos as possíveis rotas que poderíamos ter seguido e o alinhamento de nossas decisões em relação a outros jogadores. As viradas de uma história emotiva impressionam, mas nem sempre é possível entender o que é fixo e o que é reflexo de nosso estilo de jogo.

Se em Heavy Rain a Quantic Dream já havia obscurecido as divisões entre filmes e games, Beyond: Two Souls dá mais um belo passo nesse sentido, para o bem e para o mal. Como dissemos, o game conta com Ellen Page no papel principal e tem Willem Dafoe em destaque a seu lado. Juntamente com a aparente noção de pouca mudança no enredo por causa de nossas ações, a sensação é de estarmos controlando um filme interativo e não necessariamente jogando.

Felizmente, para o lado do bem, a desenvolvedora aliviou a mão nas interações, tirando muitas das QTEs esquisitas de Heavy Rain. A versão PC não adiciona nem tira nesse sentido, mas logo no início de nossos testes ficamos felizes com a identificação imediata do controle de Xbox 360 conectado ao computador, que não conseguíamos fazer funcionar de jeito nenhum no jogo anterior. Como um lançamento original para PS3, esse é um título feito para ser aproveitado com um joystick, e, nesse sentido, tudo deu certo.

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Pressionamentos rápidos de botões se alternam, entretanto, com uma estranha decisão de usar carregamentos e analógicos para realizar a maioria das ações de Aiden. Enquanto em alguns momentos é preciso ser ágil para não morrer (percebendo, depois, que mesmo errando tudo, o desfecho ainda será parecido), em outros a ideia de mover alavancas para lá e para cá de forma a realizar ataques depõe contra a pressão e reduz o senso de urgência.

Com tudo isso, Beyond: Two Souls mantém, nos PCs, a sensação causada pelo original. Muitas vezes a vontade é de efetivamente assistir ao que está acontecendo, largando o controle no chão e desistindo de controlar Jodie e Aiden por esse universo. O tom emotivo e contemplativo de muitas das cenas ajuda a reforçar esse sentimento.

A diferença é que, agora, temos acesso a isso com visuais muito melhores, em uma verdadeira edição definitiva e, acima de tudo, um testamento de evolução. Em seu segundo game no PlayStation 3, a Quantic Dream ousava mais e tentava alçar voos mais altos na mesma medida em que ainda explorava os limites da tecnologia utilizada, da jogabilidade que se propunha a apresentar e da plataforma em que estava disponível.

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Com alguns destes limites não mais presentes, a Quantic Dream pode demonstrar ainda mais o vanguardismo de seu conjunto visual, com um game que aparece simplesmente belo e, mesmo sendo da geração passada, não deve em nada aos atuais. O próximo da lista é Detroit: Become Human, citado por muitos como o melhor jogo da história da empresa, que só tende a ganhar com gráficos mais bonitos.

Quando se joga todos os títulos da empresa em ordem de lançamento e em rápida sucessão, percebe-se claramente o caminho que a empresa segue tanto no meio quanto em sua própria estrutura. Enquanto seu ápice até agora retorna em breve, fica a curiosidade estrelada sobre o que será feito a seguir, agora que limites do passado ficaram para trás e contratos e hardwares não mais a prendem. Um espírito criativo que, agora com mais liberdade, pode se tornar indiscutivelmente brilhante.

Beyond: Two Souls foi testado em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Quantic Dream.