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Por que a chegada da sonda Juno a Júpiter é tão importante para a ciência?

Por| 05 de Julho de 2016 às 16h35

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NASA
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Na noite da última segunda-feira (04), a NASA conseguiu um feito e tanto: enviou uma nave com sucesso para Júpiter. Batizada em referência à deusa romana, a nave Juno entrou na órbita do planeta e deve dar início a uma nova leva de pesquisas e estudos relacionados ao maior habitante do nosso Sistema Solar, ajudando cientistas a entenderem alguns fenômenos que ainda geram muitas dúvidas.

E todo o burburinho causado pelo sucesso da missão não foi por acaso. A chegada de Juno a Júpiter era algo que os pesquisadores e engenheiros da agência espacial norte-americana esperavam há bastante tempo com muita apreensão. A construção da nave custo mais de US$ 1 bilhão e levou cinco anos para chegar ao seu destino. Assim, qualquer fracasso representaria não só um enorme atraso no projeto, como exigira uma nova quantidade absurda de dinheiro.

Porém, nada disso foi preciso. Depois de percorrer mais de 700 mil quilômetros desde que abandonou a Terra, em agosto de 2011, a sonda chegou ao seu destino e agora vai participar de uma missão bastante extenuante. Ao longo dos próximos meses, ela vai registrar uma infinidade de fotos do planeta e que vão ser usadas por cientistas da NASA para que eles possam entender um pouco mais sobre esse gigante vizinho de que sabemos tão pouco. Porém, por que Júpiter?

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Conhecendo nosso vizinho

Imagine que há uma mansão na sua rua. Ela é a maior casa do bairro, mas ninguém sabe nada sobre ela, já que a casa é rodeada por enormes muros que impedem que você tenha a menor ideia do que se esconde lá dentro. Pois esta mansão é Júpiter no bairro do Sistema Solar. Embora seja o maior planeta do sistema, pouco sabemos sobre ele além de seu tamanho. E é por isso que a chegada de Juno promete mudar isso.

Como a sonda agora passa a orbitar o grandalhão espacial, os cientistas vão poder ver um pouco mais de perto o que se esconde por debaixo de sua atmosfera. Sabemos que ele é um planeta gasoso e essa característica sempre intrigou pesquisadores, já que isso impedia observações mais detalhadas feitas à distância. Tanto que, até agora, não se sabe se Júpiter possui um núcleo sólido, por exemplo, e nem quais são esses gases que atrapalham nossos estudos.

Você deve estar se perguntando por que diabos isso é importante. Para a nossa vida prática, pular o muro e olhar o quintal de Júpiter é algo realmente bem inútil. Porém, para a ciência como um todo, conhecer o que se esconde sob essa enorme massa gasosa pode servir como uma pista sobre a criação de todo o universo. E é aí que está o interesse dos pesquisadores da NASA.

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Entender a composição da atmosfera jupiteriana é entender um pouco o processo do Big Bang. Acredita-se que ele foi o primeiro planeta a ser formado no Sistema Solar — o que justifica seu nome ser o mesmo do deus romano equivalente a Zeus, o primeiro olimpiano — e os gases podem trazer essa resposta. Se for comprovado que ele é formado majoritariamente de hélio e hidrogênio, os cientistas da agência espacial norte-americana confirmam essa primogenitura. Como esses gases são leves, eles tendem a se dispersar logo após a formação de uma estrela, confirmando a teoria Júpiter foi um dos primeiros habitantes do sistema.

Além disso, esse “pioneirismo” também ajuda a esclarecer sobre o que veio antes. Como explica um dos cientistas da NASA, Steve Levin, é preciso que entendamos as particularidades de Júpiter antes de procurar respostas sobre a formação do Sistema Solar como um todo. E isso influencia a Terra diretamente.

Outro pesquisador ligado à agência espacial, Jonathan Lunine, explica que o nosso planeta seria bem diferente caso não estivesse na mesma vizinhança de Júpiter. Para ele, a principal questão seria uma pobreza muito maior de água e moléculas orgânicas e, por consequência, a vida evoluiria de uma forma bem diferente. Por conta de sua massa, Júpiter possui um campo gravitacional enorme que atraiu esses elementos necessários para a vida para perto do Sol. Sem ele, essas moléculas seriam levadas para os confins do universo, nas bordas externas, onde dificilmente se desenvolveriam da mesma forma.

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Assim, o objetivo de Juno é entender um pouco mais sobre as origens de Júpiter com a ajuda dessas pequenas evidências. A partir de imagens e registros em vídeo, a sonda vai captar tudo aquilo que os cientistas possam considerar como útil para essa reconstrução do passado. A ideia é pegar esses indícios para ajudar a criar a trilha que nos leve ao início de tudo.

O fim de Juno

Como dito, a missão de Juno tem um prazo de validade. De acordo com a NASA, a nave vai orbitar em torno de Júpiter até meados de fevereiro do próximo ano, quando vai entrar na atmosfera do planeta e ser consumida pelo atrito antes mesmo de alcançar sua superfície. Em outras palavras, vai virar uma estrela cadente por lá.

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Porém, enquanto isso não acontece, os registros continuam a ser enviados para nós. E as primeiras imagens e vídeos já começaram a chegar e com resultados bem impressionantes. Entre o material que a nave já compartilhou, temos imagens das várias luas de Júpiter — ao todo, o gigante possui nada menos do que 67 satélites naturais atraídos por sua enorme força gravitacional, incluindo alguns bem conhecidos, como Europa e Io —, além de registros sonoros de sua magnetosfera. Parece estranho, mas é o barulho causado pelo choque entre esse campo magnético e os ventos solares.

E, enquanto esse fim programado não chega, pode ter certeza de que ainda vamos ouvir falar muito do maior planeta do Sistema Solar. Da mesma maneira como aconteceu com Plutão no ano passado, as notícias sobre as descobertas e conclusões da NASA serão divulgadas aos poucos e vão nos lembrar constantemente de que há coisas muito grandiosas e interessantes lá fora. Só que, mais importante do que admirar o que está entre as estrelas, é entender como essas presenças tão distantes podem explicar como nós estamos aqui. E a expectativa é que, com a ajuda de Juno, essas respostas não demorem a aparecer.