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Equipe da web série SÓQUENÃO comenta fake news sobre COVID-19: "Grande perigo"

Por| 18 de Janeiro de 2021 às 18h00

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As fake news presentes na internet trazem consequências e preocupam os especialistas, e quando isso envolve a área da saúde, tudo fica ainda mais sério. Como uma tentativa de desmentir algumas desinformações a respeito da vacina contra a COVID-19, a ONU se juntou com a Lupa, agência brasileira de fact-checking (ou checagem de fatos), para lançar a websérie humorística #SÓQUENÃO. A equipe do Canaltech conversou com o pessoal da ONU, da agência e do elenco da série para compreender as dimensões das fake news e a importância de combatê-las.

Só para você entender melhor: a web série está diretamente relacionada com a campanha PAUSE, ação global da ONU que combate a desinformação sobre a COVID-19. A ideia é que usuários de redes sociais façam uma pausa antes de compartilhar qualquer informação online, com as hashtags #PrometoPausar e #PenseAntesDeCompartilhar.

Na série, os humoristas trazem informações corretas sobre o vírus e derrubam mitos que circulam desde o início da pandemia como, por exemplo, a versão de que a máscara aumenta a taxa de dióxido de carbono e altera a flora oral. Os episódios são lançados semanalmente nas próprias redes sociais da ONU (Facebook, Instagram, Twitter, YouTube) e da Agência Lupa (Facebook, Instagram, Twitter, YouTube). A estreia ocorreu no mês passado, com quatro episódios. Confira o piloto, que é bem curtinho (menos de 4 minutos de duração):

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Em entrevista ao Canaltech, o ator Hamiltinho conta como foi a sua experiência fazendo a web série: "Poder dar vida ao #Sóquenão é maravilhoso demais, ainda mais nesse ano tão caótico. É incrível participar de um projeto onde a gente aborda assuntos tão necessários de uma maneira simples e bem humorada com uma equipe que está sempre aberta a ideias e joga junto o tempo todo. É fechar o ano com chave de ouro", afirma.

Na opinião do ator, o humor sempre foi uma arma poderosa para passar uma informação, fazendo o público entender ou compreender melhor algo, seja através de esquetes, jingles, peças, textos, charges, filmes, etc. "O humor gera identificação direta ou indiretamente e faz o público se aproximar do assunto abordado", reflete.

Dentre as fake news abordadas na websérie, Hamiltinho relembra que a mais bizarra foi uma que apontava que a vacina contra a COVID-19 seria capaz de modificar o código genético das pessoas, transformando em organismos geneticamente modificados. "Mas a minha bizarra preferida é o episódio da receita de um chá natural de jambu contra COVID-19! Eu ainda fiz um experimento científico para os espectadores e comprei uma conserva de flor de jambu para provar. Não vou dar spoiler! Assistam ao programa", aponta o ator.

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"Eu penso que muitos têm preguiça de checar os fatos e seguem pelo caminho mais fácil, seja ele receber um link compartilhado no grupo da família ou até mesmo por aquele post no Facebook que não faz sentido nenhum mas é apelativo. Com a internet, as pessoas têm acesso às informações com facilidade e numa velocidade incrível. Mas da mesma forma que temos rapidez, muitas vezes, temos preguiça de perder tempo checando se aquilo é real de fato", comenta o ator, ao ser questionado sobre a necessidade das pessoas de propagar desinformação.

Desinformação sobre COVID-19: coisa séria

E por falar em desinformação, conversamos com Kimberly Mann, diretora do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) e com Douglas Silveira, diretor de marketing e educação da agência Lupa, para entender os perigos que se escondem por trás das fake news relacionadas com a COVID-19 e principalmente com a vacina contra a doença em questão.

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Segundo Kimberly, a pandemia de COVID-19 não é somente a maior emergência global de saúde pública do século, é também uma crise de comunicação. "Esta crise não se deve à escassez de informação; pelo contrário, existe um excesso de informação. Porém, a ficção costuma circular muito mais rápido que os fatos, colocando em perigo a resposta da saúde pública e até a vida das pessoas", disserta. "Esses fornecedores de desinformação estão criando enredos e conteúdos astutos para preencher os vazios de respostas que a ciência ainda não consegue dar. Eles oferecem promessas de supostas curas sem benefício comprovado, e que podem até mesmo ser prejudiciais", acrescenta.

Para a diretora do UNIC Rio, as pessoas que compartilham a desinformação são habilidosas no uso de narrativas que se comunicam com os medos das pessoas, e apelam à necessidade das pessoas de ter respostas ou achar um culpado. Isso porque, na opinião da diretora, as pessoas estão sedentas por informações em que elas possam confiar, e frente a isso a ONU tem o papel de providenciar uma voz global para dar orientações e direcionamentos. Kimberly conta que o objetivo é fornecer às pessoas informações precisas e confiáveis, baseadas na ciência, para que elas possam compartilhar.

"O mais importante é compreender como a doença se espalha para proteger-se. Além disso, a disseminação da desinformação fomenta o ódio, prejudica as eleições, distorce a compreensão sobre questões como a crise climática, agrava conflitos, mina a confiança nas instituições e expõe crianças e pessoas vulneráveis a ideias ou pessoas perigosas", reflete a diretora. "Um outro grande perigo da desinformação é que ela tem deteriorado a confiança das pessoas em vacinas. Depois de todo o esforço global que foi feito para a criação de uma vacina segura e eficaz em tempo recorde, precisamos ajudar a fortalecer a confiança das pessoas no resultado desse trabalho maravilhoso desempenhado pela ciência", complementa.

Questionada do porquê de a ONU ter escolhido esse formato da websérie para promover a conscientização, a diretora do UNIC Rio explica que a websérie é uma forma de as pessoas se conectarem virtualmente, já que neste momento elas não podem fazê-lo pessoalmente. "É também uma maneira acessível para as pessoas acessarem notícias internacionais e entender como aquilo que acontece ao redor do mundo pode impactá-las localmente. É também uma maneira para levarmos especialistas ao redor do país para abordar questões importantes como saúde, meio ambiente, e direitos humanos. Nós convidamos pessoas no nível local para fazer parte da discussão e da solução, a partir da segurança de seus lares", diz Kimberly.

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Como combater a desinformação

Segundo Kimberly, o Secretário-Geral das Nações Unidas está trabalhando com a mídia, apoiadores de alto nível e parceiros da sociedade civil em todo o mundo para criar um movimento global que aumenta a conscientização e incentiva as pessoas a fazerem uma pausa antes de compartilhar. "Também estamos trabalhando com empresas e governos para analisar intervenções técnicas e regulatórias para resolver este problema. Convidamos todas a participar na campanha PAUSE". Ela também menciona que o site Verificado traz uma galeria de informações verificadas e transmitidas pelas Nações Unidas", conta.

Douglas conta que durante a pandemia a quantidade de desinformação, principalmente em relação à saúde, envolvendo questões ligadas à pandemia, cresceu bastante, motivo pelo qual várias empresas, instituições e até a própria mídia, tanto digital como a mídia tradicional, se mobilizaram para verificar informações e trazer conteúdo verificado para a população. "O que aconteceu também durante esse processo foi muita desinformação em relação à COVID-19, à pandemia, dita por instituições públicas brasileiras e também do mundo inteiro. O que dificultou muito o processo de trabalho no combate à pandemia por essas informações desencontradas", aponta o diretor de marketing e educação da agência Lupa.

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De acordo com Douglas, não existe uma lei específica para quem compartilha ou cria notícias falsas, mas o nosso sistema judiciário também é aplicado na internet, então, se difamar ou caluniar alguém, mesmo que seja nas redes sociais ou por meio da internet, é possível ser processado por isso. "No que tramita no Congresso em relação à criminalização de quem cria ou compartilha notícia falsa, a Lupa acredita e, também outras instituições e plataformas digitais, que esse não é o melhor meio para se combater a desinformação", afirma

Douglas menciona que a IFCN, International Fact-Checking Network, que certifica plataformas de checagem no mundo inteiro, tem estudado esses casos de desinformação do mundo, principalmente na Ásia, e identificou que todo país que tenta criminalizar quem produz ou quem compartilha notícias falsas não conseguiu vencer a desinformação, não conseguiu resultados satisfatórios nesse sentido. "A melhor arma para se combater a desinformação é por meio da colaboração e da educação. A gente acredita que a educação e a colaboração são as duas ferramentas e é por isso, é nesse viés, mais uma vez, que eu afirmo que essa parceria com a ONU veio ao encontro daquilo que a gente acredita. Então, se a gente fizer fazer parcerias com setores públicos, privados, escolas, empresas, ONGs, só vamos conseguir frear a desinformação quando todas essas instituições perceberem que precisamos trabalhar em conjunto — porque a desinformação está em todo lugar", disserta.

O diretor de marketing e educação da agência Lupa ressalta que a desinformação sempre existiu, e o que tem acontecido agora é um fenômeno de uma aceleração no compartilhamento na disseminação dessas informações por meio da velocidade das novas tecnologias. "Então, nesse sentido, o que a gente chama de um trabalho de educação midiática para a população como um todo se torna essencial nesse cenário que a gente vive hoje de guerra de narrativa, de polarização, de discurso de ódio, então cada vez mais a educação e a colaboração se tornam ferramentas importantes nesse combate mais do que a criminalização ou leis que criminalizam quem compartilha e quem produz notícias falsas porque a gente entende que o próprio sistema judiciário brasileiro já tem artifício suficiente para poder trabalhar punindo quem faz injúrias, quem faz difamação a respeito de alguém ou a respeito de alguma instituição", finaliza.