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Por que o catálogo da Netflix não é global?

Por| 21 de Janeiro de 2016 às 12h10

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Por que o catálogo da Netflix não é global?
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A recente notícia de que a Netflix vai impedir o acesso ao serviço de streaming com VPN e proxies deixou muita gente revoltada. Esses eram métodos bem populares para acessar o catálogo da empresa em outros países, o que fazia com que a quantidade de filmes e séries disponíveis saltasse consideravelmente em relação à biblioteca brasileira. Contudo, o banimento fez com que algumas questões já antigas voltassem à tona.

Afinal, por que há esse tipo de bloqueio? Se estamos falando de uma única empresa e estamos pagando a mensalidade da mesma forma que um americano, por que não trazer uma lista de títulos unificada com todos os filmes para que esse problema desapareça e ninguém precise apelar para esses pequenos truques?

Bem, na teoria é uma ótima ideia e é bem provável que os próprios executivos da Netflix já pensaram sobre isso, mas é o tipo de coisa que esbarra em uma série de pequenas questões e que faz com que tenhamos esse acervo fragmentado por país. E a culpa, como você bem deve imaginar, é das empresas. Bem-vindo ao infame mundo do licenciamento.

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Em letras miúdas

Para nós, a entrada de um novo título no catálogo da Netflix é algo que parece muito simples, mas a verdade é bem diferente. Para que isso aconteça, é preciso uma série de negociações, infinitas burocracias e contratos bem específicos. E é nessa papelada que mora o problema.

Primeiramente, é preciso entender que a Netflix não é dona de nenhum dos conteúdos que ela oferece — nem mesmo de suas séries originais. Isso ajuda a explicar por que alguns títulos saem do catálogo depois de um tempo e por que outros ressurgem de repente. Esse período de disponibilidade está definido contratualmente e pode ser renovado caso o serviço de streaming deseje. Assim, se um programa tem um ótimo desempenho e atrai a atenção do público, a plataforma vai tentar mantê-lo em seu contrato. Caso contrário, é hora de dizer adeus.

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Mas a coisa fica mais complicada quando falamos em disponibilidade, já que esses contratos acabam sendo fragmentados por região e cada país vai ter elementos específicos para serem resolvidos. É muito fácil pensar que basta a Netflix sentar para conversar com o dono da Warner mundial para que todos os filmes e seriados da companhia sejam liberados. No entanto, a gente esquece que a divisão do estúdio em cada local vai definir com emissoras e outros serviços acordos diferentes que podem dificultar a exibição via streaming.

Assim, em nosso exemplo, se a Warner já possui um contrato com uma emissora brasileira de TV a cabo de exibir determinado filme com exclusividade naquele canal por um ano, a Netflix não vai poder oferecer aquela produção em seu catálogo nacional, por mais que ele esteja liberado nos Estados Unidos e Canadá. É por isso que é tão comum ver essa diferença em relação às bibliotecas de cada país.

E isso não isenta nem mesmo suas produções originais. É claro que suas séries e filmes conseguem estrear simultaneamente em todo mundo graças à facilidade de se livrar dessas complicações de licenciamento, mas ainda é possível acontecer. Uma prova disso é que empresa havia licenciado a exibição de House of Cards a um canal francês antes de sua entrada no país e, agora que ela começou a atuar na região, não pode oferecer os episódios de Frank Underwood, por mais que eles sejam, em teoria, seus.

Jogo de interesses

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Agora que ficou claro o porquê de existir essa diferença entre os conteúdos oferecidos, outra dúvida surge para nos tirar o sono: por que a Netflix se incomoda se usamos ou não um VPN? Durante muito tempo, acreditou-se que a empresa realmente fazia vista grossa à prática, com direito a fontes ligadas à companhia afirmando que, usando esses truques ou não, o usuário continuava assinando o serviço. Porém, algo mudou de repente. Por quê?

É aí que entra o jogo de interesses. Para as distribuidoras de conteúdo, não é nada interessante que o usuário saiba como driblar as limitações feitas pelo licenciamento, acessando o catálogo internacional da Netflix. Afinal, isso faria com que toda a negociação de licenciamento feito com o serviço de streaming fosse inútil, prejudicando as demais companhias participantes de toda essa negociação.

Vamos a mais um exemplo: se a Warner licencia uma produção com o Telecine, é natural que a emissora queira a exclusividade por um período para atrair assinantes e aumentar sua audiência. E a negligência da Netflix em relação a esses usuários que apelam ao VPN e mudança de proxy é um incômodo enorme nesse ponto, já que dá ao serviço de streaming uma enorme vantagem em relação a seus concorrentes locais. Afinal, ele está atraindo aquele público e ganhando dinheiro a partir de uma espécie de trapaça. Ele não pagou pelos direitos daquele produto e ainda está tirando um consumidor em potencial de quem realmente tem a licença. Em tese, é quase como uma espécie de pirataria.

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E esse cenário deve ter criado uma pressão enorme sobre a Netflix. Todas as demais empresas devem ter cobrado mudanças e uma política mais dura para impedir essa prática a fim de deixar o mercado mais justo para todos. E, como ela ainda depende das produtoras de conteúdo para aumentar seu acervo, acatou as reivindicações e baniu o VPN para não desgastar essas relações e evitar problemas que pudessem complicar eventuais contratos no futuro.

Isso sem falar que o recente anúncio de que a plataforma de streaming estará disponível em 130 novos países também ajudou nessa relação. Afinal, os usuários dessas regiões vão poder assinar legalmente o serviço e não vão mais depender do uso do VPN para acessar o catálogo de outro país. Assim, para a empresa, esse truque não é mais necessário para atrair essa clientela.

De onde o dinheiro vem

Como você bem pode imaginar, a receita da Netflix vem exatamente das assinaturas pagas por seus usuários. E a ideia é usar esse dinheiro para conseguir a licença de melhores programas, o que vai atrair mais assinantes e, portanto, mais dinheiro para conteúdo. Seguindo essa lógica, é fácil entender porque países em que a plataforma é um sucesso, como os Estados Unidos, possuem um catálogo tão mais abrangente do que o nosso.

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O problema é que os demais filmes e séries de maior sucesso e com mais potencial de atrair público são bem mais caros do que produções menores. É por conta disso que as emissoras e as próprias distribuidoras ficavam tão incomodadas com a facilidade que o serviço de streaming dava à sua biblioteca estrangeira. Para muitos, era uma situação até mesmo desleal de mercado, já que a Netflix estava competindo num cenário brasileiro a partir de condições americanas por causa desse "jeitinho".

É por isso que as obras originais se tornaram as queridinhas da companhia. Seriados como Narcos, House of Cards, Demolidor e Jessica Jones independem desses contratos (com algumas raras exceções) e muitos deles chegam já com um enorme apelo, o que ajuda a alavancar o número de assinaturas.

Fonte: CNET, Filmes Netflix