Publicidade

Governo dos EUA usou app de localização para rastrear cidadãos sem autorização

Por| 20 de Agosto de 2020 às 08h33

Link copiado!

Divulgação/Babel Street
Divulgação/Babel Street

Um contrato vazado entre o Serviço Secreto e uma empresa chamada Babel Street confirmou a venda de serviços de localização e rastreamento de usuários, a partir de seus smartphones, para o governo americano. O documento relata um negócio realizado ao longo de um ano, entre setembro de 2017 e setembro de 2018, com um valor que chegou a US$ 1,9 milhão relacionado ao uso da solução de localização para acompanhar cidadãos a partir de seus smartphones.

No centro da questão está uma solução chamada Locate X, que é desenvolvida pela Babel Street. O software vem sendo denunciado desde março por ter se tornado um acessório à vigilância ostensiva governamental, ainda que, oficialmente, seus responsáveis afirmem se tratar de uma plataforma legítima, que reúne dados de localização obtidos a partir de aplicativos populares de forma anônima, possibilitando, para os clientes, a entrega de publicidade direcionada não apenas por interesse, mas também de acordo com o local onde se encontram.

Na prática, porém, sua utilização acabou servindo para que agências governamentais rastreassem usuários, em uma denúncia que vem sendo feita desde março e que, agora, ganha novos contornos com o vazamento do contrato entre o Serviço Secreto e a Babel Street. A ideia é que esse acompanhamento aconteceria por meio de uma combinação de informações fornecidas pelo Locate X e outros dados obtidos pelo próprio governo, permitindo, por exemplo, o acompanhamento de suspeitos, cidadãos estrangeiros ou demais indivíduos, sem que mandados de quebra de sigilo tivessem que ser emitidos.

Continua após a publicidade

Basicamente, o Locate X funciona por meio da criação de uma cerca digital que pode abranger uma determinada região. O software é capaz de exibir os celulares conectados dentro daquela área e entrega o histórico de localização do aparelho ao longo dos últimos meses, permitindo, por exemplo, uma combinação de informações que quebra o anonimato dos dados exibidos e permite o rastreamento de indivíduos considerados “de interesse”.

O documento vazado pela Vice mostra um contrato em expansão ao longo deste ano de utilização, começando em US$ 35 mil e chegando à casa do US$ 1,9 milhão, indicando um uso cada vez maior da solução pelo Serviço Secreto americano. O papel cita a aquisição de licenças para uso do Locate X por diferentes usuários governamentais e cita, em seu escopo, o uso da tecnologia para “avaliação de situações e apoio a investigações de inteligência”, além da necessidade de treinamento e suporte técnico durante o uso.

Em março deste ano, as relações entre o governo dos EUA e a Babel Street já haviam sido denunciadas pelo site Protocol, que chegou, inclusive, a citar um acordo com o Serviço Secreto, comprovado agora pelo vazamento do contrato entre ambos. Além da agência, o departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras do país também estaria utilizando a solução para rastrear estrangeiros ou realizar verificações antes de autorizar a entrada de um indivíduo no país.

Continua após a publicidade

Em seu site oficial, a Babel Street se posiciona como uma empresa especializada em inteligência de mercado, centralizando dados obtidos de diferentes fontes, idiomas e regiões do mundo em uma única plataforma. Agências governamentais e de segurança são citadas como possíveis clientes das soluções de análise de informações, com foco na inovação e na tomada de decisão. O desenvolvimento de apps voltados especificamente para localização, porém, não é mencionado nas divulgações oficiais, apesar do uso de tais informações ser citado em descrições relacionadas às plataformas da companhia.

A utilização do Locate X pelas agências do governo americano, porém, não foi confirmado oficialmente. Quando procurados, o Serviço Secreto e a Babel Street não comentaram sobre a denúncia nem deram mais detalhes sobre o uso da solução de localização em suas operações. O mesmo também vale para outras agências do governo dos EUA.

Fonte: Vice, Protocol