Jatos solares são semelhantes a tinta em alto-falantes ligados; entenda
Por Daniele Cavalcante | Editado por Patricia Gnipper | 15 de Março de 2022 às 20h40
O comportamento de uma porção de tinta em um alto-falante ligado foi usado como analogia em um estudo para explicar os filamentos de plasma do Sol. O objetivo dos pesquisadores era demonstrar como o papel do campo magnético solar é semelhante ao das cadeias de polímeros em líquidos como tinta.
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Nosso Sol é coberto por plasma, uma matéria ultra-quente composta por partículas carregadas. Essas partículas, por sua vez, respondem aos campos magnéticos (já que elas possuem carga), por isso os cientistas imaginam que os jatos e pontiagudos que surgem na superfície solar sejam criados por esse magnetismo.
Entretanto, pesquisadores ainda não chegaram a um consenso. Por exemplo, um estudo recente sugeriu que o efeito desses filamentos em forma de arco é, na verdade, uma ilusão de ótica (embora não negue que os jatos realmente existam).
De acordo com aquele estudo, era esperado que os filamentos de plasma se espalhassem e criassem arcos mais finos e menos brilhantes. Mas o que as imagens do Sol mostram são filamentos que se projetam continuamente em formatos finos e brilhantes. Por isso os autores concluíram que estes arcos sejam simplesmente “dobras” em um grande “véu coronal”, e não resultado da interação com o campo magnético.
Já o novo estudo realizou uma série de experimentos e modelos de laboratório criando gotas de tinta sendo jogadas na superfície de um alto-falante enquanto a música toca. Quando o líquido é impulsionado pelas vibrações produzidas pelo áudio, em uma determinada frequência, ele se torna instável e começa a vibrar no ar.
Se o líquido for composto por longas cadeias de polímeros, como é o caso das tintas usadas, ele será disparado em jatos alongados. Essas cadeias moleculares mantêm os jatos de tinta estáveis — assim como o campo magnético ao redor do Sol pode manter os jatos de plasma.
Como explicou o físico Murthy O.V.S.N., da Universidade Azim Premji, na Índia, ele e sua equipe foram "estimulados pela semelhança visual entre as espículas solares e os jatos de tinta no alto-falante”. Assim, eles investigaram “o papel dos campos magnéticos no Sol usando simulações numéricas de última geração do plasma solar".
Mais interessante é a conclusão do estudo de que os jatos solares curtos e longos são formados pelo mesmo mecanismo. Há, entre os cientistas, um certo consenso de que cada uma dessas formas de filamentos é gerada por físicas distintas. Se o novo artigo estiver correto, ambos podem ser criados pelas mesmas forças de convecção e magnetismo no plasma.
A pesquisa foi publicada na Nature Physics.
Fonte: Nature Physics, PIB; via: ScienceAlert