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Orçamento da NASA para 2020 deve impedir construção de foguete mais poderoso

Por| 11 de Março de 2019 às 21h40

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Sculptor/Pond5
Sculptor/Pond5
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Em 2019, a NASA recebeu o maior orçamento do governo da última década. Com isso, os planos da agência quanto ao retorno da humanidade à Lua foram impulsionados, e a ideia é não somente construir uma estação espacial na órbita do nosso satélite natural (a Gateway), como tamém voltar presencialmente à Lua até 2028 e, desta vez, estabelecendo uma presença constante por lá. Contudo, o pedido de orçamento do presidente Donald Trump para o ano fiscal de 2020 pode fazer com que a construção do novo e poderoso foguete Space Launch System (SLS) traga uma versão menos poderosa do que o planejado inicialmente.

Para o ano fiscal de 2019, a agência espacial recebeu um orçamento de US$ 21,5 bilhões, com esse valor sendo reduzido para US$ 21 bi para o ano de 2020. Apesar disso, a NASA não está reclamando, e Jim Bridenstine, atual administrador da agência, disse ainda que a NASA tem "forte apoio bipartidário e ambas as câmaras do Congresso". De qualquer maneira, a solicitação da Casa Branca contém algumas mudanças relevantes que podem impactar de maneira significativa na maneira que a NASA levará de novo astronautas à Lua na próxima década.

O SLS será o novo foguete que a NASA usará para viagens à Lua, e a nova solicitação da Casa Branca cancela, efetivamente, o desenvolvimento da versão mais poderosa possível do foguete. Caso a atual proposta seja aprovada pelo Congresso, a NASA deverá construir uma versão menos potente do SLS, decisão que pode reforçar os argumentos dos críticos que entendem que o futuro é mesmo usar foguetes comerciais (como os da SpaceX, por exemplo), em vez de continuar construindo foguetes próprios.

O SLS já vem sendo desenvolvido há vários anos, juntamente com a nave Orion. Juntos, eles enviarão astronautas não somente à Lua, como para outros mundos do Sistema Solar, como Marte, por exemplo. A NASA planejava criar duas versões do foguete — as Block 1 e Block 1B —, sendo que a primeira seria a menos poderosa, capaz de levar 95 toneladas de carga para a órbita baixa da Terra, enquanto a segunda versão seria uma mais potente, com capacidade de transportar até 130 toneladas neste mesmo trajeto.

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Bridenstine vinha defendendo o desenvolvimento da versão mais poderosa do SLS, pois ela seria muito mais potente do que os foguetes comerciais disponíveis no momento, mas, com o orçamento de 2020 pré-definido, a NASA vai acabar se concentrando apenas na versão Block 1, garantindo que o foguete seja confiável e capaz de voar pelo menos uma vez por ano. No entanto, esta versão menos poderosa do foguete não é muito mais capaz do que os foguetes mais poderosos atualmente disponibilizados pelas empresas privadas — o Falcon Heavy, da SpaceX, é capaz de transportar 63,8 toneladas à órbita baixa da Terra, enquanto o New Glenn da Blue Origin, que deve ficar pronto nos próximos anos, será capaz de levar 45 toneladas na mesma região do espaço. Sendo assim, nenhum deles é mais poderoso do que a versão menos potente do SLS, mas não deixam muito a desejar, de qualquer forma.

O desenvolvimento do SLS vem sofrendo uma série de atrasos, com gastos acima do orçamento. Ele deveria já começar a voar em 2017, com o primeiro voo sendo adiado para 2020, mas nem mesmo essa nova data é garantida, com autoridades da NASA já dizendo que estão reavaliando a data do primeiro lançamento do novo foguete. Estima-se que o SLS custará cerca de US$ 1 bilhão por ano para operar após sua conclusão, o que significa que, se o foguete será usado uma vez por ano, cada lançamento terá esse custo astronômico, enquanto cada lançamento do Falcon Heavy custa cerca de US$ 90 milhões.

O SLS não deverá ser usado na construção da Gateway

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A estação espacial lunar da NASA funcionará como laboratório de pesquisas e também como pit stop para futuras viagens espaciais tripuladas, sendo aberta também a outras agências espaciais do mundo além da norte-americana. Chamada de Gateway, a estação funcionará de maneira semelhante à Estação Espacial Internacional, sendo construída por partes — um módulo de cada vez será lançado, com cada parte sendo acoplada uma à outra diretamente no espaço. A primeira parte da Gateway, contendo seus painéis solares, será lançada por um foguete comercial, mas até então ainda não se sabia se o restante também contaria com foguetes de empresas privadas, ou se o SLS faria essa função.

Agora, a administração da agência espacial esclarece que quer, sim, que a indústria espacial privada faça senão todo, grande parte desse trabalho. Afinal, o alto custo por lançamento do SLS acabaria encarecendo demais a construção da Gateway, o que, por sua vez, tornaria o processo muito mais demorado. Então, o SLS será mesmo usado apenas no transporte de pessoas ao espaço, contando com a nave Orion para tal.

Ainda, a missão Europa Clipper, prevista para acontecer nos próximos anos e estudar de pertinho esta lua de Júpiter que abriga um oceano abaixo de sua crosta congelada, deverá contar também com foguetes privados, não usando o SLS em seu lançamento. Em 2015, o Congresso havia determinado que o SLS seria usado nesta missão, mas o governo argumenta, hoje, que usar um foguete comercial nesta empreitada "economizaria mais de US$ 700 milhões, permitindo que várias novas atividades sejam financiadas pela agência".

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Missão WFIRST em apuros

Em planejamento desde o ano passado, a missão WFIRST prevê o lançamento de um telescópio espacial gigantesco capaz de procurar muito mais planetas fora do Sistema Solar, e também seria capaz de estudar a energia escura. O projeto visa obter a maior e mais profunda imagem do universo desde o telescópio Hubble, não somente aumentando nossos conhecimentos sobre outros sistemas planetários, como também intensificando a busca por vida em outros planetas.

O governo dos EUA pediu o cancelamento desta missão no ano passado, mas o Congresso acabou mantendo o projeto no orçamento de 2019. Contudo, a ideia é tirar a missão da gaveta de possibilidades no ano que vem, com o argumento de que a NASA precisa se concentrar, no momento, em completar o telescópio espacial James Webb, sucessor do Hubble cujo desenvolvimento também está atrasado e com gastos acima do orçamento inicial.

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De qualquer maneira, vale ressaltar que a proposta de orçamento para 2020 não significa que o valor de US$ 21 bi será mesmo o repassado para a agência espacial no ano que vem, com cerca de US$ 500 milhões a menos do que em 2019. Muita discussão ainda acontecerá no Congresso até que o valor definitivo para o ano fiscal de 2020 seja determinado, e vale lembrar que o Congresso conseguiu reverter vários cortes propostos anteriormente para a agência espacial.

Fonte: NASA, The Verge